Às 4h40 de uma manhã de junho, início do verão japonês, o sol já nasceu entre as montanhas de Kusatsu, a cerca de 180 km de Tóquio. Num hotelzinho barato na província de Gunma, é possível contemplar os raios do sol alaranjado por entre as folhas das árvores e um quê diferente no ar. O odor é de enxofre, um dos elementos presentes nas águas que jorram das várias fontes termais da cidade.
Entre as pedras há uma pequena piscina a céu aberto. Fora, fazia 14°C; dentro, a água beirava os 40°C. Entro aos poucos, recosto o corpo nas pedras, com água quente até os ombros. Fecho os olhos e é como se estivesse envolvido em uma manta.
De repente entra um senhor japonês idoso e muito bem disposto. "Bom dia", diz, sentando-se lentamente ao meu lado. Conversa vai, conversa vem, ele me pergunta de onde eu sou. "Do Brasil", digo. O senhor então começa a lembrar do recente amistoso Brasil-Japão, diz que gosta muito de futebol e ficou feliz pelo fato de o Japão ter pedido apenas de 1 a 0. Estávamos nus.
"Hadaka-no-tsukiai" é uma expressão em japonês que define esses momentos. Quer dizer "amizade pelada". Significa uma relação honesta, sem coisas a serem escondidas. O termo vem justamente dos banhos coletivos nas águas termais, os onsens, que os japoneses historicamente compartilham assim, como vieram ao mundo.