Myrella Santos tinha apenas 5 anos quando viu seu pai quase morrer durante um assalto em Diadema, na região metropolitana de São Paulo. Abraçada à mãe, escutou, apavorada, os estampidos dos tiros, seguidos de um silêncio ensurdecedor, interrompido momentos depois por uma voz masculina: "Filha, o papai está vivo, os bandidos foram presos e os policiais vão cuidar disso. Vai ficar tudo bem. O papai sempre vai resolver as coisas. O papai sempre vai cuidar de você".
Sem a farda, o 2º tenente Edvan dos Santos Silva era tido como um homem carinhoso, um marido exemplar e um pai orgulhoso de três meninas e um menino. Andava sorrindo com as vitórias do Palmeiras. Ele sonhava desde criança em ser policial. "Dizia que, a cada vez que prendia um criminoso, era um a menos na rua para fazer mal a alguém", relata a viúva Márcia Gomes, 44.
Com o tempo, o oficial foi ficando cada vez mais traumatizado. Dois episódios marcaram a família. O primeiro, quando Silva prendeu um homem que matou o próprio irmão com uma machadada na cabeça; o segundo, quando prendeu em flagrante um criminoso que estuprava uma garota de 15 anos em um matagal. Perdeu incontáveis noites de sono. Às vezes, preferia dormir no sofá da sala, com a arma debaixo do corpo.
"Foi no dia 8 de maio deste ano, Dia das Mães. [silêncio] Eu estava limpando a cozinha. [silêncio] Meu filho estava no quarto, a minha filha na sala. E ele desceu para o quintal. [silêncio] E a gente escutou um tiro. Foi isso", relembra Márcia, com voz embargada.