Para quem vive na região da Praia do Futuro, em Fortaleza, o nome tem pinta de sarcasmo. Futuro assim, maiúsculo, não se vê. O mar, para alguns, nem sempre esteve para peixe. A pandemia acentuou ainda mais o já notável contraste entre ricos e pobres em um dos pontos turísticos da capital mais rica do Nordeste.
Ocupada ainda na década de 1940, a região abrigava casarões em loteamentos largos, debruçados de frente para a praia. O adensamento veio a partir dos anos 1980 com a verticalização: a classe média, que não queria estar longe de Aldeota e Meireles, os bairros mais prósperos da cidade, acabou povoando a Praia do Futuro. Junto com ela também foram atraídos trabalhadores do interior do Ceará e de outras regiões do país, buscando emprego na praia ou no asfalto. O entorno dos prédios foi sendo tomado de casebres e o abismo foi crescendo.
A área, que engloba nove bairros, convive com desigualdades e segregações. Em De Lourdes, vila com 3.370 habitantes, por exemplo, 3,5% dos moradores recebem mais de 30 salários mínimos (renda per capita), mas a maior parte dos 96,5% restantes vive em condição de miséria. A comunidade do Cajueiro, entre os bairros de Praia do Futuro 1 e 2, foi erguida sobre um antigo lixão.