O CPF na nota fiscal, a imagem nas câmeras de segurança, o bilhete eletrônico na catraca do metrô. Já não é mais possível fazer quase nada sem deixar um rastro de dados pessoais, fora sua geolocalização e seus hábitos de consumo.
Escolhemos abrir nossas vidas pessoais, com check-ins em locais de que gostamos ou marcando os amigos nas fotos da balada. "A privacidade está morta", sintetizou a futurista norte-americana Amy Webb sobre o jeito que vivemos hoje. Será que ela morreu mesmo, ou alguém quer nos convencer disso?
O que está morrendo, mesmo, é a lembrança de como é importante ter privacidade. Assim como a internet, parece que ela esteve aí desde sempre. Mas o conceito de privacidade é bastante recente: surgiu no século 18 como uma oposição a regimes opressivos. "O direito à privacidade foi conquistado a duras penas, e é fundamental para a garantia da democracia e da cidadania. Não ter privacidade é também não ter liberdade", afirma o professor de comunicação Luís Mauro Sá Martino, da Faculdade Cásper Líbero (SP).
Governos totalitários apostam na vigilância constante, pois quem se sente monitorado 24 horas por dia tenderia a comportar-se de maneira muito disciplinada, conforme o interesse da hierarquia vigente. Um dos mais clássicos formatos de controle nos estudos sociais, o edifício panóptico, propunha ambientes prisionais circulares, onde os encarcerados sentiriam-se monitorados o tempo todo pelo guarda que ficava dentro de um farol central.