Paris pega fogo há semanas com protestos contra a reforma da previdência promulgada pelo presidente francês, Emmanuel Macron. Manifestantes voltaram às ruas da capital e das principais cidades nesta terça-feira (6), desta vez para pressionar parlamentares que vão discutir um projeto de lei alternativo à reforma. Mundo afora, as imagens dos atos podem surpreender. Para os franceses, não é nada fora do comum.
A chique cidade de Bordeaux, por exemplo, viralizou no fim de março com um vídeo que ilustra bem um protesto à francesa: um casal compartilhava um vinho tinto na área externa de um restaurante, enquanto uma barricada era queimada a poucos passos deles — nas palavras do gerente à TV francesa: "A vida continua, é o paradoxo francês; é a revolução e você ainda vai bebericar uma taça de vinho na 'heure de l'apéritif'", o happy hour.
Entre bom humor e revolta, causas nobres e não tão nobres assim, os protestos franceses têm longa história. No Brasil, o imaginário é tão forte que uma página do Facebook se tornou um meme "hors concours" nesse quesito: "Sou fã dos franceses porque qualquer coisa eles vão lá e queimam carros".
Entretanto, para muitos franceses, protestar faz parte de uma cultura aprendida desde cedo.
Filha de sindicalista, a organizadora de eventos Céline Briens, 35, desde criança ia com a mãe a manifestações. Na adolescência, passou a frequentar protestos de movimentos estudantis. Céline critica atos de vandalismo, mas diz que o atual governo não tem levado a sério os protestos pacíficos.
Na Place de la Nation, onde membros da realeza foram guilhotinados durante a Revolução Francesa, ela aponta para uma pichação que diz: "Não existe paz sem violência". Neste ano, conta que viu vários manifestantes desfilando com guilhotinas nas ruas.
"É uma imagem forte, mas muito significativa", diz ela, que foi a três protestos contra a reforma. "Há uma história na França que faz com que a gente saiba que, quando o povo se une, consegue reverter as coisas."