A manhã é de sol às margens do rio Ribeira de Iguape, no sul do Estado de São Paulo. Sentamos à sombra com Benedito Alves da Silva, 62, o Ditão, liderança da comunidade quilombola Ivaporunduva. Por um momento, ele imagina como seria a vida se não tivesse a parte que lhe cabe neste latifúndio chamado Brasil.
“Não consigo viver numa cidade. Não estou preparado. Se tivesse de ir, viveria como aquele pessoal enrolado com coberta na calçada ou disputando lugar embaixo de um viaduto. Isso para mim não é vida. Vivo bem no quilombo. Aqui sou uma andorinha voando livre.”
A cerca de 700 km dali, Tacira Alves, 74, compartilha do mesmo sentimento. Ela respira uma tarde ensolarada na Ilha de Marambaia, no Rio de Janeiro. Não há ar condicionado nem ventilador no quilombo. Uma brisa vem do mar e balança a copa das árvores. “Nosso ventilador sempre foi esse. O vento”, diz com graça Tacira, em frente à casa de pau a pique a poucos metros do mar. “Aqui a gente se sente gente. É livre.”