Enquanto caminha pelo interior da Japan Tower, edifício de cores nipônicas no número 78 da rua Canuto do Val, em São Paulo, a empresária Lilian Gonçalves, 70, identifica desordens mínimas em seu reino de bares e restaurantes.
"Precisamos cobrir isso com tinta", disse a uma de suas parceiras de longa data, apontando para furos de parafuso à vista na parede de um dos andares superiores do edifício.
Pouco antes, ela havia pedido mudanças nas flores que decoram as mesas. Dois funcionários se questionavam onde exatamente ela queria que estivesse posicionado o dispensador de álcool em gel - um metro antes ou depois da porta de entrada?
Desde 2020, um agente microscópico vem desafiando a forma com que Lilian controla seu império do entretenimento, um dos mais famosos do centro de São Paulo, que incluía os bares Biroska e Coconut, famoso pelas salas de videokê.
O Sars-CoV-2, vírus causador da covid-19, acertou em cheio os negócios da filha do cantor Nelson Gonçalves. Com as restrições de circulação e aglomeração, suas casas, sinônimo de aglomeração em São Paulo, precisaram fechar. Biroska, Tudo Com Banana e Coconut, com capacidade para até 3,5 mil pessoas somadas, foram permanentemente desativadas, e os espaços alugados para um sacolão, que pretende ampliar sua oferta de frutas e legumes sobre as antigas salas de videokê.
Cerca de 300 pessoas foram demitidas. Outras tiveram suas rotinas de trabalho alteradas. "O que você tem na sua frente é uma empresária desesperada", disse a mineira na primeira conversa com o TAB, cobrindo o rosto com uma máscara de tecido brilhante, numa mesa do lado de fora da Japan Tower. "Tenho 51 anos nessa rua, de noite, e em nenhum momento passei por uma situação tão grave, com tantas dores, temores. O maior medo é não saber o que vai acontecer."