Mildredes, Luiz e Trajano fizeram uma aposta para ver qual deles seria o primeiro cliente da videolocadora que abriria na esquina. O ano era 1987.
Mildredes foi a cliente número 001 da Relax Vídeo Locadora porque tinha uma vantagem: morava bem em frente. Todos os dias, olhava pela janela para ver se já estava aberta — assim ganharia a corrida de Luiz e Trajano, os clientes números 002 e 003. "Quando chegava lançamento, os três ficavam de prontidão na porta", conta Paulo Bueno, 51, farmacêutico e herdeiro da carteirinha 001 de Mildredes,75, sua mãe.
Todo Natal, Bueno é lembrado de quando alugou um filme que horrorizou sua avó. "Estava todo mundo reunido em casa e me pediram para buscar um filme policial. Não lembro o nome do que eu peguei, mas tinha uma cena em que o policial pegava a esposa o traindo na cama. Minha avó ficou muito irritada e saiu da sala, achou um absurdo", conta, dando risada por trás da máscara. "Lembra do filme que você alugou para a vovó?" é a frase que ouve pela vizinhança, sempre que a história é recontada.
Na mesa do lado de fora do salão da Relax, hoje atendendo como Suprema Pizza Cine, Maria Amélia de Toledo, 59, e Vera Lúcia Pataquini, 58, as proprietárias, têm muitas outras lembranças. A primeira delas é a do começo de tudo. A história da videolocadora começou com uma ida das duas ao cinema para ver um filme do Mazzaropi, junto com o pai de Vera. O resultado da paixão familiar pelo cinema está nas prateleiras da loja, com mais de 2 mil títulos e um acervo de quase 5 mil, em DVD e Blu-Ray.
As fitas em VHS por ali já se foram.