Quem nunca viveu uma das situações abaixo que atire a primeira pedra — ou saia do aplicativo, bloqueie o (a) ex, delete a conta ou adote qualquer outra ação extrema comum aos tempos de hiperconexão que vivemos:
- você “fala” todos os dias com uma pessoa, mas apenas por mensagens de texto do celular. Não se lembra da última vez que se viram;
- você está em uma festa, com várias pessoas ao redor, mas em vez de dar “um rolezinho do flerte”, liga o aplicativo para ver quem está ali;
- você tem um trabalho legal, mas não dispensa entrevistas de emprego surgidas a partir do LinkedIn, mesmo já sabendo que vai recusar possíveis ofertas;
- você está em uma relação monogâmica e está tudo certo, mas acha divertido despertar crushes no direct do Instagram;
- aquele momento do dia em que você enxerga um recorte da sua realidade dentro do Instagram (ou reflexões se materializando em textões e likes);
- algum contato do aplicativo demorar para responder sua mensagem é a mais nova definição de pesadelo na sua vida.
Se há alguns anos era “cool” compartilhar fotos de placas de cafés e bares com o recado "aqui não tem wi-fi, conversem entre si", como se o inferno do vício digital fossem os outros, hoje já deu para notar que a hiperconexão tem capilaridade maior, e que isso tem a ver com a ideia de que não existe mais — se é que já existiu — um muro separando o que se convencionou chamar de real e virtual. O sociólogo espanhol Manuel Castells, um dos maiores teóricos contemporâneos da comunicação, diz que vivemos uma virtualidade real, uma cultura que altera nossas noções de espaço e tempo.
Nesse cenário, pesquisadores de comportamento apontam mudanças significativas no modo como lidamos com o desejo. Por que ser desejado, e alimentar isso diariamente — seja por meio de selfies ou opiniões, produzindo nosso "eu" — tornou-se uma necessidade tão central na nossa vida? O ego não é nenhuma novidade criada por uma startup, mas tem sido testado em novos contextos, roupagens e, principalmente, em outra intensidade.