Maria Cristina*, 18, moradora de Ipatinga (MG), quer passar no vestibular para Medicina. É o curso mais concorrido da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de seu Estado: para cada vaga há 73 interessados. Ela estuda dez horas por dia e, para aguentar o ritmo, toma uma cápsula de Venvanse 70 mg. O remédio é receitado pelo seu psiquiatra e indicado para transtorno de déficit de atenção.
A estudante consome uma caixa desse medicamento por mês. São 28 comprimidos a um custo de R$ 400. Ela toma um todas as manhãs. O efeito vai até tarde da noite. “Se não tomo, fico mais largada e avoada”, conta.
Maria Cristina foi diagnosticada ainda criança com TDAH, o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade. Seu psiquiatra lhe receitou a Ritalina, remédio mais popular usado no tratamento. Quando a época do vestibular se aproximou, a medicação mudou - o Venvanse é bem mais caro, mas é comumente relatado como mais eficaz em fóruns da internet.
Recentemente, Maria Cristina deixou o cursinho: “Você encara a concorrência frente à frente, e eu não acho isso saudável”, ela justifica. “Acho que meu eu sóbrio não aguentaria isso.”
Mas tomar remédios para estudar, seja necessário ou não, está longe de ser um fenômeno recente. Segundo Henrique Carneiro, professor da USP (Universidade de São Paulo) especializado na história de álcool e drogas, nos anos 1960 e 1970 era comum entre jovens o uso de prometazina, ou Preludin, uma anfetamina utilizada para aumentar a concentração e desempenho. Em Portugal, o fenômeno ganhou até um termo: “sabedoria das anfetaminas”.