Velar quem partiu é uma tradição ligada à religião, mas a importância de despedidas vai além de qualquer fé e traço cultural. Ritos funerários possuem um valor emocional valioso, porque marcam momentos em que uma comunidade se une para assimilar o fim de um ciclo.
A morte, cujos desdobramentos ganham caráter público e individualizado a partir da segunda metade do século 20, foi marcada por uma espécie de ausência presente em 2020. Todos foram atingidos. A suspensão dos ritos causada pela Covid-19 afetou e ainda afeta milhões de pessoas pelo mundo que não conseguiram velar seus mortos.
Em suas diretrizes oficiais, a OMS (Organização Mundial da Saúde) aconselhou evitar velórios e missas — quando houver, que sejam curtos, com número reduzido de pessoas, sem toques, abraços e aproximações. Na memória e na experiência compartilhada do luto, algo parece faltar.
Nos relatos ouvidos pela reportagem de TAB, o adeus em 2020 foi austero e carente do simbolismo convencional: sem poder tocar, beijar, olhar e acompanhar o enterro, permanece entre os enlutados a sensação de dúvida e a necessidade instintiva de criar novos rituais para encarar a morte e a ausência.