Após os primeiros bons resultados – 3º lugar na Copa de 1938 -, essa relação se aprofunda com uma frustração, a do vice-campeonato, no Brasil, da Copa de 1950. Nelson Rodrigues, quem melhor escreveu sobre a seleção como símbolo nacional - alguns de seus momentos mais inspirados estão espalhados por este TAB -, definiu aquela perda: “Em 50, houve mais que o revés de onze sujeitos, houve o fracasso do homem brasileiro”. Oito anos mais tarde, o escrete começou a traduzir nossas qualidades para o mundo. O bicampeonato mundial, em 1958 e 1962, foram símbolos de um Brasil grande no futebol, no desenvolvimentismo, no Cinema Novo, na Bossa Nova.
Já o tri, em 70, foi símbolo de outra coisa. “Em 1970, o regime militar queria transformar aquilo numa vitória do governo brasileiro, tanto que eu e outros companheiros que fomos cobrir a Copa no México decidimos, sem combinar, torcer contra o Brasil, por acreditar que poderia haver um entendimento errôneo do país com a vitória”, conta José Trajano. “Só que, a partir do primeiro gol do Brasil, foi tudo por água abaixo e acabamos varrendo para debaixo do tapete essa preocupação”, ri o jornalista. “O primeiro jogo do Brasil é contra a Tchecoslováquia (cujo espólio futebolístico foi herdado pela República Tcheca), da chamada órbita comunista. Eles abrem o placar, e o autor do gol, Petras, se ajoelha e faz o sinal da cruz. Que comunista é esse que não é ateu? Quando o Rivelino empata o jogo, ninguém segura, todo mundo já torcia para o Brasil”, lembra Juca Kfouri.
Parafraseando a letra escrita por Miguel Gustavo Werneck, de repente foi aquela corrente pra frente e parecia que todo o Brasil havia dado a mão. Se não todo, ao menos aquela parcela da população que, 18 meses depois do Ato Institucional número 5, ainda não havia sido cassada, exilada, presa, torturada ou assassinada pelo regime de exceção.