São 9h de uma terça-feira no Terminal Rodoviário Tietê. Lucas Mendes, 29, aguarda a chegada do amigo que lhe indicou um trabalho em São Paulo. Sem serviço no sul da Bahia, ele, que é trabalhador da construção civil, veio erguer as paredes de uma casa em Suzano. No dia em que o país registrou mais de 4 mil mortes por covid-19, Lucas está apreensivo.
"É difícil pensar que, ao voltar para casa com o alimento, posso estar levando algo que pode matar minha família. A gente vem porque tem filho, tem família, senão não vinha." Perto dali, um funcionário faz a sanitização do terminal, que tem fluxo mediano. Em março, a rodoviária registrou movimento 51% menor que o de março de 2020, quando a quarentena foi decretada.
A cena que se desenrola a poucos metros dali mostra o andar apressado de Fernando Peña Aguilar, 32. Venezuelano, ele tenta voltar para casa. É um trajeto longo que ele decidiu fazer por terra, devido às restrições de deslocamento, mas também por viajar acompanhado de uma cachorra que adotou no Uruguai. Tem rodado a América Latina com o animal dentro de uma caixa. Planeja conhecer a costa brasileira e pegar um ônibus em Manaus.
Em trânsito na rodoviária, cruzam-se histórias de família, buscas por trabalho e retornos à terra natal. No ar, pesa um clima de desânimo e cansaço que transparece nas conversas com a reportagem do TAB, marca das dificuldades dos últimos treze meses. Há quem se preocupe em ficar horas trancado em um ônibus com outros passageiros, e há quem relativize a gravidade da doença. Em comum, todos têm uma história de covid-19 entre pessoas próximas, e muitos já tiveram a doença. Ninguém escapa.