Faltavam poucos minutos para as 20h quando o burburinho na Blue Note, pomposa casa de shows da avenida Paulista, começou a cessar na noite de 15 de setembro. Circulando entre um público majoritariamente branco e de meia-idade, destacava-se a figura assombrosamente vigorosa de Tony Tornado, 93.
Antes de entrar no camarim, Tornado ia perguntando do que cada colega precisava. Tratava todos os homens por "don", um macete que aprendeu no México para não precisar decorar o nome de ninguém. "Tudo pronto, don?", dizia, enquanto apertava um dos músicos num meio abraço, meio aperto de mão.
Mais tarde, ficaria claro que o truque nada tem a ver com falta de memória. Tony detalha as passagens de uma vida de tirar o fôlego enumerando nomes, datas e fatos com uma habilidade de fazer inveja.
Outro homem imponente, na altura e no carisma, se preparava para subir ao palco: Lincoln Tornado, 38, o caçula dos quatro filhos de Tony que ganhou o sobrenome artístico do pai no cartório e tudo — e que, sob os holofotes, faz lembrar o Tornado que venceu a fase brasileira do 5º Festival Internacional da Canção, em 1970, com o hit "BR-3".