Aos 10, Isadora era uma garota como qualquer outra. Ou quase. Ela estudava perto da sua casa, em Cotia, na Grande São Paulo, em uma escola particular que seguia a pedagogia Waldorf, abordagem multidisciplinar de origem alemã. Cheia de energia, a menina fazia aulas de esportes e adorava o curso de teatro. Mas, às vezes, se sentia deslocada. Não conseguia se misturar com os colegas. Os meninos também não lhe davam atenção e, um pouco sem perceber e sem entender muito bem o motivo, ficava isolada durante a maior parte das aulas.
Aos 11, Theo estava prestes a entrar na puberdade quando sua mãe notou um comportamento diferente. Na passagem entre a 5ª e a 6ª série do ensino fundamental, ele começou a ganhar peso, vivia encapuzado e vestia moletons enormes. Tentava se esconder no cantinho do sofá da sala, de onde assistia a programas de TV, falava pouco e mantinha distância da lição de casa. Ir para a escola se tornava uma tortura cada vez maior para ele, que nem parecia o mesmo de tempos atrás.
Mais do que uma simples dificuldade de entrosamento com as outras crianças, havia outra questão. Theo e Isadora são a mesma pessoa. O isolamento entre os colegas de classe e a falta de informação sobre temas como orientação sexual e identidade de gênero fizeram com que ele sofresse de depressão e síndrome do pânico. No meio dessa crise, o desempenho escolar e de outras atividades de Theo acabaram prejudicados.
“Naquela época, parei de fazer praticamente todas as coisas que mais gostava: teatro, natação e os outros esportes. Eu não me entendia, não me aceitava e não me amava do jeito que eu era. Não conseguia me ‘encontrar’, não sabia quem eu era nem por que era diferente. Não sabia o nome disso. Só sabia que eu não era como as meninas. Chegou um ponto em que me perdi por completo. Não tinha esperança, só medo e confusão”, afirma.