Os turistas voltaram a ocupar as ruas e os canais de Veneza. O retorno é ruidoso: táxis e vaporetos (barcos usados para transporte público) têm filas de espera de uma hora, com cenas de vandalismo e degradação por toda parte. Há quem nade nas águas da lagoa e cozinhe macarrão em plena praça de São Marcos. Veneza, que por séculos seduziu o mundo com sua beleza, hoje é refém de si mesma.
Com a volta do turismo em massa, emergem velhos problemas econômicos e ambientais: êxodo urbano, falta de moradia e, ao mesmo tempo, explosão dos espaços residenciais em hospedaria do tipo Airbnb, falta de perspectiva de futuro para os jovens, o tráfego de lanchas, os problemas decorrentes das mudanças climáticas. O turismo envenenou Veneza e não há alternativa econômica a ele para salvar a cidade.
Para tentar conter o fluxo, a partir de janeiro de 2023 será obrigatório reservar entrada na cidade através de um aplicativo e pagar uma taxa de ingresso que vai de 3 a 10 euros (cerca de R$ 16 a R$ 55), a depender do fluxo de visitantes.
"É absurdo cobrarem para entrar na cidade. Os venezianos sempre nos exploram. Aqui é impossível tomar um café — são 4 euros. Ir ao banheiro custa 2 euros", dizia à reportagem do TAB o guia turístico Vitor, 50, enquanto segurava uma bandeirinha de Portugal, no meio da praça de São Marcos. Ele mora na Espanha, mas acompanhava um grupo de 90 portugueses em passeio pela Itália, dedicando apenas um dia a cada cidade. Veneza era a última etapa do breve périplo. Junto dele estava Carla, 43, que contava orgulhosa e sorridente que era ela a autora da façanha de reunir toda aquela gente. "Sou uma apaixonada por viagens", disse.
O grupo não entrou em museu algum, só passeou pelas vielas, mas para Carla "está bem assim". "Gosto de ter as imagens dos monumentos guardadas nas minhas lembranças, mas, sinceramente, não me interessa conhecer a história. A única história que me interessa é a do meu país", afirmou a portuguesa.
Pouco adiante, embaixo da coluna de San Todaro, o casal de brasileiros Killian, 36, e Ricardo, 41, passeava de mãos dadas, à espera do embarque em um cruzeiro para a Grécia. A dupla, que vive na Suíça, decidiu chegar um dia antes para visitar a cidade, mas sem nenhum passeio agendado. "Veneza já é um museu a céu aberto", afirmou ela.