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Um aqui, um ali e, quando percebemos, as trocas de mensagens via internet estavam pontuadas por emojis. Acostume-se: essa mudança na escrita veio para ficar
Texto Juliana Carpanez
Design Denise Saito
O jovem de 17 anos preso em Nova York pode até dizer que foi brincadeira. Mas a polícia não achou graça nas "ameaças terroristas" que, segundo a imprensa local, fizeram as autoridades temerem pela própria segurança. A mensagem aterrorizante, que intimidou a corporação, não foi falada, gritada ou escrita. Foi desenhada. Com emojis. No Facebook. A reação a uma sequência como foi uma batida na casa do rapaz, onde os policiais encontraram uma arma e drogas.
Se até um grupo de profissionais que tem permissão para carregar legalmente por aí revólver, cassetete e algemas leva os emojis a sério - e comprova que isso faz sentido -, talvez seja hora de você, bem-intencionado ou não, fazer o mesmo. Nem precisa ser um adolescente devoto da febre ou alguém metido a legalzão que tenta sair da "zona da amizade". Porque os emojis, assim como a polícia dos EUA, não estão de brincadeira. "Trata-se de uma transformação sem precedentes em 1.400 anos da língua inglesa. Com esses ícones, o alfabeto ganha caracteres a uma velocidade impressionante", explica Paul Payack, presidente do instituto Global Language Monitor, sobre o fenômeno de misturar ícones e letras.
Em 2014, essa organização, que faz uma análise anual das palavras de maior impacto no idioma mais usado no mundo, elegeu a "Palavra do Ano" - mesmo não se tratando, claro, de uma palavra. Payack justifica a ascensão dos ícones pela "junção perfeita" entre criatividade, tecnologia e internet. "Quem poderia ter previsto os emojis há 30 anos?" Nem precisa ir tão longe. Na década passada, se alguém falasse sobre texto descontraído na internet, você provavelmente pensaria no irritante miguxês.
Cada vez mais populares, esses ícones passam por um processo de análise antes de serem aprovados (ou não!) e invadirem seu bate-papo com os amigos.
Imagens: Liza Nelson
Se tanta gente adotou essa mania - a ponto de ocupar um posto que já foi de "Twitter" e "sustainable" (sustentável) -, é porque ficou fácil de aderir. Com grande chance de acerto, dá para deduzir três coisas que trouxeram os emojis para a vida coletiva do século 21: você usa um smartphone ; seu aparelho e muitos aplicativos nele instalados oferecem teclado de emoji ; você troca mensagens via celular com os amigos . Isso tudo colocou o sucesso dos ícones na boca do pênalti. Quando eles se mostraram úteis, fizeram o gol.
Os emojis ajudam na interação eletrônica semelhante à linguagem oral, reduzindo a ausência de outros recursos da conversa [como entonação].
Vera Menezes, professora de pós-graduação em estudos linguísticos da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais)
Eles também agradam os mais reservados - para que uma frase toda trabalhada na emoção, se a ideia já está pronta no teclado? E isso remete ao berço dos emojis, o Japão , onde aplicativos de sucesso respeitam quem não fica à vontade com as palavras - o popular Line promove suas figurinhas com o pé na porta: "fale menos, Line mais". Representantes da Fundação Japão lembram que os emojis surgiram em 1999, ainda na era do bipe, quando havia limite no número de caracteres. Um típico caso em que menos é mais.
Esses ícones digitais usam o mesmo princípio dos kanjis, símbolos não fonéticos usados na China e no Japão. Com a diferença de os emojis serem visualmente muito mais óbvios e a maioria deles ser facilmente compreendida por pessoas que não compartilham da mesma língua (ou há dúvidas sobre o significado de ?). Este é o momento em que os mais empolgados poderiam cogitar o surgimento de uma língua universal, uma versão digital do esperanto. Mas não, não é o caso.
O linguista Tyler Schnoebelen fez uma tese de doutorado na Universidade de Stanford sobre emoticons. A pedido da revista "Time", ele analisou como geralmente as pessoas usam os emojis.
O ícone aparece no final da frase.
Te amo
Quando no meio, fica entre frases completas.
Saí do trabalho.
Chego em 10.
Mais reforça do que substitui as palavras.
Já comeu?
Sequência de emojis segue ordem dos fatos.
A barra mostra a frequência de uso por minuto. Posicione o mouse sobre cada ícone para mais informações.
A barra mostra a frequência de uso por minuto. Clique sobre cada ícone para mais informações.
24º 137 por minuto
56º 71,5 por minuto
7º 364 por minuto
446º 1,29 por minuto
1º 1149 por minuto
103º 28,4 por minuto
106º 27,3 por minuto
355º 2,5 por minuto
495º 0,8 por minuto
445º 1,3 por minuto
119º 23,1 por minuto
17º 175 por minuto
44º 82,7 por minuto
194º 9,5 por minuto
340º 2,7 por minuto
43º 85,4 por minuto
97º 31,3 por minuto
53º 74,1 por minuto
409º 1,6 por minuto
397º 1,7 por minuto
128º 20,1 por minuto
19º 152 por minuto
192º 9,7 por minuto
126º 21,9 por minuto
317º 3,1 por minuto
78º 41,6 por minuto
9º 338 por minuto
394º 1,7 por minuto
2º 615 por minuto
211º 8,3 por minuto
342º 2,7 por minuto
120º 23,1 por minuto
48º 78,1 por minuto
156º 13,2 por minuto
151º 14,1 por minuto
277º 4,1 por minuto
178º 11,3 por minuto
265º 4,5 por minuto
159º 13 por minuto
*Dados coletados em janeiro de 2015 e sujeitos a alteração
Créditos: Matthew Rothenberg / Emojitracker
Há pouco sentido na sequência e, em situações como essa, fica clara a limitação dos ícones. É preciso um mínimo de contexto, ou uma ajudinha das palavras, para alguém entender que você sairá do escritório e passará em casa antes de ir ao cinema. A situação piora quando a mensagem envolve conceitos abstratos. Tente usar os ícones para representar "solidão", "honestidade", "interesse" e, em pouco tempo, você estará assim: .
Fred Benenson enfrentou essa dificuldade ao traduzir para emoji o livro "Moby Dick" - que virou "Emoji Dick", claro. O norte-americano não fez isso sozinho, mas com a ajuda de 800 pessoas que receberam US$ 0,05 (R$ 0,13) por frase. O projeto criado em 2009 arrecadou US$ 3.676 (R$ 9.840) no site de financiamento coletivo Kickstarter. Hoje o livro impresso em cores sai por US$ 200 (R$ 535). São 736 páginas e uma constatação: só dá para entender as sequências de emojis porque elas vêm acompanhadas do texto original em inglês.
Há ainda a questão da ambiguidade: , por exemplo, pode ser ofensivo em alguns países. Por isso, o Google debateu muito se deveria incluir essa imagem quando disponibilizou os emojis no seu serviço de e-mail, em 2007. Na época, o cocô já estava entre os favoritos do público japonês, o que lhe garantiu seu lugar no Gmail e a conquista do resto do mundo.
Uma organização chamada Unicode é responsável por analisar as propostas de novos emojis. Quando são aprovados, cada empresa de tecnologia desenha sua própria versão do ícone. Por isso a imagem que você envia pode não ser exatamente igual à que seu amigo recebe*.
Impressionado
Homem
Mulher com orelha de coelho
Pessoa dançando
Monte de cocô
*Os ícones podem variar de acordo com o aparelho ou a versão do sistema operacional
Uma organização chamada Unicode é responsável por analisar as propostas de novos emojis. Quando são aprovados, cada empresa de tecnologia desenha sua própria versão do ícone. Por isso a imagem que você envia pode não ser exatamente igual à que seu amigo recebe*.
*Os ícones podem variar de acordo com o aparelho ou a versão do sistema operacional
Ao avaliar o Twitter em entrevista para "O Globo", o escritor português José Saramago apontou uma tendência do monossílabo como forma de comunicação. "De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido." Talvez Saramago esteja errado: com os emojis, nem grunhido tem.
Não tenho mais tempo para 140 caracteres [do Twitter]. Se posso apenas enviar um emoji, isso é tudo o que eu preciso.
Tyler Oakley, celebridade de internet, com 6,4 milhões de seguidores no YouTube
Mas vale ter calma antes de decretar a falência da civilização - ao menos por causa dos emojis. Quem analisa a tendência não acredita que ela deixará a comunicação humana mais pobre . "Uma regra sobre a língua é que ela sempre muda - e essa mudança não nos deixa burros. Os emojis oferecem atalhos, mas não ficamos mais preguiçosos por isso. Brincar com a língua e tentar se comunicar é algo que deixa as relações vibrantes", afirma Tyler Schnoebelen, linguista e fundador da empresa Idibon, especializada em análise de textos digitais.
Assim, a nova linguagem deve simplesmente somar-se à escrita em algumas situações. "Cada forma de comunicação tem sua validade e complexidade, dependendo dos grupos sociais, do contexto e das necessidades", define Eugênio Trivinho, coordenador da pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP. Ele aponta dois usos muito diferentes para os emojis: agilizar uma conversa entre amigos ou servir de ferramenta para amenizar uma discussão profissional. Afinal, quem nunca?
Emojis não substituem a escrita tradicional. Eles ampliam as formas de comunicação em texto e refletem mais a maneira como falamos do que como escrevemos.
Mimi Ito, antropóloga da Universidade da Califórnia que estuda o uso da tecnologia no aprendizado
Se o uso dos emojis cresce, o mesmo acontece com a quantidade de ícones. As 172 opções criadas pela operadora japonesa Docomo no começo desta história devem chegar a 1.244 até o final do ano. A notícia boa é que, ainda em 2015, você poderá enviar um pombo da paz ou um homem levitando de terno sempre que preciso. A má é a dificuldade para encontrar a figurinha desejada em um teclado que só cresce.
Quem organiza o universo emoji é um consórcio chamado Unicode, responsável por padronizar os sistemas digitais de escrita. Eles recebem sugestões de novos ícones que, se aprovados, são utilizados por diversas empresas de tecnologia. Cada uma faz seu próprio desenho e vem daí a diferença visual entre os emojis que você vê no iPhone, no Android, no Windows Phone e no computador - ou às vezes nem vê, como é o caso do Instagram na versão web.
Para 2016, o consórcio estuda liberar bonequinhos com diferentes tons de pele. Ou você nunca reparou que não existem emojis negros? Em longo prazo, a aposta vai para versões com movimento, os stickers. Desde que chegaram ao Facebook, em 2013, a média diária de compartilhamento dessas imagens cresceu 75%.
Recentemente, o Facebook juntou-se à Universidade de Berkeley para criar um pacote de stickers chamado "Carinhas". As ilustrações ficaram com Matt Jones, desenhista com passagem pelo estúdio Pixar, e foram baseadas em expressões descritas por ninguém menos que o naturalista Charles Darwin no livro "A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais". Ao que parece, não é só a polícia de Nova York que leva os emojis a sério.
Editora de Tecnologia do UOL. Adorou escrever sua 1ª reportagem (de muitas?) que mistura texto e emoji.
tabuol@uol.com.brSuando Frio
Muito calor
Chorar de rir
1 de 10
Brincadeira!
Que delícia!
Mordeu a língua!
2 de 10
Não gostei
Sono
Inexpressivo
3 de 10
E daí?
Balcão de informação
Garçonete
4 de 10
Você me deixa louca
Bailarina
OK
5 de 10
Celebração
Reza
Empurrar
6 de 10
Pedestre
Homem
Amigo
7 de 10
Escritório
Loja de departamento
Cidade
8 de 10
Laranja
Maçã
Tangerina
9 de 10
Atento
Curvando-se muito
Chocado
10 de 10
Esta reportagem também contou com apoio de:
Agradecimentos: Cusco Rebel, Matthew Rothenberg e Liza Nelson
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