Ele trocou a noite pelo dia. Ia dormir ao amanhecer. Acordava às três da tarde. A janela seguia fechada. Assim evitava os familiares e a escola. A luz do sol nunca refletia na tela do computador. P., 15 anos, chegou a jogar 45 horas sem parar. A comida era deixada pela mãe numa bandeja na porta do quarto. Suas excreções corporais paravam em fraldas e lenços umedecidos que eram arremessados pela janela. Tudo para não deixar na mão seus companheiros no game Counter Strike.
R., 13 anos, colocou as duas pernas para fora da janela do oitavo andar. O pai o agarrou para evitar que ele se jogasse. Um minuto antes, o pai tinha jogado o monitor de R. contra a parede, irritado pelo filho ficar no game o dia todo.
A., 18 anos, sofreu bullying na escola e na faculdade. A família era instável. E ele escolheu ficar em seu cativeiro all-inclusive. Lá, ele se vê respeitado pelos companheiros de jogos online. “Eu me sinto bem. Sinto que sou bom.”
A vida de S., 19 anos, já estava definida pela família: iria herdar a profissão e a empresa. Além disso, teria de cuidar dos pais já idosos. Mas o jovem, primogênito de uma família de origem japonesa de São Paulo, preferiu se trancar no quarto e largar a faculdade. “Que futuro eu estou vendo? Nenhum.” Diante de uma existência programada e sem graça, melhor deixar ela passar.