Sem medo de Cair

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Chegou a hora de abraçar o seu fracasso. É comum resistir, mas essa postura é ineficaz contra as derrotas na vida. Se não dá para evitar, confie: o melhor é aprender a lidar.

Texto Juliana Carpanez
Design Mariana Romani
Fotografia Reinaldo Canato

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Em fevereiro, o cientista da computação Ethan Czahor, 31, conseguiu o emprego de seus sonhos. Foi contratado como diretor de tecnologia para a campanha do republicano Jeb Bush à presidência dos EUA em 2016. Logo em seguida, veio à tona uma série de tuítes sexistas postados por Ethan - segundo ele, referentes à época em que fez um curso de comédia de improviso. O então diretor apagou o conteúdo, mas de nada adiantou: duas semanas após a contratação, estava fora do cargo. Passado o baque, Ethan voltou ao noticiário como criador do aplicativo Clear, que aponta aos usuários quais posts podem comprometê-los.

Ethan diz considerar essa nova ferramenta um sucesso. Não que já tenha lhe rendido dinheiro, mas sim por alertar sobre os cuidados com as postagens. "Quando as reportagens sobre meus tuítes começaram a sair, tive quase certeza que meu emprego já era", afirma. Ao fazer o balanço da situação, diz ter perdido a chance de causar um impacto positivo nas próximas eleições presidenciais. Mas bola para frente. "Percebi que poderia tentar algo novo", contou ao TAB, indicando como surgiu o aplicativo.

A forma como o profissional encarou o quadro é exceção. Ainda existe resistência em admitirmos nossos próprios fracassos, aquelas situações desconfortáveis seguidas da negação, do arrependimento ou da mistura amarga entre esses dois. Foi melhor para Ethan criar uma continuação positiva para essa história ("tuitei, fui demitido, criei um aplicativo") do que terminá-la em seu ponto mais baixo ("fiz besteira, perdi o emprego da minha vida"). E também pode ser melhor para você, caso pare de fingir que não está em casa sempre que o fracasso bater à porta.

As fotos deste TAB foram feitas no Circo dos Sonhos

Aceita que dói menos

A gente entende, não é nada fácil. Mas a ideia aqui não é enrolar-se na bandeira do otimismo e sim entender que a derrota não representa o fim, a conclusão. Sarah Lewis, autora de "O Poder do Fracasso", explica por que evitamos essa palavra: fracasso é um conceito estático e, quando nos dispomos a abordá-lo, damos outros nomes aos acontecimentos, como aprendizado ou reinvenção. Se na teoria isso funciona de boa, por que na prática é tão difícil lidar com os tropeços?

Tratar o assunto com naturalidade requer uma mudança na forma de pensar - como hoje fazem algumas poucas empresas moderninhas e também os entrevistados deste TAB, que não se importam em compartilhar seus tombos. É gente que encara os obstáculos como uma maneira de mudar, de repensar, de fazer diferente. No Cirque du Soleil, o erro faz parte da filosofia. O diretor de criação Welby Altidor afirma que o fracasso está profundamente ligado ao aprendizado e relata que, no espetáculo sobre Michael Jackson, a equipe precisou fazer diversos ajustes até chegar aonde queria. "Estávamos fracassando, não estávamos conseguindo", lembra.

Não se trata de celebrar a derrota, porque obviamente ninguém gosta de errar. Mas ajuda muito se entendermos que o fracasso é muitas vezes inevitável e, cedo ou tarde, será conjugado por eu, tu, ele e todo o resto. Quando isso acontecer, aceita que dói menos.

O segredo do fracasso Por Murilo Gun

A escola do erro

Por padrão, aprendemos que devemos evitar variações do "volte três casas", que é bacana ser o campeão e/ou o protagonista da história de êxito. Estudo realizado na França, em 2012, indica que os alunos se saem muito melhor quando não têm medo de errar. Outra pesquisa, esta de 2014, aponta que o receio de falhar adquirido na infância afeta negativamente o aprendizado dos estudantes por toda (to-da) sua vida estudantil. Esse mesmo medo que pode nos impedir de fracassar também nos distancia do sucesso. E aí não tem graça.

Quando o administrador de empresas Murilo Gun, 32, ganhou um computador do pai, aos 12 anos, a apreensão ficou fora do pacote. Se o pior acontecesse e a máquina pegasse algum vírus (!), seria levada à assistência técnica. Sem drama, sem bronca, sem castigo. Criou então seu site (com fotos escaneadas da "Playboy") e ganhou por dois anos o prêmio iBest, uma espécie de Oscar da web brasileira à época. Aos 14, deu entrevista para Jô Soares. Aos 17, sua empresa de internet recebeu um aporte de R$ 1 milhão (R$ 3 milhões no valor corrigido). Tudo isso, segundo ele, porque lhe foi permitido errar. Hoje humorista e palestrante, Murilo colhe os frutos dessa forma leve de encarar os problemas: com a palestra "O Segredo do Fracasso", conta ao público o que aprendeu com seus muitos tropeços.

A empresária norte-americana Sara Blakely, 44, teve uma educação parecida: durante o jantar, seu pai sempre perguntava no que ela e o irmão haviam falhado. A reação paterna não incluía bronca ou lição de moral, mas sim um "high-five" (cumprimento). "Para mim, falhar é não tentar", afirma. Ela tentou, fracassou algumas vezes e hoje o saldo da história é positivo. Literalmente. Criadora da loja de roupas íntimas Spanx, sua fortuna está avaliada em US$ 1,1 bilhão e ela aparece na lista da "Forbes" entre as cem mulheres mais poderosas do mundo. "High-five", Sara.

Para Tatiana Iwai, professora de graduação em administração do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), a capacidade de admitir erros e lidar positivamente com eles incentiva uma cultura de aprendizado e inovação - conceitos que Murilo e Sara colocaram em prática. "Medo de errar gera menor disposição a assumir riscos e isso não é necessariamente saudável", explica Tatiana.

SIM

Você diria que tudo que faz é um sucesso?

NÃO
FAZER NOVAMENTE

Respeitável público

Parece fácil encarar riscos nos exemplos acima, quando o único prejudicado pode ser você mesmo ou seu computador infectado. São casos em que o fracasso não envolve a falência da empresa, a dissolução da família ou até uma goleada inesquecível - alguém falou em 7 a 1? A respeito disso, a psicóloga Regina Brandão, que atendeu na Copa os jogadores da seleção, disse ao UOL Esporte que Luiz Felipe Scolari dificilmente vai superar em definitivo o trauma. Mas elogiou sua atitude de assumir o comando do Grêmio logo após o Mundial, sem fugir ou se esconder: "Isso ajuda na recuperação", afirma. O treinador também não foi feliz no seu retorno a Porto Alegre - acabou demitido do clube antes do início do Campeonato Brasileiro. Hoje, está no futebol da China. Ele tenta seguir em frente.

O psicólogo Gustavo Korte trabalha com árbitros da FPF (Federação Paulista de Futebol), com atletas, com executivos e conhece o peso de um erro assistido pela plateia. Na prática, a forma de lidar se assemelha aos tropeções solitários: é comum ficar remoendo, mas geralmente não dá para recuar. O importante é entender o motivo da falha e saber o que fazer para acertar na próxima. Korte diz que essa capacidade de analisar as derrotas e planejar como evitá-las é essencial entre profissionais de alto rendimento, sempre na mira do holofote, pois manter-se no topo exige excelência. Legal não é, claro. Basta pensar quando você tropeça na rua, reza para ninguém ver e passa o dia todo revivendo o vexame (que muitas vezes os espectadores já esqueceram).

A escritora e jornalista Milly Lacombe, 47, estava justamente sob os holofotes quando cometeu um erro ao vivo em 2006 - acusou no SporTV, sem provas, o goleiro Rogério Ceni de falsificar uma assinatura. "Se errar, em qualquer circunstância e mesmo que apenas nós mesmos saibamos, já é experiência embaraçosa, imagine errar sob o testemunho de milhões de pessoas", escreveu em uma coluna sobre o tema. O episódio a fez pedir demissão. E vivenciar vergonha, culpa e reclusão. O aprendizado veio em "doses industriais" de humildade, sentimento que ela diz fazer todos parecerem iguais: "Uma noção que a princípio soa chocante e triste, mas depois é espetacularmente libertadora".

Até que o estágio de aceitação chegue, é comum terceirizar - ou ao menos tentar compartilhar - a culpa. Mas essa pode não ser uma boa escolha. Milly conta que sua primeira reação foi tentar culpar alguém pelo que tinha feito. Concluiu então que seria uma tentativa de tirar o peso do erro - justamente o peso que a ensinaria algo. A estratégia pode parecer útil para aliviar a pressão, mas dificilmente resolverá o problema.

O que o erro faz por você é oferecer uma dama de companhia: essa diva, a humildade. E um erro em rede nacional de TV oferece humildade em doses industriais.

Milly Lacombe, escritora e jornalista, em sua coluna na revista TPM sobre o tema

De boa ou de fúria?

Psicólogos da Universidade de Kent fizeram uma pesquisa em 2011 com base nas anotações de 149 estudantes: eles descreveram, durante até duas semanas, a pior experiência de cada dia, como lidaram com ela e como se sentiram.

As melhores estratégias para lidar com pequenas frustrações são

  • aceitação
  • bom humor
  • positividade

ALGUMAS ATITUDES FAZEM AS PESSOAS SE SENTIREM AINDA PIORES

  • negação
  • bufadas
  • culpa

espetáculo do erro

Flávio Steffens, 35, atribui essa terceirização a quem não tem autocrítica. Cientista da computação e empreendedor, ele admite já ter pego esse atalho. "Demorei para entender meu fracasso. Culpava o mercado, os clientes, o navegador, a conexão. Foi doloroso quando entendi que o erro era meu", relata ao falar sobre uma plataforma para construtoras criarem seus próprios sites. Recuperado do tombo, hoje ele toca o Bicharia, um site de financiamento coletivo para ONGs que cuidam de animais.

Apesar da dor, Steffens também define como libertador o momento em que se reconhece a derrota. Só depois de entender os erros, explica, é possível ver o que deveria ter sido feito e como investir em novas ideias de uma forma diferente. Defensor da troca de experiências malsucedidas, ele importou da Califórnia para o Rio Grande do Sul o evento Failcon (fail, em inglês, quer dizer "falha"), que tem o autoexplicativo slogan "Aprenda com o erro dos outros!". Com exclamação e tudo.

Seu parceiro nessa empreitada é Rafael Chanin, 33, professor da Faculdade de Informática da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) e empreendedor com um "tente outra vez" no currículo. Seu "aprendizado" - a forma como ele define fracasso - foi um aplicativo chamado Kizuada, para torcedores de futebol zoarem os amigos. "Funcionava bem, mas ninguém queria usar. Criei a solução de um problema que não existia", admite. Com suas respectivas lições, os dois perceberam a importância de compartilhar os erros e seguir em frente - assim como outros participantes da Failcon.

Iniciativas como essa ainda são raras no Brasil, onde o sucesso ocupa mais palcos e prateleiras de autoajuda que o fracasso. O problema é que as pessoas cometerão repetidamente os mesmos erros, se eles continuarem sendo escondidos e disfarçados por quem já os conhece. Nos EUA, o conceito de compartilhamento é pop. Para Cassandra Phillips, criadora da Failcon, a cultura está tão difundida no Vale do Silício que seu evento hoje parece até supérfluo. Segundo explicou ao "The New York Times", esse foi um dos motivos que levaram ao cancelamento do encontro em San Francisco, em 2014, após cinco anos de... sucesso.

O fracasso é relativo

Pessimistas dirão que é o fim da linha. Os otimistas, que é um aprendizado, apenas um obstáculo ou metade do caminho para o sucesso. Também não há um consenso sobre o que exatamente é o fracasso - nem tentar? Desistir? - ou quando é o momento certo de admiti-lo (a Failcon defende: quanto antes, melhor). É difícil mensurar derrota e vitória, considerando que esses conceitos estão ligados às expectativas de cada um.

Isso vale até no esporte, onde os parâmetros de sucesso são claros. Pesquisadores do Departamento de Psicologia da Universidade de Cornell, nos EUA, estudaram há alguns anos a reação dos vencedores nas Olimpíadas de 1992, em Barcelona, e concluíram que a medalha de bronze deixou os atletas mais felizes que a de prata. Isso porque os vice-campeões choram pelo ouro perdido, enquanto a turma do terceiro lugar pensa que poderia nem ter subido ao pódio. Portanto, antes de julgar o diretor que desistiu do cargo, pense que talvez sucesso para ele seja mais tempo com a família.

Há um problema, como sabem todos que já tentaram fazer algo bem feito, que é o limite de horas no dia. Sendo assim, temos de fazer escolhas.

Alain de Botton, escritor suíço

Uma coisa que não dá, e a vida provavelmente já lhe mostrou, é ter sucesso em tudo. Ao escolher uma área para brilhar, você assume que não será tão bem-sucedido - e até fracassará - em outras. Com milhões de livros vendidos, o escritor suíço Alain de Botton deixa claro esse dilema: "No momento sou um mau pai, mas um bom autor". Segundo ele, um dos maiores paradoxos da modernidade é a ideia de equilíbrio, que prega sucesso no trabalho e em casa. "Há um problema, como sabem todos que já tentaram fazer algo bem feito, que é o limite de horas no dia. Sendo assim, temos de fazer escolhas", defende.

Um aviso no site de Botton, desencorajando quem tenta contratar suas palestras, mostra isso na prática: "Alain está em sua caverna, escrevendo". É a prova que não dá para brilhar simultaneamente em várias áreas. E tudo bem.

Juliana Carpanez

Editora de Tecnologia do UOL. Tentou se descrever de maneira precisa neste espaço, mas fracassou.

tabuol@uol.com.br

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Referências citadas nesta reportagem:
Estudo sobre medo do erro foi feito na Universidade de Poitiers e publicado, em 2012, na "American Psychological Association". Pesquisa sobre impacto do receio de falhar foi realizada por pesquisadores da Bélgica e Turquia e divulgada, em 2014, no "British Journal of Educational Psychology". Levantamento sobre reação de atletas campeões pertence ao Departamento de Psicologia da Universidade de Cornell e apareceu, em 1995, no "Journal of Personality and Social Psychology".

Esta reportagem também contou com apoio de:

Rapahel Villar, câmera; Reinaldo Canato, fotografia. André Ventura, Alessandro Souza, Caroline Aline Rigoletto, Querobin, Hudson Rocha, Ibison Lima Silva Junior, Janalice Turini, Manasses da Silva, Marcio Garcez Silva, Rodrigo Orium, Rody Jardim e Tiago de Oliveira, Circo dos Sonhos. Agradecimentos: Murilo Gun, Pikadero e Diego Rocha de Carvalho Referências citadas nesta reportagem: Estudo sobre medo do erro foi feito na Universidade de Poitiers e publicado, em 2012, na "American Psychological Association". Pesquisa sobre impacto do receio de falhar foi realizada por pesquisadores da Bélgica e Turquia e divulgada, em 2014, no "British Journal of Educational Psychology". Levantamento sobre reação de atletas campeões pertence ao Departamento de Psicologia da Universidade de Cornell e apareceu, em 1995, no "Journal of Personality and Social Psychology".

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