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A carne é forte: swing com churrasco é o cardápio da Duplo Sentido, no Rio

Mulheres seminuas dançavam em volta da piscina enquanto o som do funk e o cheiro da churrasqueira ultrapassavam os muros altos da casa de 700m² numa tarde ensolarada no Rio.

Estamos no popular bairro do Pechincha, na zona oeste da cidade, mais conhecido por abrigar o famoso Retiro dos Artistas. As artes aqui, no entanto, são as da carne: no churrascão liberal do espaço Duplo Sentido, o sexo começa a rolar ainda de dia — regado a caipirinha e em meio ao cheiro de linguiça assada, pão de alho e caldo verde.

Mal o relógio tinha marcado 16h e pelo menos 32 pessoas transavam e gemiam sem parar, divididas em duas camas largas no segundo andar da casa, projetada e construída há 20 anos pelo empresário Oswaldo Belchior, 69.

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Imagem: Lucas Landau/UOL

É pra ver ou pra comer?

Em volta da suruba, voyeurs narravam as cenas de sexo, falavam do desempenho alheio, faziam social ou discutiam a final da Copa do Brasil entre Flamengo e São Paulo, que aconteceria no dia seguinte. Vibe típica de churrasco carioca.

"Já aconteceu de eu estar ali com a menina e entrarem esses famosos 'narradores de foda'", conta um comerciante de 37 anos, habitué desses banquetes, depois de transar com duas mulheres. "Até a hora em que pedi pra eles pararem um pouquinho, porque não estavam ajudando muito."

A mulher dele, de 31 anos, preferiu fazer negócios naquele dia — vendia produtos de sex shop na entrada da casa. Ela contou que, na Baixada Fluminense, onde mora com o companheiro e a filha de 5 anos, esse formato de swing com churrasco, durante o dia, é comum. E garante que a combinação dá certo.

Swingueiro há 46 anos, o organizador das festas começou nessa vida trocando cartas com quem anunciava interesse na troca de casais em revistas pornográficas como a Private. Na época, os encontros aconteciam na praia ou nas casas dos adeptos.

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Até que Oswaldo Belchior resolveu ter um espaço para chamar de seu. Há 20 anos, começou a construir a casa com quadra poliesportiva nos fundos, piscina, churrasqueira e um enorme quintal no primeiro andar.

O mesmo espaço onde agora algumas mulheres baixavam a parte de cima do biquíni para seus companheiros mergulharem nos seus seios, enquanto outro grupo de amigas rebolava num poste fincado no meio do salão.

"Hoje vou dar para mais de dez", gritava a mais empolgada delas. Já quase no fim da festa, às 22h, ela afirmou à reportagem ter transado com 15. O marido também aproveitou bem.

Para ajudar o público a entrar no clima, quatro telões transmitiam filmes pornôs — a programação só mudou na hora da rodada do Brasileirão.

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Imagem: Lucas Landau/UOL

Solteiro barrado

Sexo de verdade acontece no segundo andar, acessado por uma pequena escada em caracol. Ali, duas cabines com camas pequenas servem às brincadeiras dos casais. Um buraco na porta permite que se aprecie a cena. Alguns homens faziam fila.

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O quarto grande só para casais é apelidado de "quarto dos punheteiros" pelo empresário. É ali que o troca-troca pode ser observado livremente em pequenas janelinhas para quem fica de fora.

Um solteiro tentou entrar durante uma transa com duas mulheres. Todos pararam para botar ordem na casa: "Aqui você não entra."

Afinal, o churrascão da gente diferenciada não é bagunça, não. A mulher do dono, Jaqueline, 39, observa se todo mundo está respeitando as normas do swing e se os homens usam camisinha. Jaqueline, que assava também o churrasco, atua como uma espécie de inspetora do sexo.

"Costumo conversar antes, principalmente com os solteiros, para explicar como funciona. E todo mundo respeita", diz ela, uma ex-evangélica criada pela avó que conheceu o swing aos 21 anos.

Regras de um bom swing

Uma dona de casa de 44 anos saiu com "uns três caras", mas admitiu sentir prazer com o marido mesmo. "Faço para participar da brincadeira", explicou.

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"Infelizmente a maioria dos homens solteiros não conhecem as regras de um bom swing."

Teve marmanjo que esqueceu de levar o material básico para o sexo seguro e chegou a interromper a transa alheia para perguntar se o colega tinha preservativo.

Eloah Sarubbi, 27, parou de chupar um homem para ver se o outro havia trocado de camisinha, antes de pegá-la de quatro. "Não sei se você já usou com outra, então prefiro que você troque na minha frente", justificou para o jovem.

Ele atendeu, mas não conseguiu continuar. "Não tenho como te ajudar", Eloah avisou.

A reportagem viu pelo menos dez homens se revezando para transar com ela, sempre atenta à segurança. "Infelizmente é mais comum do que parece. A maioria não sabe ou finge que não sabe colocar uma camisinha."

Para quem frequenta e entende a filosofia da casa, a Duplo Sentido oferece um terceiro andar com seis suítes, que podem ser alugadas para festas privadas ou o descanso dos habitués."Só hospedo quem é do meio. Vem gente até de Portugal."

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Adepta do swing há quase 10 anos, Eloah diz ter preferência pelas festas diurnas com churrasco e piscina. No avançar das horas e da bebida, diz ela, a atmosfera vai mudando:

"Depois que ficam bêbados parecem que nunca viram mulher", critica ela. "Chegam querendo meter, mas nem conseguem."

É preciso moderação, confirma Belchior.

Além de promover suas próprias festas, o empresário aluga sua casa para promoters parceiros. Com isso, o público varia muito: tem evento só para solteiros, só para LGBTQIA+, para casais bissexuais.

Ele conta já ter recebido 108 casais num único dia. "Já veio grupo em ônibus fretado de Madureira [bairro da zona norte do Rio]", lembra.

O preço dos pacotes depende do espaço que o grupo vai utilizar, se algum dos quartos ou a casa toda. O aluguel do primeiro andar, por exemplo, custa um salário mínimo (R$ 1.320).

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A vizinhança, ele complementa, não perturba. Alguns até gostam. "Minha casa é de festa, e posso dar a que eu quiser. Mas nunca fui à delegacia por reclamação ou briga. Ao contrário. Os policiais é que vêm aqui."

SERVIÇO
Espaço Duplo Sentido: Rua Artur Orlando 777, Pechincha, Rio de Janeiro, tel.: (21) 97041-0113. Funciona de quarta a domingo, das 12h às 22h; sex. das 12h a 0h. Os preços variam de acordo com a atração da noite. Só com lista.

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