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Terreno baldio vira negócio e pode produzir o orgânico que você consome

Desde 2012, a avenida Paulista tem uma horta na praça do Ciclista, feita em mutirão - Peu Robles/Folhapress
Desde 2012, a avenida Paulista tem uma horta na praça do Ciclista, feita em mutirão
Imagem: Peu Robles/Folhapress

Luiza Pollo

da agência Eder Content, em colaboração para o TAB, em São Paulo

23/05/2019 04h02

À primeira vista, uma horta orgânica pode ser apenas... uma horta orgânica. Ou pode gerar empregos, mais segurança para uma região, melhora no comércio local, no transporte público e em áreas que transbordam um bairro - além de produzir alimentos de qualidade.

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Foi isso que o administrador de empresas Hans Dieter Temp descobriu quando aproveitou um terreno baldio em Suzano, vizinho à sua casa, para plantar hortaliças. Hoje, o que era uma iniciativa individual é um negócio social: criado em 2004, o projeto Cidades Sem Fome aproveita espaços inutilizados para integrar a população da periferia por meio de hortas e atividade agrícola.

Só na zona leste de São Paulo são mais de três milhões de habitantes, milhares sem emprego. Entre os bairros de Cidade Tiradentes, São Mateus, Itaquera e São Miguel Paulista, nasceu o projeto que hoje soma 25 áreas produtivas e emprega 210 pessoas em São Paulo, além de Porto Alegre. Segundo Hans, a maior parte dos beneficiários tem de 35 a 60 anos de idade. "São pessoas que tiveram menos estudo e atualmente têm menos capacidade de entrar no mercado de emprego formal", explica.

Quando o Cidades Sem Fome identifica uma área sem uso que tenha potencial para a agricultura, a ONG resolve a burocracia necessária e recruta beneficiários da própria região para plantar alimentos. "Existem áreas gigantescas que poderiam ser usadas e não são, principalmente nesses bairros mais periféricos, onde faltam empregos", diz Hans Christian Temp, economista e filho do fundador da Cidades Sem Fome.

"Uma área que seria degradada, onde seria jogado lixo ou poderia ser ponto de tráfico de drogas vira uma fazenda urbana. As pessoas que vivem perto podem começar a trabalhar ali, e é interessante para a empresa dona do terreno, porque não vira um depósito e não sofre invasões"

Hans Christian Temp, fundador da ONG Cidades Sem Fome

Hans Cristian entrou no projeto no ano passado para ajudar com uma grande mudança. Ele explica que o objetivo agora é fazer com que o trabalho nas hortas traga sustento real às famílias, com remuneração de pelo menos dois salários mínimos mensais para cada trabalhador. Antes, a ideia era gerar trabalho e algum dinheiro, mesmo que pouco, aos beneficiários. "Hoje queremos qualificar essa renda. O projeto já teve mais de 40 hortas ao mesmo tempo, era muito caótico. Reduzimos a quantidade de hortas e focamos em áreas grandes", conta o economista.

É sobre essa experiência de geração de emprego por meio da agricultura urbana que Hans vai falar em sua palestra no Festival Path, que ocorre nos dias 1 e 2 de junho em São Paulo e é apresentado pelo TAB em 2019.

Mas os benefícios da atividade agrícola em centros urbanos vão muito além da maior oferta de emprego para a população da região e de alimentos orgânicos nos supermercados. O ciclo positivo de emprego e renda no entorno das hortas beneficia o comércio nos próprios bairros, os beneficiários começam a gastar seus salários perto de onde trabalham e não precisam passar mais tanto tempo no deslocamento até o centro. Ganha também o transporte público. "A área que antes era depósito agora está arrumada, tem escola aberta", diz o economista.

O Cidades Sem Fome e seu fundador, Hans Dier Temp, já receberam nove prêmios e reconhecimentos, incluindo o Dubai International Award por melhor prática para melhorar o ambiente de vivência, em 2010. O prêmio é concedido pela ONU-Habitat e pela cidade de Dubai a cada dois anos, para dez iniciativas por vez.

Para saber mais sobre como a agricultura orgânica urbana pode gerar empregos e conhecer diversos assuntos relacionados a inovação e criatividade, participe do Festival Path. Pela primeira vez em seis anos, o evento vai ocupar diversos espaços da Avenida Paulista com atividades que incluem palestras, shows, filmes, workshops e feiras. É nos dias 1 e 2 de junho, em São Paulo.