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Mistério e morte: quase 30 macacos são envenenados no interior de SP

Três macacos-prego da Mata dos Macacos, em São José do Rio Preto, foram resgatados e levados ao zoológico da cidade, após serem envenenados - Johnny Torres/UOL
Três macacos-prego da Mata dos Macacos, em São José do Rio Preto, foram resgatados e levados ao zoológico da cidade, após serem envenenados
Imagem: Johnny Torres/UOL

Colaboração para o TAB, em São José do Rio Preto (SP)

13/08/2022 04h01

Em grupos de quatro ou cinco, ou até mesmo em bandos com mais de 10, eles pulam entre os galhos das dezenas de árvores da mata e se equilibram andando entre os poucos fios de energia. Ao notarem que algum ser humano oferece alimento, vêm correndo. Em poucos segundos, pegam a comida de nossas mãos e retornam para o alto das árvores.

A presença dos macacos-prego na Mata dos Macacos sempre atraiu crianças e famílias, que vão até à área rural entre as cidades de São José do Rio Preto e Bady Bassit, no interior de São Paulo, para ver os animais e levar comida para eles - apesar de haver uma placa no local pedindo que a população não alimente os macacos.

No entanto, essa situação mudou na última semana, depois que ao menos trinta animais foram intoxicados — alguns deles também foram agredidos. No local, a polícia resgatou três animais com sintomas mais graves e um foi encontrado morto.

"Eles estavam cambaleando, com sinais claros de intoxicação. Alguns caíram das árvores. Acreditamos que eles tenham comido algum alimento envenenado. Três deles estavam em situação crítica e precisaram ser resgatados, um dos animais estava com a pata quebrada, o que mostra que ele também foi agredido. Já os demais, acreditamos que eles tenham ingerido esse alimento envenenado em menor quantidade e conseguiram se recuperar sozinhos", diz Fábio Luis Leme, tenente da Polícia Militar.

Macaco na Mata dos Macacos, em São José do Rio Preto - Johnny Torres/UOL - Johnny Torres/UOL
Macaco na Mata dos Macacos, em São José do Rio Preto
Imagem: Johnny Torres/UOL

Ataques simultâneos

No dia seguinte, dois saguis-de-tufos-pretos foram encontrados também com sintomas de intoxicação no Parque Ecológico Educativo Danilo Santos de Miranda, conhecido como Parque Ecológico Sul, na região sul da cidade. Os animais morreram.

Os ataques continuaram acontecendo e, no decorrer da semana, mais animais mortos foram encontrados. Até quarta-feira (10), o número de macacos mortos encontrados em São José do Rio Preto era 8.

As autoridades acreditam que os ataques tenham sido intencionais e provocados por mais de uma pessoa. "Ainda não conseguimos identificar a autoria e nos locais não encontramos nenhum tipo de vestígio, dificultando a identificação de quem fez isso", acrescenta Leme.

Macacos foram vítimas de agressão e intoxicação na região de São José do Rio Preto (SP) - Johnny Torres/UOL - Johnny Torres/UOL
Placa adverte para que o público não alimente os macacos silvestres
Imagem: Johnny Torres/UOL

Cuidados específicos

Sintomas como falta de coordenação motora, apatia e inconsciência revelam que esses animais foram intoxicados com alguma substância ainda desconhecida. Além desses sintomas, alguns deles tinham marcas de agressão, como o caso de um macaco-prego fêmea, resgatado com a pata quebrada. O animal precisou passar por cirurgia para a colocação de placa e pinos.

"Ela está em um espaço isolado a que poucas pessoas têm acesso, em uma sala de internação, recebendo cuidados", diz Guilherme Guerra Neto, veterinário do zoológico municipal.

As outras duas fêmeas intoxicadas não apresentam marcas de agressão e estão se recuperando em outro espaço, também restrito, mas sem a necessidade de cuidados intensos.

"Acreditamos em intoxicação por veneno, já que estamos fazendo o tratamento com dois fármacos voltados a esse fim e elas estão respondendo bem e se recuperando", acrescenta o veterinário.

Os três animais que permanecem internados na clínica veterinária do Zoológico Municipal são fêmeas com idades entre 5 e 8 anos. Após se recuperarem totalmente, deverão ser reinseridos na natureza.

Animal na Mata dos Macacos, em São José do Rio Preto - Johnny Torres/UOL - Johnny Torres/UOL
Imagem: Johnny Torres/UOL

Laudo vai ajudar a esclarecer a intoxicação

Amostras de sangue foram recolhidas dos animais que estão recebendo tratamento no zoológico da cidade e encaminhadas para o Ceatox (Centro de Assistência Toxicológica) de Botucatu, esta semana.

O laudo que vai apontar a substância usada para intoxicar e causar a morte dos animais deverá ficar pronto em 30 dias.

Devido aos ataques, a Polícia Ambiental reforçou o patrulhamento nas áreas onde esses animais habitam. Atualmente, a ronda é feita durante todo o dia e também à noite. São de cinco a dez viaturas fazendo o patrulhamento pelas estradas de terra.

"A ronda é 24 horas. Sempre que encontramos alguém no local fazemos a abordagem e um trabalho educacional. Explicamos que não se pode alimentar esses animais e os riscos que isso acarreta, tanto para o macaco quanto para a pessoa. Esses animais são silvestres e podem morder", acrescenta Leme.

Antes dos ataques, dois compartimentos semelhantes a cestos, com mais de um metro de comprimento, estavam afixados na entrada da mata. Lá, moradores e comerciantes depositavam as mais variadas frutas para alimentar os animais. Após os casos de intoxicação, os compartimentos foram retirados.

Medo da doença

A polícia e as autoridades municipais acreditam que os ataques aos macacos foram motivados por medo da varíola dos macacos, já que os primeiros animais foram encontrados mortos um dia após a Secretaria de Saúde do município confirmar dois casos da doença na cidade. Posteriormente, mais um caso da doença foi confirmado.

Os três pacientes diagnosticados com monkeypox são homens de 33, 34 e 39 anos, estão em isolamento e sendo monitorados por equipes da Vigilância Epidemiológica.

Devido aos casos de agressões contra os animais, a prefeitura emitiu um alerta aos moradores para tentar acabar com as agressões.

Doença vai mudar de nome

A OMS (Organização Mundial da Saúde) disse que já busca um novo nome para a doença, para evitar criar estigmas ou preconceitos contra qualquer animal - e assim, conter os ataques contra a espécie.

A iniciativa ocorre depois que mais de 30 cientistas escreveram sobre a "necessidade urgente de um (nome para a doença e para o vírus) que não seja discriminatório nem estigmatizante".