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'O pesadelo acabou, p*!': o Réveillon da 'esquerda festiva' em Brasília

"Estou o retrato da esquerda festiva do Leblon", brincou uma das participantes da festa - Juliana Sayuri/UOL
'Estou o retrato da esquerda festiva do Leblon', brincou uma das participantes da festa Imagem: Juliana Sayuri/UOL

Do TAB, em Brasília

01/01/2023 13h51

Minutos após a meia-noite deste domingo (1º), @tesoureiros levantou a taça de espumante mais uma vez e pediu aos amigos: por favor, digitem Jair Bolsonaro no Google. "Diz ex-presidente do Brasil!", brindou o adm anônimo do perfil que conta com 226 mil seguidores no Twitter.

@tesoureiros e 13 amigos alugaram uma casa no Lago Sul, área nobre de Brasília, para passar o Réveillon e prestigiar a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com acesso ao setor "alfa" (vip) do Festival do Futuro. A influencer cearense Leila Germano, autora do podcast "Hoje Tem", também foi convidada para o jantar junto a autoridades que será realizado às 19h no Itamaraty.

Leila abraçou a jornalista Ady, do perfil @ady_news, que foi às lágrimas, como outros companheiros, no momento da virada, marco do fim do governo Jair Bolsonaro (PL). "O pesadelo acabou, p*! A gente conseguiu? A gente conseguiu!", festejavam.

Vindos de cidades como Belo Horizonte, Campinas e Maceió, os influenciadores digitais viajaram por conta própria a Brasília. Independentes, eles vêm conquistando notoriedade política há um tempo. Na CPI da Covid de 2021, arrobas como @tesoureiros, @bolsoregrets e @camarotedacpi municiaram parlamentares com informações sobre a pandemia e levaram as discussões do Congresso a seus milhares de seguidores. Na campanha de 2022, participaram de lives e atos diversos de oposição a Bolsonaro. As lágrimas, então, tinham história.

Embalada por uma trilha sonora que incluiu o hino "Tá na Hora do Jair Já Ir Embora" e uma versão remix da música gaúcha "Do Fundo da Grota", com ceia e vinho, energético e Brahma puro malte no menu, o Réveillon reuniu influenciadores da esquerda eclética, da comunista à dita liberal (palavras de um deles).

"Estou o retrato da esquerda festiva do Leblon", brincou uma das jovens ativistas, que vestia um macacão vermelho e um boné do MST, e bebericava uma taça de vinho branco ao som de "Um Comunista", de Caetano Veloso.

Réveillon da esquerda festiva em Brasília - Juliana Sayuri/UOL - Juliana Sayuri/UOL
Os amigos @ady_news e @normose, em Brasília
Imagem: Juliana Sayuri/UOL

Big Brother às avessas

Famosos na internet, os anfitriões são majoritariamente anônimos no "mundo real" — e quase todos quiseram continuar assim, ao conversar com o TAB.

Quem recentemente "saiu do armário" foi o roteirista paulista Rodrigo Kenji, professor e produtor cultural que faz o Normose, com mais de 250 mil inscritos no YouTube e 130 mil seguidores no Twitter. Entre outros motivos, decidiu mostrar o rosto para poder investir noutros estilos de vídeos e mobilizar a militância amarela, diz ele, que se surpreendeu com os pedidos de selfies de fãs no Aeroporto Internacional de Brasília.

Kenji levou os convidados da festa para um tour da casa alugada, contando uma história que talvez vire um podcast (sem spoiler) — animado, @AnittaCrave foi acompanhar o passeio pela segunda vez. Antes criticada por não se engajar politicamente, Anitta desta vez fez o L e incentivou outros artistas a se manifestar, e @AnittaCrave atuou nos bastidores para politizar o fã clube da cantora.

O convescote no Lago Sul tem sido um "Big Brother" às avessas para os amigos: nesta breve temporada reunidos em uma casa, os influenciadores (que estão acostumados a postar o tempo todo) na verdade têm preservado fotos e vídeos apenas entre eles, sem compartilhá-los publicamente, também por questões de segurança.

Foi assim com a festa tranquila e sem pompa ao lado da piscina, que se estendeu na madrugada. Neste domingo, o endereço é a Esplanada dos Ministérios. "É dia de festa. Depois é hora de ficar de olho no novo governo", ponderou um participante, que se identifica mais à esquerda da esquerda lulista. "O pior já passou."