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Eles podem ser a última chance da humanidade dar certo - ao menos segundo o alfabeto latino. Depois dos X's e dos Y's, a chamada geração Z entra em campo mais que conectada para lidar com uma sociedade complexa em que o extremismo, seja ele qual for, extrapolou o campo das ideias e ressuscitou fobias e agressões. Para encarar essa, os "Z's" irão precisar da ajuda dos seus pais "X's" e "Y's". É até bom que essa sopa de letrinhas seja complicada. Ajuda a preparar essa turma para tentar recuperar um mundo que dá cada vez menos espaço para amadores.
TEXTOBárbara StefanelliDESIGNDenise Saito
"Logo quando a Alice era bem pequenininha, ela foi na frente da televisão e passou a mão na tela. Aí eu briguei e disse: 'Pô, como é que tu faz isso com a TV?'. Depois que me toquei que a geração dela é a 'touch' e ela só queria mudar de canal", lembra o fotógrafo Ricardo Raymundo Toscani, 35, ao falar da filha, hoje com seis anos. "É tudo muito novo. Por mais que minha família tenha um modelo de criação, o que eu estou vivendo com ela é muito único", completa.
Muito já se falou da geração Y. Nascida entre o fim dos anos 70 e meados dos anos 90, essa turma é conhecida por ser a Geração Internet. Eles são os "millennials" e, por muito tempo, foram considerados o "futuro da nação". Mas esse papo é tão anos 2000... Geração internet virou coisa do passado. Agora a esperança foi depositada em uma nova letra, a Z - da qual Alice, a garotinha que queria trocar de "Hora de Aventura" para "Phineas e Ferb", faz parte.
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia de Estatística) divulgou em 2013 que os representantes da geração Z - população de 0 até 18 anos - correspondem a cerca de 29% dos brasileiros - pouco mais de 59 milhões de pessoas. Para essa nova e representativa leva de jovens e crianças, o conceito de online e offline nem existe mais. A internet morreu, só que ao contrário. A melhor explicação sobre isso vem de Eric Schmidt, executivo do Google. "Existirão tantos endereços de IP, tantos dispositivos, sensores, coisas que você estaria usando e interagindo que nem mesmo perceberemos a web. Ela vai ser parte da sua presença o tempo todo", afirmou Schmidt em janeiro deste ano. A rede não depende mais do desktop, pois ela migrou para smartphones, televisões, videogames e até para o carrinho de controle remoto.
Para quem nasceu e cresce nesse contexto, brincar já não é mais tão simples assim. O negócio agora é fazer seu primeiro Snapchat ou Vine aos oito anos de idade, mostrando o irmãozinho chorando ou a tarde de zoeira com os amigos. O quanto essas redes sociais podem ser divertidas a gente já sabe. Mas agora o papo é sério. A questão é saber se o mundo está se preparando para receber e formar essas pessoas que podem ser a última esperança (#drama) de dar um jeito numa humanidade que insiste em andar em círculos ao colocar em xeque conceitos como tolerância e empatia.
As previsões não são muito animadoras. Por mais que possamos usar a revolução digital a favor, não será em testes de Facebook ou em listas engraçadinhas que estarão as respostas para as adversidades. Em 2030, daqui a apenas 15 anos, a população mundial chegará a 8,5 bilhões de habitantes, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). Em 2050, esse número deve saltar para cerca de 9,5 bilhões. Espaço e recursos básicos, como água e alimento, serão ainda mais preciosos. Portanto, cidadania e consciência terão de ser palavras de ordem para o mundo não entrar em colapso - isso se já não tiver entrado.
E aí, pais X's e Y's, estão preparados para educar e aprender com esses jovenzinhos tecnológicos?
Eu usei todo tipo de droga que existe, fui arruaceiro, bêbado, baderneiro e vândalo. Hoje eu parei com tudo isso por causa do meu filho. Ele é uma benção, a dádiva da minha vida.
Zumba, tatuador, 47 anos
De acordo com a pesquisa anual "TIC Kids Online Brasil", que mede os hábitos do brasileiro usuário de internet de 9 a 17 anos, 81% dos 2.105 entrevistados acessam a web todos ou quase todos os dias, enquanto 4% entram apenas uma ou duas vezes ao mês. Um dado curioso é que, de 2013 para 2014, o número de jovens que acessavam a internet pelo celular saltou de 53% para 82%. Para ficar claro: aquele papo de controlar o que o seu filho vê está cada vez mais ultrapassado. A internet e com ela quase toda informação produzida e publicada está na palma da mão - e inocente do pai que pensa ter total controle.
Para Fabio Senne, coordenador de projetos e pesquisas do Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), responsável pela análise acima, é importante monitorar o acesso desses pequenos seres que são naturalmente curiosos, mesmo que isso seja uma tarefa difícil ou quase impossível.
"O que insistimos é que, à medida que a internet permite acesso a todo tipo de conteúdo, é importante ter um treino. A criança aprende logo muito cedo a manejar, instrumentalmente, o computador, mas é preciso que os pais e a escola ensinem a fazer um uso mais crítico", afirma. Para ele, um dos principais perigos são o ciberbullying, a divulgação de informações pessoais e o acesso a conteúdos inadequados.
A web ampliou o conhecimento de mundo. Para o bem e para o mal. Hoje as crianças e adolescentes têm acesso a informações, discussões e notícias que, muitas vezes, os pais não querem que elas saibam. Inevitável. "Tem que tomar cuidado para dar uma filtrada no que chega ao radar deles, porque chega tudo", afirma o produtor musical Pedro Nicolas, 46, pai de Hugo e Tomas, 10 e 12 anos, respectivamente. "Muitas vezes, quando me pergunto se meus filhos sabem de uma coisa, é como se eu estivesse indo com o fubá e eles voltando com o bolo", brinca.
Entra aí o fundamental papel do pai, mas não do superprotetor, que esconde a realidade dos filhos. O mais importante é formar um bom caráter nas crianças, para assim, sozinhas, elas tomarem as melhores decisões frente a essas questões gritantes da atualidade - ódio na internet, linchamento, preconceito, intolerância religiosa, racismo e homofobia são alguns exemplos. A sua presença, pai, é essencial nesse processo.
Para Anne Lise Scappaticci, terapeuta familiar da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), os pais continuam e sempre continuarão a ser importantes modelos para os pequenos. "São eles que ensinam regras e passam os valores. E isso é feito mais pelo convívio do que por ensinamentos verbais", afirma. Ou seja, você precisa ser aquilo que espera do seu filho no futuro.
Seria bom se as regras da vida fossem tão claras quanto às de um aplicativo, quanto às de um jogo? Não sei dizer, mas eu sei que, no dia a dia, não é simples assim.
Daniel Ribeiro Pinheiro, jornalista, 36 anos
Hoje o mundo acabou, inevitavelmente, se tornando mais democrático, por conta da rede. A facilidade com que os jovens têm acesso a informações faz com que as relações familiares se tornem cada vez menos rígidas e unilaterais. Aquele modelo de pai autoritário, que ditava a ordem da casa, já era. Não que esses pais não existam, mas agora as crianças conseguem formar a opinião delas com mais facilidade, seja por meio de fóruns na internet ou apenas digitando "como lidar com um pai chato" no Google.
"Há poucas gerações, o modelo era hierárquico e patriarcal. A função do filho era de ser obediente e submisso. As crianças tinham medo do pai e não necessariamente respeito. Eram criadas sob ameaças. Hoje temos uma família mais igualitária", acredita Lidia Weber, psicóloga e doutora em Desenvolvimento Familiar pela UnB (Universidade de Brasília) e Universidade Federal do Paraná.
Apesar dos laços emocionais mais estreitos, hoje também é muito fácil colocar um iPad na mão da criança após um dia exaustivo de trabalho. "Você vai ao restaurante e os bebês já têm um desses para que os pais possam interagir. Sem dúvida seria mais indicado interagir com a criança do que deixá-la isolada", diz a psicóloga Anne Lise. "Penso que tudo o que é bom requer investimento e trabalho. E o Dia dos Pais deveria ser visto como um momento para pensarmos a respeito dos nossos modelos e no que gostaríamos de melhorar", acrescenta.
Mesmo já incluindo esses gadgets na vida das crianças, os pais não desejam que seus filhos, por conta do tempo online, percam o contato com o mundo real, analógico. Para o advogado Guilherme Mahler, 48, pai dos garotos Rodrigo e André, 9 e 11 anos, "é tudo um instrumento e depende de como será utilizado". "Quando eu tinha a idade dos meus filhos, a crítica era: 'ah, você nasceu conectado à TV'. Os meus pais eram da era do rádio. Então eles pensavam em como a TV iria impactar [minha formação]. Lógico que impactou, mas não tão negativamente como se imaginava na época", lembra.
Para Mahler, a relevância da internet, daqui alguns anos, será vista da mesma maneira. "Você ouve muita gente criticando que eles ficam muito no mundo digital, mas eu não penso assim. Tem que aprender a usar e se aprofundar no que é relevante", afirma. Basta os pais mostrarem.
Use a hashtag acima para compartilhar no Twitter alguma característica que só quem é pai tem e apareça no TAB
A velocidade do mundo está refletindo muito na personalidade das crianças. Acho que elas já vêm com esse programa instalado, de que precisam ser rápidas.
Pedro Nicolas, produtor musical, 46 anos
Hoje os primeiros Z's estão completando 20 anos e ingressando no mercado de trabalho. A pedido do TAB, o Ibope e o Target Group Index atualizaram dados da pesquisa "Gerações Y e Z: Juventude Digital", publicada em 2010. O estudo considera jovens de 12 a 19 anos como parte da geração mais recente. Conforme publicado, 34% dessa fatia da sociedade já arrumou o primeiro emprego, sendo que 96% é solteira e 86% está em alguma instituição de ensino.
Para Marcelo Abrileri, presidente do site de empregos Curriculum, todas as empresas estão niveladas pelo diferencial tecnológico. "A tecnologia está virando commodity, está cada vez mais barata. Se as empresas estão iguais, então onde está o diferencial competitivo?", questiona. É aí que começa a disputa entre as letras, e os X's e os Y's saem na frente. "Você tem profissionais antigos que são muito bons, porque eles absorveram esse novo momento e carregam consigo qualidades do momento anterior. Só que é raro encontrar pessoas assim. Então, quando você encontra, tem que segurar, porque eles conseguiram unir os dois momentos", afirma.
Segundo o executivo, a nova geração interage muito, mas não com a mesma profundidade que os mais velhos. "A exposição a muitos 'devices' desde pequeno fez com que os jovens ficassem mais informados. Não estou dizendo que isso seja bom, é só uma peculiaridade, porque, quando se é multitarefa, fica difícil se aprofundar em um tema", afirma.
"O que eu vejo hoje são pessoas vendendo, reproduzindo, o que viram na internet. A internet virou o grande pai educador", continua Abrileri. Entra aí, mais uma vez, o dever do pai de instruir o filho da melhor maneira. "Se eles souberem ser bons pais e orientarem os filhos a usar essas ferramentas, tudo que está disponível para esses jovens será maravilhoso e eles serão excelentes profissionais. O jovem de hoje tem tudo para ser o melhor profissional, mas também tem tudo para não ser", conclui Abrileri.
Talvez o "Z" da questão não seja apenas perguntar se os pais estão preparando essa geração para lidar com o mundo de amanhã. Como já foi dito, eles nasceram conectados e é através da internet que estão se moldando. Portanto, também existe uma responsabilidade das redes sociais e dos meios de comunicação. Muito provavelmente não serão as listas que envolvam não sei quantos gatinhos ou princesas da Disney que farão dessas crianças seres humanos mais preparados. Dizem que a ignorância é uma benção, pena que não temos mais tanto tempo de sobra para isso. Em 2050, por aí, veremos o resultado. Vai chegar rápido.
Editora do UOL Mulher. Muito em breve pretende ser mãe e com certeza não aplicará nada do que escreveu aqui
tabuol@uol.com.brVeja qual seu perfil no quiz elaborado com a consultoria da psicóloga Elizabeth Monteiro, autora do livro "Cadê o Pai dessa Criança?"
Não consigo passar muito tempo com ele durante a semana. Nos vemos à noite, depois do jantar, ou antes de ele ir para a escola
Vemos desenhos, brincamos, baixamos joguinhos no celular ou tablet... Basicamente tento usar meu tempo livre para agradá-lo
Procuro ver se ele precisa de ajuda com questões da escola, mas também reservo um tempinho para fazer as coisas que ele gosta, tipo ver TV ou brincar
Pergunto se fez a lição de casa, ajudo nas tarefas que ele teve dificuldade. Se sobrar tempo, deixo ele ver um pouco de TV ou jogar videogame
Mais ou menos. Confio no meu filho e ele sabe os tipos de conteúdo que pode acessar
Não tenho muito tempo para manter esse tipo de controle
Sim, acho importante dar uma certa fiscalizada, mesmo sabendo que não dá para controlar 100%
Sim, até já bloqueei alguns sites e/ou instalei ferramentas para controlar o que ele acessa
Quando ele começa a se explicar e chorar, logo parte meu coração. Então nos abraçamos e fica tudo bem
Sento para conversar e busco entender por que ele fez isso
Não costumo participar dessas conversas. É normalmente a mãe ou os avós que dão os sermões
Tem certas coisas, como a mentira, que não dá para admitir. Então eu sento e logo tenho uma conversa dura para ele entender que isso não se faz
Sim, conversamos bastante. Temos uma boa relação
Eu realmente me esforço para ser bastante próximo
Poderia ser mais, mas existe um certo distanciamento entre nós
Por conta da correria do dia a dia, não conseguimos ser muito próximos
Participar de momentos fundamentais e cumprir com as obrigações
Garantir que a criança tenha qualidade de vida, educação e seja feliz
É fazer com que a criança tenha uma vida boa e seja muito feliz. O pai deve ser o melhor amigo do filho
Acredito que seja educar, impor limites e garantir que ela se dê bem na vida profissional
O paizão é o modelo de pai ideal, lembrando que o pai ideal está longe de ser o pai perfeito. A criança não precisa de um pai perfeito, mas de um pai coerente, que tenha bom senso, dose de bom humor e uma postura amiga, explica a psicóloga Elizabeth Monteiro. "Lembrando que postura amiga é bem diferente de ser um "pai amigão". O pai que tem uma postura amiga transmite um olhar de confiança, tempo para cumplicidade, novas rotinas e proteção nos piores momentos", afirma.
O pai amigo muitas vezes pode se perder na função de educar e dar limites porque ele se coloca no mesmo nível do filho. Geralmente, na hora de proteger e orientar ele não é firme, pois não quer decepcionar a criança, define a psicóloga Elizabeth Monteiro. "O pai amigo pode ser uma pessoa carente e insegura. Pela sua necessidade de ser amado e reconhecido pelo filho, familiares e amigos, ele tem dificuldade em dizer não", diz. Nesse caso, explica Elizabeth, vale muito mais a pena ser um pai que tem uma "postura amiga", porque ele sabe exatamente qual é o seu papel e o cumpre na melhor medida.
O pai exigente é aquele que se impõe por intermédio do medo e da autoridade, explica a psicóloga Elizabeth Monteiro. "Eles têm uma expectativa exagerada em relação aos filhos e as suas regras são rígidas", diz. Além disso, são pouco amorosos e os filhos acabam se sentindo desprotegidos e não amados, se não corresponderem às expectativas desse pai.
"O pai ausente pode estar ao lado do filho, mas a quilômetros de distância, preso às suas coisas e pensamentos", explica a psicóloga Elizabeth Monteiro. Para ela, a pior ausência não é a física, mas, sim, a afetiva-emocional. Ele cumpre as suas tarefas sempre desconectado do filho. São os pais de fachada e não se apegam muito à criança. Quando o filho cresce, normalmente, ele se distancia desse pai com quem não formou um vínculo afetivo forte.
Esta reportagem também contou com apoio de:
Reinaldo Canato, fotografia; Bruno Pedersoli e Raphael Villar, câmera; Mariah Kay, edição de vídeo; Denis Pose, desenvolvimento.
Agradecimentos: Carlos Eduardo Kubo, Daniel Ribeiro Pinheiro, Guilherme Mahler, James Douglas de Jesus Almeida, Max Galise, Maximilliano Barbosa Benanse, ,Pedro Nicolas, Ricardo Raymundo Toscani, Tiago Novaes Riggio Diaz, Zumba
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