— Você tem ideia de onde está?, foi a minha primeira pergunta.
— Sinceramente, não sei. Se o senhor diretor daqui abrir o portão e gritar 'agora foge', eu vou olhar para todos os lados e perguntar: 'pra onde?'. Acho que vou preferir voltar pra dentro - fala o português Oscar Gomes Guedes. Na sequência, ele dá uma risada.
— Nem imagina como é o entorno da prisão?, emendo.
— Vim em carro fechado para cá e da minha cela não dá para ver nada. Sei que está a três horas de São Paulo, mas não sei se é para o norte ou para o sul.
A caipiríssima Itaí virou uma excentricidade estatística: é a cidade com a segunda maior presença de estrangeiros em todo o país (5,7% de sua população, de acordo com o último censo do IBGE). Ela só perde para Chuí, município gaúcho que é quase um enclave no Uruguai. Tudo porque em 2006 o governo paulista decidiu concentrar os detentos estrangeiros em um só lugar. Na ocasião, as autoridades interceptaram mensagens da facção PCC (Primeiro Comando da Capital) com planos de matar os gringos. A ideia dos criminosos era dar mais repercussão às rebeliões prisionais daquele ano.
Atrás das muralhas que escondem Oscar e mais 983 forasteiros estão campos de soja e milho. A três quilômetros dali aparece a represa de Jurumirim, margeada por condomínios e riscada por lanchas e jet skis nos finais de semana. Percorrendo mais três quilômetros se chega à área urbana da cidade. Já a distância para a vida que Oscar deixou do lado de fora conta-se em milhares de quilômetros e horas.