O Futuro do Gênero

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O mundo promete ser neutro

Lojas estão abolindo os setores por gêneros, um novo estilo unissex vem ganhando força nas passarelas e tem país que criou um pronome pessoal para quem não quer ser nem ele nem ela

Editorial de moda Agêneros

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Texto Bárbara Stefanelli Design René Cardillo

A jornalista Carol Patrocinio matriculou o filho Chico, 5, numa escola que considera "democrática". Para ela, isso significa um espaço no qual não haja divisão de brinquedos e atividades entre meninos e meninas, por exemplo. Carol deseja para seu filho um ambiente que reflita a igualdade de gênero.

"Quando o Chico chegou [na escola nova], ele estava com uma mochila da Monster High [franquia infanto-juvenil de bonecas] e aí uma menina perguntou para a tutora por que ele estava com uma mochila de menina", conta Carol. A funcionária pensou um pouco e perguntou se a garota gostava de jogar futebol. "Gosto", ela respondeu. "E futebol é coisa de menino?", questionou. A menina respondeu que não. "Então por que Monster High é coisa de menina? Aí a criança falou 'ah, é verdade', saiu e foi seguir a vida", completa.

A experiência do Chico é uma maneira de falar sobre gênero na escola. Mas é importante ficar claro: defender essa neutralidade não quer dizer abolir o sexo feminino e masculino nem a orientação sexual. Os gêneros sempre existirão, há um fator biológico envolvido, e a orientação do desejo sexual não é algo que se ensina. A ideia é diminuir a separação entre as coisas "de menino" e "de menina".

Isso vale para brinquedos, roupas, atividades, esportes e profissões. Ou seja, para a vida. "Temos uma sociedade em que sexo e gênero são realmente importantes para as pessoas, então acredito que vamos continuar nos identificando como mulher ou homem. Isso, contudo, não deveria fazer diferença no modo como nos tratamos", afirma Carrie Paechter, professora do departamento de educação da Universidade de Londres.

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Há outras maneiras de discutir gênero no ambiente escolar, inclusive em um muito diferente do frequentado por Chico. O pensamento da filósofa e feminista francesa Simone de Beauvoir no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) deste ano inflamou esse debate, entusiasmando e indignando, nas mais variadas escalas, estudantes, professores, feministas, machistas, religiosos, liberais etc.

A pergunta da discórdia se apoiou numa das frases mais célebres do feminismo: "Ninguém nasce mulher; torna-se mulher", escrita por Simone em seu livro "O Segundo Sexo", publicado em 1949. Essa proposição afirma que ser mulher é uma construção social e histórica. Na prova, os estudantes tinham que responder para que contribuiu essa ideia. Eis a resposta correta: "Organização de protestos públicos para garantir a igualdade de gênero". E o que era apenas mais uma pergunta do teste virou um grande debate nas redes sociais - mas, desta vez, influenciado pelo pensamento de uma das maiores autoras contemporâneas sobre um dos assuntos mais urgentes deste século.

Enquanto grupos conservadores acusavam o Enem de doutrinação da "ideologia de gênero", o outro lado, entusiasta desse tema e similares, celebrava o fato da questão ter atingido cerca de 7 milhões de alunos. O debate proposto há 66 anos por Simone de Beauvoir pareceu mais atual do que nunca. Veio num momento no qual a agenda política e social do país aceita ao menos a chance de discussão. Talvez não seja o suficiente, mas a discussão existe, é quente e pode crescer, inclusive servindo para questionar como são feitas as leis no Brasil.

Em junho último, a Comissão de Finanças e Orçamento da Câmara Municipal de São Paulo aprovou o novo PME (Plano Municipal de Educação), deixando de fora as questões de gênero e até menções à Lei Maria da Penha, que visa coibir a violência familiar e doméstica contra a mulher. O conteúdo aprovado segue em consonância com o PNE (Plano Nacional de Educação), sancionado em junho de 2014 pela presidente Dilma Rousseff, e que também deixou fora os parágrafos sobre essa discussão.

O autor do projeto aprovado, o vereador Ricardo Nunes (PMDB), afirma que o tema gênero foi excluído porque os vereadores entendem "que esse é um assunto que a sociedade não foi consultada nem a comunidade escolar e os pais". Mas não é assim que são feitas muitas leis? "É, mas não deveria." E continua: "Está muito claro que a sociedade brasileira é contra haver essa questão [nas escolas]. Todos os parlamentares representantes do povo estão consolidando a posição de que gênero não deve ser debatido", afirma Nunes.

No entanto, segundo Toninho Vespoli (PSOL), um dos poucos vereadores que votaram contra o texto aprovado pela Câmara, essa era uma discussão para diminuir o machismo e o preconceito na sociedade e não para tratar meninos e meninas de forma sexualizada, incentivando a homo ou bissexualidade. "Era para fazer com que crianças sofram menos bullying na escola, já que algumas estão indo para o suicídio ou evasão", afirma.

Hoje se um menino pega uma boneca para brincar, a professora logo tira da mão dele. Do jeito que o plano está, essa questão do gênero vai ficar muito a cargo de cada professor e de cada escola

Toninho Vespoli, vereador do PSOL-SP

Caso o texto inicial do PME passasse, a ideia era criar convênios com universidades públicas, onde os professores seriam preparados para lidar com as relações de gênero, diversidade e Lei Maria da Penha. "Não é apenas sobre gênero que muitos professores ficam com defasagem. E assim eles acabam colocando a sua visão para o aluno. Isso não é profissional", explica Isis Tavares, coordenadora da Secretaria de Relações de Gênero do CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação). "O mesmo também acontece quando se trata de religião. Aquele é um espaço coletivo, [o professor] não pode chegar na escola e fazer um culto da sua religião", completa.

Mesmo com toda polêmica, o texto mais conservador do PME foi sancionado pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), em setembro de 2015, e valerá pelos próximos dez anos. Para quem não concorda, caso da Carol, a mãe do Chico, o jeito é desembolsar uma grana a mais para bancar uma escola que lide com o assunto de forma natural.

Nomes

Ao clicar na letra, forme as palavras e descubra cinco nomes que são usados tanto para mulheres quanto para homens

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Se no Brasil falar sobre diversidade e gênero nas escolas ainda é tabu, há países em que a igualdade entre masculino e feminino já avançou tanto que acabou surgindo um terceiro gênero, o neutro. Em abril de 2015, um pronome pessoal neutro (o "hen") foi incorporado oficialmente ao vocabulário da Suécia - quarta colocada no ranking de igualdade entre gêneros elaborado anualmente pelo Fórum Econômico Mundial. Hoje, a Islândia ocupa a primeira posição, seguida de Finlândia e Noruega.

A nova palavra é usada para não revelar o gênero da pessoa, objeto ou animal, seja porque este é desconhecido ou porque a informação é irrelevante para a sentença. Marie Tomic, autora do livro sueco "Ge Ditt Barn 100 Möjligheter Istället För 2" (Dê Ao Seu Filho Cem Oportunidades Em Vez de Duas, em tradução para o português), acredita que "essa é uma maneira de tratar seres humanos como seres humanos e não como pessoas definidas pelo sexo".

A escritora ainda exemplifica uma situação em que o pronome neutro pode ser aplicado: "Se eu disser que fui ao dentista para um amigo e ele não souber o sexo do profissional, ele pode perguntar apenas 'E o que hen disse'? Desta maneira, o mais importante é que a pessoa é um dentista e não se o dentista é ele ou ela".

O também sueco Jesper Lundqvist foi o primeiro a publicar um livro escrito em gênero neutro no país nórdico. O infantil "Kivi & Monsterhund" (Kivi e o Cachorro Monstro, em português) conta, por meio de rimas e ilustrações, a história de uma criança por volta dos cinco anos que quer um cachorrinho de estimação.

Pelas ilustrações e palavras, não é possível saber se Kivi é menino ou menina. E o que isso muda na história? Absolutamente nada. O mais importante é o enredo, cujo objetivo é ensinar às crianças que as coisas nem sempre ocorrem da maneira que gostaríamos.

É valioso ter acesso a diferentes tipos de narrativas, personagens e visões de mundo. Acredito que isso acaba gerando mais compreensão e empatia nas pessoas

Jesper Lundqvist, autor do livro "Kivi & Monsterhund"

Até o Dicionário Oxford, um dos mais conceituados da língua inglesa, adotou em agosto último o verbete Mx., como uma variação neutra para Mr. ou Ms. (senhor ou senhora, respectivamente). Segundo o Oxford, Mx. pode ser "usado antes do sobrenome ou nome completo daqueles que não querem especificar seu sexo ou por aqueles que preferem não se identificar como homem ou mulher".

No Brasil, nosso idioma oficial ainda se restringe ao ele/ela. Mesmo assim, há um público que estimula uma terceira opção. Na internet, já faz um tempo que a turma antenada usa a criatividade para driblar as barreiras linguísticas - ou vai dizer que nunca leu um "amigues", "amigxs" ou até "amig@s" por aí?

Em setembro de 2015, circulou pela internet a imagem de um comunicado interno do tradicional colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, escrito com a letra "X" como forma de suprimir o gênero. Outra foto trazia o cabeçalho de uma prova de biologia com a palavra "Alunx" no campo reservado para o nome.

Oscar Halac, reitor da escola, não tem autoridade para mudar a ortografia, mas ressalta que "a ideia é chamar atenção da sociedade e mostrar que, quando não há tolerância, só se causa dor e sofrimento ao próximo". E acrescenta: "O real 'X' da questão é a nossa capacidade de aceitar e conviver com pessoas mais felizes".

Na língua portuguesa, o uso do "X" foi a saída informal mais popular encontrada para suprimir o gênero, mas para Cláudia Freitas, coordenadora do curso de Letras da PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), esse recurso está longe de ser o mais apropriado. Para começar, o "X" não é pronunciável nesse contexto.

"Nós não podemos, em voz alta, usar o 'X'", afirma. Além disso, o uso da letra não torna as coisas mais fáceis de entender. "Quanto mais simples e direta for a nossa linguagem, melhor. Se a intenção é fazer textos fáceis e didáticos, o 'X' pode ser um constante entrave para quem está lendo", completa.

Língua

Ative o botão abaixo para ler este TAB no modo agênero. A regra do "X" foi aplicada aos pronomes pessoais e aos adjetivos e artigos que acompanham substantivos com variação de gênero. Exemplo: amigos e amigas. Para voltar à norma culta, clique novamente no botão.

Texto agênero

A linguagem já se mostrou aliada na construção de um futuro unissex. Mas, ainda que o código seja fundamental, o mais importante segue sendo o conteúdo transmitido. Principalmente quando o receptor é uma criança, que aprende imitando os adultos que estão ao seu redor.

"Quando se fala em tratar de um modo neutro, não significa bagunçar a cabeça das crianças nem fazer com que elas fiquem perdidas ou deixem de se definir [como homem ou mulher]. A maioria não coloca isso como uma grande questão", explica Cláudia Vianna, professora doutora da faculdade de Educação da USP (Universidade de São Paulo). Mas para as que colocam, seria um alívio saber que não tem problema em se sentir diferente.

Em 2014, a UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) lançou um estudo mostrando que 41% dos transgêneros norte-americanos já tentaram se suicidar. Você consegue imaginar o que é, desde muito cedo, não se identificar com o corpo que nasceu? A situação já é difícil por si só e, quando o ambiente não colabora para a diversidade, só tende a piorar.

Sofrer bullying, no entanto, não é exclusividade dos transgêneros, já que a prática prejudica a vida de qualquer pessoa que não se encaixe nos padrões heteronormativos, de beleza e de etnia criados e reforçados por aí. "Um menininho pode ser menininho de várias maneiras, mas na nossa sociedade, que coloca tudo que tem a ver com feminilidade como inferior, aquele mais carinhoso, que não gosta de futebol, por exemplo, é visto como pior", diz Cláudia Vianna.

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Não adianta nada se a discussão sobre gêneros e diversidade não fizer parte da formação ou da licenciatura do professor Carla Cristina, professora da PUC-SP

Para Carla Cristina, socióloga da PUC-SP, uma maneira de incluir a questão de gênero no ensino é tirando a ênfase do masculino. "Não se trata de fazer uma cartilha de feminismo, mas sim de incluir mais as mulheres na história da educação. É assim que a escola deveria começar a pensar na formação de gênero, incluindo a mulher na história da humanidade de forma natural", afirma.

A identidade de gênero não precisa ser a mesma da orientação sexual. Por exemplo, uma garota pode não se identificar com a imagem que ela tem. Então ela se sente mais identificada com o gênero masculino e passa a se vestir como menino. Mas ela pode continuar gostando de homens

Isis Tavares, coordenadora da Secretaria de Relações de Gênero do CNTE

Carrie Paechter, professora da Universidade de Londres e também autora do livro "Being Boys; Being Girls: Learning Masculinities And Femininities" (Sendo Menino; Sendo Menina: Aprendendo Com Masculinidade e Feminilidade, em tradução para o português), admite que optar por uma criação neutra é um desafio para todos, mas que vale a pena.

"Se crianças são encorajadas a testarem todos tipos de brinquedos e roupas, por exemplo, então assim elas poderão encontrar as coisas que mais combinam com elas enquanto seres humanos", afirma. Nesse movimento, a cargo dos educadores ficaria a responsabilidade de quebrar essas barreiras. "Se as crianças começarem a falar que só menina veste rosa, então um adulto deveria aparecer usando uma camiseta rosa e apontar isso para elas", completa.

Únicos

De Chanel se apropriando de cortes e tecidos da moda masculina ao estilo neutro de Tilda Swinton. Veja celebridades e estilistas que colaboraram para uma moda mais democrática e neutra

Lojas de departamento refletem os desejos de consumo das massas e, portanto, revelam muito do nosso comportamento. Ao caminhar pelo setor de roupinhas para bebês, é possível notar uma divisão clara entre o azul e o rosa. As diferenças de gênero construídas pela sociedade começam já na montagem do enxoval.

Nas prateleiras de brinquedo, a separação continua a mesma. Enquanto os garotos têm "action figures" musculosos e com superpoderes à disposição, as garotas ficam com a cintura de pilão, pernão e corpo de violão das hipersexualizadas Barbie, Susie e similares.

Já existem lugares em que este tipo de categorização está sendo abolida. A rede de departamento Target, nos Estados Unidos, anunciou neste ano que iria abandonar a divisão por gêneros nos corredores de brinquedos. Afinal, uma garota também pode desejar ser um super-herói, assim como um menino pode ter a curiosidade de saber qual é a sensação de carregar uma boneca no colo.

Um movimento na moda também tem apontado para esta direção, e o unissex alcançou um novo patamar nos últimos anos. A gigante britânica Selfridge's, por exemplo, inaugurou no início de 2015 um departamento "gender-neutral". A explicação foi que cada vez mais mulheres transitavam pelas araras masculinas e vice-versa. Esse estilo neutro, que é possível ver nas fotos deste TAB, também tem chamado atenção nas passarelas.

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Para uma roupa funcionar bem sem criar uma silhueta feminina no homem e também não deixar a mulher com proporções estranhas, o ideal é que o corte seja reto. Em geral, essas peças são mais 'oversized' na parte de cima e justas na parte de baixo

Manoela Fiães, produtora de moda responsável pelas fotos deste TAB

Na Semana de Alta-Costura de Paris, um novo nome está mostrando que, sim, é possível vestir homens e mulheres da mesma maneira e de forma elegante. Nada de moletom ou jeans e camiseta branca. Desde 2013, a grife do estilista canadense Rad Hourani apresenta uma estética minimalista, em tons neutros e modelagens mais geométricas. Nas mãos do designer, um vestido masculino parece uma roupa feita para homens. A mesma peça ainda veste uma mulher.

Tarefa para poucos, já que habitualmente vemos na moda unissex mulheres com roupas que antes eram exclusividade dos homens, como smoking e terno. Vivienne Westwood já levou homens de vestido para a passarela, mas o resultado cai mais para provocação do que para uma neutralidade de fato, pois as peças continuam sendo iguais às femininas. O equilíbrio, para quem entende do assunto, está na modelagem mais larga e geométrica, além da estética sóbria e minimalista.

Real

Nas semanas de moda, é possível notar esta estética neutra há algumas temporadas. Mas vale ressaltar que a única grife que se intitula 100% unissex é a do estilista Rad Hourani. Veja exemplos de roupas que caem bem em homens e mulheres

Separe

Cores ditas femininas ou masculinas embalam produtos que, sem a menor necessidade, acabam sendo divididos em categorias criadas pela publicidade. Abaixo, veja se adivinha quais produtos são masculinos, femininos ou ambos.

absorvente interno
alicate de cutícula
aparador de pelos
brincos
chapinha
coletor menstrual
coquilha
esmalte
lâmina de barbear
lenços umedecidos
loção pós-barba
máscara facial
pasta executiva
protetor labial
sutiã
terno

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Após uma pesquisa de mercado, a estilista carioca Lívia Campos abriu em 2014 a marca de roupas neutras Beira. Para ela, o título unissex é puramente marketing, já que tudo pode ser usado por homens e mulheres. "Roupa é uma coisa sem gênero e você veste o que acha que vai cair melhor", afirma. A designer também explica que, para confeccionar peças unissex, começa a desenvolver para os homens, já que o público feminino tem uma maior flexibilidade. "A modelagem que uso para os dois sexos é a mesma. Só que um 3 [numeração] fica médio para o homem e grande para a mulher", completa.

No momento, poucas marcas no Brasil se dedicam ao estilo unissex e vai muito do consumidor ter um olhar apurado ao entrar na loja para encontrar peças que vistam bem qualquer sexo. Originalmente feminina, a UMA aposta no design mais contemporâneo e atemporal desde os primórdios da marca. No começo dos anos 2000, homens interessados pela confecção passaram a procurar peças da loja. A marca até investiu em coleções masculinas, mas elas não duraram muito.

No entanto, na temporada Verão 2016 da SPFW, realizada em abril de 2015, a confecção voltou a apresentar opções masculinas e, desta vez, com uma pegada bem neutra. Para Raquel Davidowicz, proprietária e estilista da UMA, esse será o futuro da moda. "Sempre existirão mulheres ultrafemininas ou o pessoal mais colorido, mas acredito que, pela escassez de material ou por problema de cores e estamparia, esse pode ser o caminho", afirma.

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Não é porque eu gosto de cores neutras e de preto que não deixei minha filha usar rosa. A criança também tem que ser guiada um pouco por essa fantasia e fazer suas escolhas

Raquel Davidowicz, estilista da UMA.

Jo Paoletti, historiadora da Universidade de Maryland nos Estados Unidos, lançou em 2015 o livro "Sex and Unisex: Fashion, Feminins and the Sexual Revolution" (Sexo e Unissex: Moda, Feminismo e a Revolução Sexual, em tradução livre para o português). Na publicação, a autora lembra que nas décadas de 1960 e 1970, durante a liberação sexual, as estéticas masculinas e femininas também se aproximaram bastante. "Nesse período, muitos homens tinham cabelos longos e vestiam tecidos com estampas florais ou longos caftans", diz.

Seria, então, necessário haver uma nova onda "paz e amor" para as pessoas se libertarem de seus preconceitos? Quando questionada pelo TAB se o futuro da moda é unissex, Jo mandou o trecho final de seu livro: "Se desejamos uma sociedade com indivíduos que atinjam todo seu potencial, precisamos de uma cultura que reconheça a diversidade humana, que ofereça opções e respeite as escolhas". Alguns idiomas e sociedades já encontraram maneiras de incluir a diversidade. A moda também está na mesma sintonia. Mas e você?

Bárbara Stefanelli

Editora-assistente de UOL Mulher. Depois de escrever este TAB, tem evitado comprar roupinhas azuis para o enxoval de seu filho

tabuol@uol.com.br

Esta reportagem também contou com apoio de:

7Irisfilmes, imagens; Flávio Florido e Gabriel Quintão, fotógrafos do editorial “Agêneros” desta edição; Thaila Alvarenga e Fellipe Wermuth, modelos; Manoela Fiães, produtora de moda; Vale Saig e André Rodrigues, maquiadores; Adriana Nogueira, mãe da Nina; Grupo Vegas, responsável pelo Mirante 9 de Julho, que serviu de locação para as fotos desta edição; Jane Felipe de Souza, professora integrante do GEERGE da UFRGS (Grupo de Estudos de Educação e Relações de Gênero da Universidade do Rio Grande do Sul); Paula Costa, diretora criativa da loja BB Básico; Murilo Andrade, booker da agência de modelos Mega Model Brasil; Fernanda Campos, assessora de imprensa do colégio Oswald de Andrade; Bruno Piva, professor da escola Municipal José de Alcântara Machado Filho; Daniel Martins, coordenador de campanhas e da Ação Jovem do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira.

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