Olívia Fraga
Do TAB, em São Paulo
Nos primeiros dias de novembro, pelo menos 80 pessoas decidiram passar dia e noite pedindo um golpe militar em frente ao Comando Militar do Sul, em Porto Alegre. Primeiro, ficavam sob lonas. Depois, foram ocupando a avenida Padre Tomé com barracas e panelões de comida.
O fotógrafo Guilherme Kindermann "queria entender de verdade o que havia ali" e decidiu frequentar o acampamento golpista. Foi hostilizado no início, mas ganhou a confiança de uma integrante do grupo e, por todo o mês de dezembro, pôde circular e registrar o que via. As fotos desta reportagem são parte do ensaio "Doma sem rédea" produzido por ele.
Os integrantes eram sobretudo senhores aposentados, ex-militares ou parentes de militares — muitos diziam não terem tomado nem a primeira dose da vacina contra covid-19. Passavam o tempo todo gravando e vendo vídeos compartilhados no WhatsApp e Telegram. Falavam ao microfone sobre "nova ordem mundial", "implantação de chips da besta" e "a ameaça do comunismo".
A brigada militar do outro lado do portão foi chamada certa vez para intimidar Guilherme, que tinha chegado ao acampamento com um tênis de cadarço vermelho e um blusão da mesma cor. "Tirando esse susto, eram gentis no geral. Gente comum com um celular na mão."
Em 28 de dezembro, o grupo o convidou para ir a Brasília de graça. "Os ônibus eram financiados pelo agronegócio, eles diziam, em vídeo. Não fiquei surpreso: era óbvio o financiamento de empresários interessados em questionar as eleições."
As barracas sumiram em janeiro, mas alguns ainda aparecem por ali para conversar — e eventualmente, para brigar entre si. O clima ficou mais hostil.
Publicado em 13 de janeiro de 2023.
Fotos: Guilherme Kindermann
Edição e texto: Olívia Fraga
Edição de Imagem: Lucas Lima