inovação

criador e criatura

Aprendizado de máquina já permite criar pinturas, filmes e livros, mas até que ponto a inteligência artificial é autora?

O pintor holandês Rembrandt morreu em 1669. Mas a imagem que você vê aqui, criada em 2016, poderia muito bem ser um trabalho ?póstumo? do artista

O quadro digital foi criado pelo grupo holandês ING com a Microsoft, por meio de inteligência artificial (IA). As empresas desenvolveram um software que ?lê? toda a obra do pintor e cria algo novo a partir dela

Divulgação

A técnica usada foi aprendizado de máquina. Cria-se um programa capaz de analisar uma quantidade enorme de dados. Depois, ele é alimentado com informações adicionais

Nesse caso, os dados eram quadros de Rembrandt. As informações, instruções sobre o que eram rostos, o que eram paisagens, roupas? O software aprende tudo e é programado para inventar

Já tem inteligência artificial fazendo quadros, filmes, poesia, música. Tudo isso com base em milhares de obras disponíveis online

Combinar trabalhos já feitos e criar algo a partir deles é algo comum entre as máquinas e também entre os humanos. Pense nos aprendizes de Picasso, por exemplo

AFP

No entanto, romper com o status quo e criar algo intrinsecamente criativo é outra história. Picasso revolucionou a arte em sua época

A máquina não tem consciência, a não ser que você programe formas de ela estar 'ciente' do que está fazendo. Mas ela ainda não consegue produzir arte espontaneamente

Sergio Venancio, artista 
e pesquisador em IA

Venancio criou o software Extentio, que identifica rostos de pessoas e os desenha com traços e cores programados pelo artista. É trabalho conjunto entre homem e máquina

A IA está sujeita também a falhas humanas e sociais. Se for alimentada com milhões de imagens de pessoas brancas, não vai saber retratar bem uma pessoa negra. O viés racial da IA já está em debate

Arte/UOL

Em janeiro, o conglomerado chinês de tecnologia Tencent venceu uma disputa judicial sobre o primeiro caso de copyright de um texto escrito por inteligência artificial

Para poder olhar para esse tipo de conteúdo daqui para frente e dizer quem é o autor, é interessante pensar qual é a intenção por trás do conteúdo

Sergio Venancio, artista 
e pesquisador em IA

Por mais sofisticado do que seja, ainda não é possível assegurar que um software tenha intenção própria ao desenvolver um trabalho

Por enquanto, quem fica com os frutos do trabalho combinado entre máquinas e humanos são esses últimos. E que frutos. O quadro "Retrato de Edmond Belamy" foi vendido em 2018 por quase US$ 500 mil

Se vai ser sempre assim, é difícil dizer. Há quem diga que as máquinas atingirão a singularidade, ou seja, serão capazes de realizar todas as tarefas de um humano

Outros preferem ver um futuro em que a inteligência artificial vai contribuir com nosso processo criativo, assim como outras tecnologias fizeram ao longo da história

Edição
Olívia Fraga

Arte
Carol Malavolta

Pinturas
Patrícia Brandstatter

Reportagem
Luiza Pollo

Publicado em 18 de novembro de 2020.

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