Arte

espelho meu

Dona de lavanderia e mãe de família, Madalena Schwartz retratou como ninguém a cena queer nos anos 1970

Acervo Instituto Moreira Salles—Coleção Madalena Schwartz

Durante os piores anos da Ditadura Militar, uma geração ousou desbravar as fronteiras de gênero e estética

Acervo Instituto Moreira Salles—Coleção Madalena Schwartz

Pessoa não identificada, anos 70

Essa explosão de energia que marcou a comunidade LGBTQI+ ainda pulsa nas imagens de Madalena Schwartz

Acervo Instituto Moreira Salles—Coleção Madalena Schwartz

Benê Lacerda, 1973

Carlinhos Machado e Paulette, 1973

Suas lentes registraram como poucas
a cena queer em São Paulo, sobretudo
 travestis e artistas transformistas,
nos opressivos anos 1970

Acervo Instituto Moreira Salles—Coleção Madalena Schwartz

Roberto de Rodrigues e Reginaldo de Poly, 1973

Do outro lado da câmera, Madalena tinha 50 anos, era uma mãe de família judia, dona de uma lavanderia no centro da cidade

Acervo Instituto Moreira Salles—Coleção Madalena Schwartz

O Brasil e sua promessa de novo mundo logo se tornou novo lar da família judia

Madalena teve uma história típica de imigrantes. Nasceu há 100 anos, em Budapeste, e buscou um novo lar na Argentina para fugir do fascismo na Hungria


Acervo Instituto Moreira Salles—Coleção Madalena Schwartz

Tinha 45 anos

A fotografia surgiu por acaso. O filho ganhou uma câmera num sorteio e apenas Madalena pareceu se interessar pela máquina

Acervo Instituto Moreira Salles—Coleção Madalena Schwartz

Foi no trajeto diário entre a lavanderia
e sua casa, no edifício Copan, que
encontrou o que seria objeto de estudo
da imigrante e sua câmera: personagens de uma cena noturna vibrante e alternativa

Acervo Instituto Moreira Salles—Coleção Madalena Schwartz

Grupo Dzi Croquettes, 1973

"Podia ser a mãe de família que tira fotos dos filhos nas férias no Guarujá", diz Samuel Titan jr, curador da exposição "As Metamorfoses", dedicada à fotógrafa, em cartaz no Instituto Moreira Salles, em São Paulo

Acervo Instituto Moreira Salles—Coleção Madalena Schwartz

"Mas por que essa mulher de classe média, judia, de meia-idade, que se vestia com o tailleur super correto, se interessa por essas figuras?", se pergunta 

Acervo Instituto Moreira Salles—Coleção Madalena Schwartz

"É um enigma, mas a melhor resposta que ela mesma não sabia dar está nas imagens"

Pessoa não identificada, anos 70


Nas longas sessões, passaram por suas
 lentes figuras célebres, como Ney Matogrosso, em 1974

Madalena fotografava esses personagens às vezes montados, outras, de cara limpa

Acervo Instituto Moreira Salles—Coleção Madalena Schwartz

Carlinhos Machado, 1973

Com os modelos quase anônimos daquela noite efervescente, as sessões aconteciam em sua casa, onde improvisava um estúdio com lençol e fita crepe

Servia como um gesto de acolhimento

Acervo Instituto Moreira Salles—Coleção Madalena Schwartz

"De alguma maneira, é como se ela
refletisse sobre sua condição liminar.
Estar na fronteira de identidades
que nunca são suficientes para dizer
quem você é”, observa Samuel 

Acervo Instituto Moreira Salles—Coleção Madalena Schwartz

Meise, 1976

No centenário de Madalena, a mostra foca na intensa produção entre 1971 a 1976, enquanto ela ainda trabalhava na lavanderia

Acervo Instituto Moreira Salles—Coleção Madalena Schwartz

Para celebrar as metamorfoses registradas por Madalena, aquela atmosfera dos anos 1970 foi resgatada para os dias de hoje num show online, que reuniu Maria Alcina, Ciro Barcelos e Filipe Catto (foto) em SP

Iago Mati

Não à toa, o espelho é um elemento cênico muito usado, tanto nas fotos de Madalena, quanto no evento musical

Acervo Instituto Moreira Salles—Coleção Madalena Schwartz

Patrício Bisso, 1970

Danton e pessoa não identificada, 1973

"É como se ela tivesse interessada em como eles são uma coisa e outra, em tentar entender a densidade, a diversidade e a complexidade que está em cada uma deles", diz o curador

Acervo Instituto Moreira Salles—Coleção Madalena Schwartz

"Ela é e não é uma judia imigrante, que teve que falar uma terceira língua. É e não é uma titia que tinha lavanderia. É e não é a fotógrafa corajosa e transgressiva", observa

Reprodução

Fotos: Acervo Instituto Moreira Salles/Coleção Madalena Schwartz

Reportagem: Tiago Dias

Edição: Luiza Sahd

Publicado em 29 de julho de 2021