Longe do fervo da noite, artistas drags tentam se manter trabalhando em casa
FavelaDrag/Divulgação
Dependente do calor de uma plateia (de preferência amontoada), essa arte agora luta pra extravasar, durante a pandemia
Já foi o tempo em que as drags só brilhavam na vida noturna. Agora, elas entregam hit do ano, estão na televisão e vêm inspirando cada vez mais jovens com humor, bate cabelo e performances hipnotizantes.
Um passo e tanto para quem, há pouco mais de dois anos, fazia vlogs em casa e postava suas composições no Soundcloud
Kika Boom estava prestes a lançar seu primeiro disco quando a pandemia chegou.
Arquivo pessoal
Antes da pandemia, minha vida profissional estava de vento em popa. No mês do carnaval fiz mais de 10 shows. A parte financeira estava ‘uh, que delícia’, mas agora eles não existem mais
Kika Boom, 25, de Goiânia (GO)
Arquivo Pessoal
O jeito foi voltar a apostar em vídeos -- e ela tem bombado com composições feitas a partir de sugestões de internautas. "Queria tanto estar fazendo shows e agora estou me vendo aqui trancada no meu quarto falando com uma câmera. Mas, no fim, tudo tem a mesma finalidade: entreter”
Instagram Kika Boom
"Só pelo fato de estar numa quebrada, a gente tem de ralar mais, porque rola preconceito. As manas saem desmontadas pra se montar na balada, com medo de apanhar na rua", diz Felippe Gonçalves, 22
Na periferia, há questões que vêm antes do entretenimento.
Arquivo Pessoal
A ideia antes da pandemia era fazer um “Miss Drag da Quebrada”: “Imagina só a final no Theatro Municipal?”
Morador da zona norte de SP, o maquiador e monitor cultural já vinha incluindo shows de drags e sarais com artistas da cena na Casa de Cultura da Vila Guilherme.
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Quando a casa fechou, a ideia saiu do papel virtualmente, em formato de websérie. “Favela Drag” entrou no ar em agosto com uma competição de drags
Favela Drag Reprodução
Para Felippe, várias drags não estariam produzindo se não fosse a websérie. "Muitas contaram estar desmotivadas. Cada uma tem sua vivência como um ser gay na periferia. Foi isso que deixou o programa mais rico", conta
Favela Drag Reprodução
É um projeto de extrema importância. A gente precisa se movimentar para o dinheiro entrar. E isso afeta nossa mente
Avante, 25, apresentadora do primeiro episódio de 'Favela Drag
É um desafio, principalmente para quem mora em casas pequenas. “Agora a gente tem que performar em novos espaços de forma lúdica: na cama, no sofá... Botar um lençol na parede e fingir que é fundo”, diz Avante
Favela Drag Reprodução
A final, exibida em 4 de setembro, coroou a drag Ginger Moon
Se nas baladas o que conta são os aplausos, aqui a avaliação vem do volume de interações, curtidas e comentários.
Favela Drag Reprodução
“Me deu força. Antes eu não conseguia. Estava na casa da minha mãe, e ela não aceitava por questões religiosas. Agora estou morando sozinho e posso ser quem eu quero ser.”
Foi só depois de “Favela Drag” que Felippe assumiu ser uma.
Arquivo pessoal
Figura lendária em São Paulo, ela ganhava a vida em clubes noturnos e se preparava para viajar com o stand-up “É o que tem pra hoje”
A pandemia também alterou a vida de drags mais conhecidas. Não foi diferente com Silvetty Montilla.
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Trabalho nas boates há 30 anos. Nossa arte foi uma das primeiras a parar e provavelmente será uma das últimas a voltar. E eu não acho que volte em 2020
Silvetty Montilla
YouTube Silvetty Montilla
Há seis meses sem trabalhar, ela precisou se reinventar. “Comecei a cozinhar, tentei dar um gás no canal do YouTube, o 'Cozinha com Montilla'. O canal deu uma crescida, mas tenho feito rifas, não vou mentir.”
YouTube Silvetty Montilla
Em vários sentidos, nada será como antes. Sem vacina, não sei quando meu trabalho vai poder voltar. E eu preciso de plateia para interagir