A REVOLUÇÃO
FOI FEMININA

Conhecido como 'Stonewall brasileiro',
o principal levante contra
a discriminação de LGBTs foi lésbico

Ovidio Vieira/Folhapress

Junho é conhecido como o mês do orgulho LGBTQIA+, graças à revolta ocorrida no bar Stonewall Inn, em Nova York (1969)

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 Por aqui, um evento parecido , quase 15 anos depois, marca este mês da visibilidade lésbica

Fred W. McDarrah/Getty Images

O protesto contra as incessantes e violentas batidas policiais em bares gays
se tornou um marco internacional

Há exatos 38 anos, um grupo de
 mulheres invadiram o Ferro's Bar,
extinto estabelecimento no centro
 de São Paulo, marcando o que viria
a ser o Dia do Orgulho Lésbico

Ovidio Vieira/Folhapress

A época era de reabertura política, mas não fazia muito tempo que o Ferro's, assim como outros bares da região, também eram alvos de incursões policiais que muitas vezes expulsavam as frequentadoras

Era resquício da chamada "Operação Sapatão", pilotada pelo delegado
José Wilson Richetti na época da ditadura

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Um manifesto produzido e distribuído
por coletivos dava conta do clima
no início dos anos 1980

Acervo Lésbico Brasileiro

“Sábado, dia 15 de novembro, por volta das 23 horas, entrou novamente em ação o aparato repressivo comandado pelo delegado Richetti. Dessa vez, o alvo das incursões noturnas de nossa polícia foram os bares Cachação, Ferro's Bar e Bexiguinha. As mulheres que lá se encontravam, munidas de todos os documentos, inclusive de carteira profissional, foram levadas indiscriminadamente com o seguinte argumento: ‘você é sapatão’"

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Esta é Rosely Roth, uma das fundadoras do GALF

O manifesto foi assinado também pelo que viria a ser o Grupo de Ação Lésbico-Feminista (GALF), que produzia e distribuía o "Chana com Chana", sensação no Ferro's Bar.

Luiz Carlos Murauskas/Folhapress

Recheado de poesia e cultura,
o jornal trazia um material farto
sobre direitos e identidade lésbica

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Havia tempo, porém, que algumas mulheres reclamavam do tratamento recebido pelo dono do bar, mas o estopim se deu mesmo em 23 de julho, com a proibição do "Chana Com Chana" no estabelecimento

Ovidio Vieira/Folhapress

"Enquanto são meras consumidoras, beleza. A partir do momento que se torna um ponto de encontro mais politizado, começa
a incomodar", observa a historiadora
Letícia Batista, da PUC-SP

Pesquisadoras alegam que a tentativa de politizar o ambiente, além do nome do jornal, incomodou o proprietário, que usou de força física para impedir a distribuição

Ovidio Vieira/Folhapress

"OU NÓS NOS UNIMOS OU CENAS COMO A DO SÁBADO PASSADO CONTINUARÃO A OCORRER E PODERÁ SER COM QUALQUER UMA DE NÓS POR QUALQUER MOTIVO"

Ovidio Vieira/Folhapress

O GALF logo organizou o que
chamou de "happening".
O folheto de chamamento dizia:

No dia 19 de agosto, por volta das 22h, o grupo, liderado por Rosely Roth e acompanhado por participantes de outros movimentos sociais, ocuparam o Ferro’s Bar em protesto

Ovidio Vieira/Folhapress

Rosely Roth aparece discursando em cima de uma mesa. O proprietário, espantado com o levante, se desculpou

O ato foi registrado pelo fotógrafo Ovidio Vieira

Ovidio Vieira/Folhapress

"Ele só voltou atrás por causa da nossa força, nossa união. A democracia neste bar só depende de nós", disse Rosely, segundo matéria da Folha de S.Paulo na época

Acervo Lésbico Brasileiro

Não apenas do bar. A primeira manifestação lésbica brasileira incentivou outros grupos LGBTQIA+ e organizações feministas a reafirmarem sua existência e dignidade

"É uma data de extrema importância para reconstruir a história e mostrar que essas mulheres existem há um bom tempo", diz
a historiadora Letícia Batista,
que integra o Acervo Lésbico Brasileiro

A data do protesto se tornou Dia do Orgulho Lésbico, aprovado pela Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo,
em junho de 2008

Danilo Verpa/Folhapress

Agradecimento:
Acervo Lésbico Brasileiro

Reportagem: Tiago Dias

Edição: Luiza Sahd

Publicado em 19 de agosto de 2021