Ilustrações a carvão do artista Ritchelly refletem sobre a falta de saneamento básico no Brasil
É o que o artista paraense Ritchelly Oliveira, 26, mais ouve sobre seu trabalho
"Parece fotografia!"
"Eu adoro ouvir isso. Pra mim, é um elogio"
Fotografias servem de referência, mas a ilustração realista é feita nos mínimos detalhes apenas com carvão
Ritchelly desenha desde a infância em Xinguara, cidade no interior do Pará com 43 mil habitantes.
Usou cor, experimentou abstrações, mas, com o tempo, entrou de vez no realismo
Crédito da imagem, se necessário
Hoje, ele reproduz a expressão de rostos e corpos inteiros, em traços foscos e escuros
"O carvão revela a potência dessas pessoas. Possibilita inúmeros tons numa cor só", diz o artista
Na quarentena, o período de "sufoco" o fez levar o carvão para outros lugares
Suas ilustrações foram capturar ambientes precários, com pouca estrutura, e pessoas pegando no pesado
São imagens que retratam ações cidadãs, trabalhando pela expansão da rede de saneamento básico no Brasil
Por um tempo, Ritchelly deixou de focar rostos e pessoas para retratar lugares, ruas, espaços urbanos e as transformações nessas localidades.
Os projetos levam soluções inovadoras a lugares onde não há banheiro, água encanada ou rede de esgoto.
"Minha pesquisa nunca deixou de ser sobre pessoas, vivências, suas realidades. Sempre procurei pautas mais objetivas dentro do que é social”, diz Ritchelly
“Finalizando as imagens, pensei nos meus avós que há 20 anos viviam aquela realidade”, relembra
O trabalho serviu de ponte para a própria infância, época em que a família tinha apenas uma “casinha” no meio do mato.
"Foi muito importante retomar essa realidade. Falo não de forma romântica, mas como algo urgente que tem que ser feito"
As memórias dão outra carga de energia ao trabalho do ilustrador.
"O processo começou conhecendo essa realidade, essas histórias. A potência do material usado se une à força dessas pessoas. O produto final é um suspiro”
Essa imagem é da favela Vila Moraes, em São Paulo.