Muitas sofrem, ao mesmo tempo, problemas de ereção e uma irritação similar a uma TPM. Outras consideram ter um relacionamento heterossexual com seus namorados, mas chamam de “mariconas” seus clientes enrustidos. Poucas, porém, conseguem escapar do destino que o Brasil até agora reservou para elas: a prostituição.
Se arrumar emprego formal está difícil para todo mundo, imagina para uma travesti, historicamente excluída desse grupo “todo mundo”. O empresário ou executivo que contrata seus serviços à noite foge dela à luz do dia. Mas o mercado de trabalho está se abrindo aos poucos graças a empresas e ONGs corajosas e ao estímulo público. As travestis, em geral, deixaram a família e os estudos cedo por conta do preconceito. Agora voltam às aulas e, melhor, chamadas pelo nome social.
Esse movimento ocorre numa sociedade cujos sentimentos de desejo e repulsa são extremados. O Brasil é o maior consumidor mundial de pornografia com travestis (vê 89% a mais do que a média mundial, segundo o site RedTube). Por outro lado, é o país que mais mata travestis e transexuais (quatro vezes mais que o segundo colocado, o México), segundo a ONG Transgender Europe, com dados de 2008 a 2013. Chegou a hora de tratá-las por aqui não apenas com os instintos humanos mais básicos.