Uma das seis artistas convidadas a retratar a genitália feminina neste TAB confessou: desenhar um pênis lhe pareceu mais fácil. Ela não tinha imaginado que fosse tão difícil ficar satisfeita com a ilustração de parte do seu corpo. A constatação faz sentido, e não só pela vulva ser menos aparente, mas se pensarmos que estamos mais acostumados tanto com a imagem quanto com as palavras para designar o órgão masculino. É só lembrar quantas vezes ouvimos “caralho” diariamente, inclusive em situações formais.
Mas mesmo falar “vagina” ou “vulva”, que são nomes científicos, continua uma questão contemporânea, seja no público ou no privado. A educadora sexual e empresária Clariana Leal lembra como foi apresentada a esse “não debate” nos anos 1990, quando vivia no Ceará com sua família. “Eram palavras meio proibidas (vagina e vulva). Sou filha única e tenho uma relação boa com minha mãe, mas ela usava termos infantilizados e, quando falava, no máximo era pra eu tirar a mão dali. Eu achava que era algo sujo. Acho que o ‘não falar’ gerou em mim um trauma. Na adolescência pensei até em fazer ninfoplastia (cirurgia que modifica a aparência da região) porque achei que tinha algo errado ali”, conta.
Sentimentos como o de Clariana são comuns. Até porque muitas pessoas não associam corretamente os nomes à região: vulva é o conjunto de órgãos genitais externos, e vagina é o canal interior. É claro que a linguagem oral é influenciada por muitos outros fatores - por isso mesmo, neste TAB é mantido o nome que cada pessoa entrevistada dá à genitália -, mas é interessante notar que se trata de uma parte do corpo que, diferente de outras, muita gente não sabe direito como chama, e que ganhou uma infinidade de nomes.