A hora da ideia

# 59
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Esta reportagem sobre criatividade não falará sobre as inovações de Steve Jobs, as premiadas peças de um publicitário ou qualquer descoberta revolucionária. Porque, ao contrário de uma crença bastante difundida, a capacidade de inovar vai além de algumas poucas mentes iluminadas. Nem está limitada a grandes ideias que mudarão os rumos da história. Ela fica logo ali, acessível para quem estiver disposto a sair do trilho, a colocar uma nova moldura na realidade, a fazer diferentes combinações, a experimentar.

Para as pessoas jurídicas, inovação virou sinônimo de lucro. Para as físicas, a criatividade consolidou-se no ranking das qualidades mais desejadas. Se quiser chegar lá, mesmo sem o status de criativo nato, você pode aplicar o princípio da musculação: exercite para fortalecer (as ideias, não os músculos). Com a vantagem de não ter de suar loucamente para pensar diferente. A prática pode ser feita com iniciativas muitas vezes simples, como mostram os entrevistados deste TAB.

TextoJuliana Carpanez

DesignRené Cardillo

Os neons deste TAB são obras do artista Kleber Matheus

Ella Uzan, 31 Fotógrafa

Num momento de desespero, a israelense descobriu como a criatividade podia jogar a seu favor. Hoje, aposta no pensamento lateral, uma técnica para fugir do óbvio

Na primeira encomenda que recebeu de uma revista de moda, em 2012, a fotógrafa ficou empolgadíssima - até então, seus cliques eram basicamente projetos pessoais protagonizados por amigos. Com um estilo norteado pela fantasia, a israelense criou para sua estreia profissional o conceito de uma garota com um unicórnio. Fez então o chifre do animal e alugou um cavalo branco que dividiria com a modelo a atenção da câmera. Mas, passada apenas uma hora da sessão, o dono do cavalo se encheu e foi embora com o animal, deixando para trás a equipe e todo o conceito idealizado por Ella.

"Fiquei em pânico. Vi todo o projeto escapando e não sabia o que fazer. Olhei, triste, para o chifre em minhas mãos. Depois olhei para a modelo e a ideia me veio: fiz do acessório um adorno para a cabeça dela", contou Ella, relatando um momento em que sua criatividade a ajudou a resolver um problema. "Foi uma decisão espontânea de fazer algo com clima apocalíptico. Inventei uma nova história, usando aquilo que encontrei na locação, e a revista amou as fotos." Final feliz para a primeira experiência profissional.

Em situações que pedem improviso, atividades são registradas em diferentes áreas do cérebro, permitindo que nos distanciemos daquela funcionalidade original

Evangelia Chrysikou Coordenadora do laboratório de neurociência cognitiva da Universidade do Kansas (EUA)

O improviso é uma característica marcante desde que começou a fotografar, há quatro anos. Ella aposta mais na imaginação e na edição do que em câmeras e lentes caras. "Sem esse tipo de equipamento, preciso ser criativa. Não tenho escolha a não ser trabalhar com aquilo que está disponível e desenvolver pequenos truques para fazer fotos. Experimento coisas novas o tempo todo." Isso inclui forrar uma banheira com saco de lixo preto, enchê-la de água e despejar leite para simular névoa em volta da pessoa fotografada. Ou criar efeitos cobrindo a lente com saco plástico, tecido e até hidratante.

Levando esse contexto para o dia a dia, seria como colocar um filtro diferente sobre aquilo que conhecemos. Isso pode começar como exercício até tornar-se hábito. Praticar é fácil (e, com sorte, gostoso): um curso para solução criativa de problemas na Universidade de Minnesota (EUA) prega que experimentar comidas diferentes já ajuda no processo.

O hábito de variar ajuda a construir uma capacidade própria de desenvolver novas ideias, assim como uma ecologia diversa possibilita muitas formas diferentes de vida

Brad Hokanson Professor de solução criativa de problemas na Universidade de Minnesota (EUA)

Pensamento Lateral Como pensar fora da caixa?

Wellington Nogueira, 54 Fundador da ONG Doutores da Alegria

Todos são criativos, até que nos convençam do contrário. Infelizmente, é isso o que fazem a escola, a família e a sociedade. A saída aqui pode ser desaprender essa lição

Toda criança já deve ter ouvido - e muitos adultos falado - a frase "acabou a brincadeira". Para Wellington, ele funciona como guilhotina do impulso criativo. "Quando a brincadeira acaba, todos viram soldados: cumprem ordens e se tornam iguais", afirma. Perde-se, portanto, a individualidade e habilidade de cada um enxergar o mundo de maneira diferente. As conclusões de Wellington têm como base 24 anos à frente do Doutores da Alegria, uma atividade na qual criatividade é ferramenta de trabalho: nem tudo o que funciona com um paciente servirá para os demais.

Para chegar aos resultados desejados, seu foco está sempre voltado à experimentação e ao improviso - situações em que o medo de errar fica de fora. Tenta-se até acertar, assim como você fez quando aprendeu a escrever. Ou como no caso em que uma paciente não deixava Wellington entrar no quarto. Ele entendeu que seu espaço de atuação estava restrito ao batente da porta e foi de lá que conquistou a garotinha durante semanas, até ela finalmente liberar sua aproximação.

Quando chega à fase adulta, a maioria das crianças perde essa capacidade [de inovar]. Elas têm pavor de estarem erradas. [...] Estigmatizamos os erros. [...] como resultado, estamos educando as pessoas para serem menos criativas

Ken Robinson Consultor e protagonista do vídeo mais popular do TED.com, sobre educação e criatividade

Improvisar também foi a saída quando o ator, que virou palhaço após conhecer o projeto Clown Care Unit, visitou uma criança em isolamento. Tudo naquele espaço era esterilizado. A dupla do Doutores da Alegria entrou toda coberta, só com os olhos de fora, sem saber exatamente como entreter o paciente. De cara, a criança contou que seu macaco de pelúcia (também esterilizado) estava fazendo aniversário. Sem nenhum recurso, só imaginação, eles prepararam uma festa com direito a compras no mercado, mesa de doces e parabéns. "Consigo ver até hoje o bolo de chocolate. Estava tudo lá. A criança criou esse universo em poucos minutos, seu jogo não tinha limites", lembra Wellington.

A situação mostra como a imaginação se sobrepõe às limitações: "Quer espaço mais sério que o de um hospital?". Para Wellington, o contato com o lado criança é essencial para o espírito criativo. "A criatividade está sempre convidando você a sair daquilo que conhece, a explorar o novo. E quem sai feliz da zona de conforto? A criança", afirma. Foi isso que levou o Doutores da Alegria a oferecer o curso "Palhaço para Curiosos", que na prática ensina adultos a brincarem sem competir e realmente se divertindo. "Quando pegam essa essência, eles se libertam e começam a ter ideias estapafúrdias. Oooops, são insights criativos", brinca Wellington.

A gente nasce criativo, mas desaprende. Com essas estruturas impostas, vamos deixando de explorar, de experimentar. Felizmente isso é reversível. A metodologia criativa hoje dá destaque ao ser criança, a voltar àquele estado que abandonamos

Bia RussoProfessora de Inovação e Processos Criativos da ESPM Rio

Já pensou?

Você pode exercitar o pensamento lateral ao descartar o óbvio e chegar a conclusões diferentes daquelas que vêm de imediato à cabeça. As perguntas a seguir, elaboradas pela Universidade de Kent (Reino Unido), colocam isso em prática

1

Você está sozinho em uma ilha deserta à noite. Tem uma lamparina, uma vela, lenha e apenas um fósforo.

O que você acende primeiro?

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1

Fósforo

Próxima

2

O que você pode fazer com uma caixa de madeira para deixá-la mais leve? Quanto mais fizer, mais leve ela fica.

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2

Buracos

Próxima

3

Um homem pode casar com a irmã de sua viúva?

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3

Não, porque ele está morto

Próxima

4

Um homem está limpando as janelas de um prédio no 25º andar, quando escorrega e cai. Ele não está usando equipamento de segurança. Nada impede sua queda e ele não se machuca. Como é possível?

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4

Ele estava limpando as janelas pelo lado de dentro

Próxima

5

Numa corrida, você ultrapassa o segundo colocado. Qual sua posição?

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5

Segunda: você ocupou o lugar do segundo colocado

Próxima

6

Se um avião cai na fronteira entre Itália e Suíça, onde são enterrados os sobreviventes?

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6

Sobreviventes não são enterrados

Próxima

7

Qual palavra sempre é soletrada incorretamente?

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7

Incorretamente

Próxima

8

Quatro pessoas tentam entrar debaixo de um guarda-chuva e ninguém se molha. Como é possível?

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8

Não está chovendo

Próxima

9

O que você consegue segurar com sua mão direita, mas não com a esquerda?

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9

O cotovelo esquerdo

Próxima

10

Qual é uma invenção antiga, ainda usada hoje, que permite ver através da parede?

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10

Janela

Refazer

Paulo Tassio Melo, 27 Estudante de engenharia da computação

A empatia, capacidade de se colocar no lugar do outro, impulsiona a inovação. A vontade de melhorar o entorno não se baseia só no original: pode surgir da combinação entre elementos conhecidos

Paulo Tassio não tem nenhum contato próximo com cegos, mas percebeu em 2014 que sua formação poderia ajudá-los. "Notei a dificuldade de locomoção dos deficientes visuais, que sofrem com frequência pequenos acidentes diários", diz. Surgiu assim a ideia da luva com sensor ultrassônico, um complemento para a bengala. O acessório emite uma onda magnética que identifica o obstáculo, e o sensor calcula a distância até ele. Quanto mais perto do usuário, mais forte a vibração feita sobre a mão.

A luva não substitui a bengala, mas auxilia na locomoção, pois pode ser direcionada para qualquer direção. Dá para evitar choque com objetos que antes não eram percebidos, como telefones públicos, que têm a cabine suspensa, por exemplo.

Sentir qual a real necessidade do outro faz com que você comece a pensar de uma maneira diferente. Existe uma necessidade que não está sendo atendida e pode haver um improviso, uma gambiarra, para supri-la. A necessidade estimula a criatividade

Juliana Proserpio Cofundadora do grupo Echos, da escola Design Thinking

Ele já conhecia o funcionamento do sensor por causa de outro projeto universitário: um robô explorador de áreas de risco, como um prédio prestes a desabar. A frequência ultrassônica evitaria o choque com obstáculos, enquanto outros mecanismos captariam imagens, temperatura, umidade e luminosidade. A ideia não foi para frente por causa do alto custo, mas aquele mesmo sensor ganhou outra utilidade quando Paulo desenvolveu a luva. O custo do protótipo foi de R$ 120 e, por isso, o estudante de Belém (PA) acredita tratar-se de um projeto economicamente viável.

Uma criação não precisa ser 100% original para fazer história: em muitos casos a revolução baseia-se na combinação de boas ideias. Foi o que fez Johannes Gutenberg no século 15, quando uniu o sistema de tipos móveis à prensa então usada na produção de vinhos. "Pegou uma máquina destinada a embriagar pessoas e a transformou numa máquina para a comunicação de massa", resume o especialista em inovação Steven Johnson.

Parte importante da genialidade não está em conceber algo inteiramente novo a partir do zero, mas em tomar emprestada uma tecnologia madura de um campo inteiramente diferente e usá-la para resolver um problema de outra natureza

Steven Johnson Trecho do livro "De Onde Vêm as Boas Ideias"

Quer que eu desenhe?

O teste Torrance é uma referência para avaliar o pensamento criativo. Uma das atividades propõe criar algo com base nos traços abaixo. Depois de desenhar, veja o que outras pessoas fizeram. Na comparação, você considera sua obra criativa?

Recomeçar
Girar desenho
Terminar
Ver outros
Fazer
de novo
Voltar

Ferran Adrià, 53 Chef de cozinha

A zona de conforto não é exatamente um celeiro criativo. A curiosidade e a pressão podem ser motores para ir além e inovar, como mostra a trajetória profissional do aclamado chef espanhol

No jantar que encerrou em 2011 as atividades do premiado restaurante El Bulli, o chef espanhol serviu suspiro de marisco, espuma de fumaça e quinoa gelada de foie gras. Não precisa ter experimentado para saber que se trata de algo diferente - uma marca do estabelecimento responsável por criar 1.846 pratos durante 25 anos. Na base da inovação está a curiosidade de Adrià: adepto à desconstrução dos ingredientes, ele contou ter levado oito meses para "entender" a alface - e não parecia brincadeira.

O combustível para criar também está na curiosidade, no fluxo constante de informações obtidas ao perguntar, pesquisar, estudar, entender, questionar. Numa analogia inusitada, a escritora Elizabeth Gilbert compara a mente criativa a um cachorro da raça border collie: precisa estar sempre em atividade para não destruir seu sofá. "Apenas lhe dê algo para fazer e você terá uma vida muito melhor."

Quando entrar em contato com a curiosidade e permitir-se segui-la, você perceberá rapidamente uma vida muito mais criativa do que antes. A curiosidade não tira nada de você. Ela só dá. E o que ela dá são pistas [...] de que você é único

Elizabeth Gilbert Autora do livro "Grande Magia: Vida criativa sem Medo"

Eleito cinco vezes o melhor do mundo, o restaurante funcionava seis meses por ano - os outros seis eram dedicados à reinvenção do cardápio. E fechou porque Adrià considerou ter chegado a um limite da inovação, quando começaria a se repetir. Veio desse temor seus novos projetos: a fundação El Bulli e a Bullipedia. O primeiro consiste em um espaço de inovação em Barcelona, onde 70 pessoas trabalham para entender o processo da criatividade. O segundo seria uma Wikipedia da alta gastronomia. "Estamos tentando criar a linguagem da criatividade", afirmou ao "The New York Times", reconhecendo tratar-se de uma iniciativa pretensiosa.

A pressão que ele enfrentava na cozinha deve continuar, mas agora voltada à busca de conhecimento: "Sou cozinheiro, quero continuar sendo, continuar criativo, mas sem [trabalhar em] restaurantes", disse no programa "Roda Viva" em 2014. Na ocasião, também deixou claro que ser criativo é diferente de ser uma unanimidade: servia pratos para os clientes gostarem e não gostarem, repetindo uma mistura causada pelos filmes de terror. A busca incessante para atender às expectativas, claro, cobra um preço alto. Mas ele parecia estar conformado: "Sem pressão não existe criatividade".

Como nosso cérebro é afeito aos padrões, o único momento em que ele permite novas possibilidades é quando a coisa complica. [...] É o 'Te vira, negão!': não existe nada que estimule mais a criatividade que a obrigação de resolver um problema

Henrique Szklo Estudioso de criatividade e pensador-chefe da Chickenz Consultoria

Junto e misturado

O software Verbasizer foi desenvolvido por David Bowie e um amigo, segundo o documentário "Inspirations". A ideia é embaralhar textos jornalísticos, com as combinações aleatórias de palavras servindo de inspiração para letras de músicas. Na versão TAB, abaixo, as frases vêm dos títulos das últimas notícias do UOL

João Edson Trajano Borges, 43 Porteiro e vendedor de produtos de limpeza

Criatividade não é sinônimo de ideias mirabolantes. Nem está restrita àqueles que levam o título de "genial". Ela pertence a todos e pode ser materializada sem dramas existenciais

A ideia é simples, bem simples: um suporte de nylon para guarda-chuva que, preso ao corpo, permite ao usuário se proteger mantendo as mãos livres. Mas foram 12 anos entre a criação de um protótipo caseiro, em 2001, e sua apresentação para a Associação Nacional dos Inventores, onde João teve a validação de que aquela ideia - hoje patenteada - poderia mesmo ser boa. A insegurança é comum, considerando que estamos falando sobre o novo, o inédito: se algo deveria mesmo existir, por que ninguém inventou antes?

Foi cobaia do próprio invento: "Cortei as tiras de nylon medindo no meu corpo e costurei tudo à mão. Deixei guardado a sete chaves, escondido", conta o ex-carteiro que mora em São Paulo e estudou até o ensino médio.

A certeza é inimiga da criatividade. A vida de um criativo é feita de emoções: inseguranças, ansiedades, fracassos e vitórias. [...] Todo mundo repete: "Nossa, como eu penso merda!". Não, não é merda, é adubo. Adubo para a criatividade

Henrique Szklo Estudioso de criatividade e pensador-chefe da Chickenz Consultoria

O motivo de tanta espera, diz, foi o casamento com alguém que não aprovava nem incentivava suas invenções. A união acabou, o projeto finalmente saiu do armário e João afirma hoje ter outras ideias - inclusive uma de autoria do irmão - que pretende patentear nos próximos anos. "Todo mundo pode pensar em algo criativo. É só imaginar o que será útil para um público específico", ensina ele, agora à procura de um patrocinador para sua primeira invenção.

Um estudo publicado em 2015 no "Journal of Personality and Social Psychology" aponta a persistência como um fator decisivo para a criatividade e indica que as pessoas subestimam sua determinação na hora de resolver problemas de maneira inovadora. Portanto, se você é adepto ao boicote, apenas pare.

Um fator importante a ser considerado é o ambiente: é mais fácil criar num local onde há menos censura, onde o pensar diferente vai ser valorizado. é essencial conhecer o processo criativo e também estar cercado de pessoas abertas e estimulantes

Gisela Kassoy Consultora especialista em criatividade

Luana Gomes, 18 Estudante do ensino médio

A necessidade pode ser inspiradora, como conta a moradora de uma comunidade carente. A consciência de que é possível redesenhar o mundo permite reinventar aquilo que não satisfaz

"Minha inspiração vem da necessidade." Isso foi o que motivou a jovem moradora da Rocinha, no Rio, a criar com dois colegas, no ano passado, o projeto Gota D´Água. "As melhores ideias vêm daí, de querer melhorar nossas vidas e a de outras pessoas", afirmou ao explicar o sistema de coleta para água da chuva, composto por uma lona, um galão, fios com prendedores e uma cinta. A família a chamou de maluca durante os testes, mas, quando viu o resultado, seu pai chegou a se emocionar.

Tudo o que não foi criado pela natureza é de autoria do homem. Se criamos, também podemos recriá-lo. Não devo considerar algo estático só porque existe há mais tempo do que eu. Essa consciência de que podemos redesenhar o mundo é algo muito grande

Juliana Proserpio Cofundadora do grupo Echos, da escola Design Thinking

Entre tudo o que a incomodava na comunidade - "problema é o que não falta", diz -, a escassez de água era o principal. Ainda mais pela frequência: de duas a três vezes por semana. Agora, quando chove, ela chega a ter reserva para a descarga, para lavar o chão e também a roupa, quando a água vem limpa. Calcula que a economia com a compra de galões chega a R$ 160 mensais para sua casa, onde mora com outras cinco pessoas.

Também houve lucro: os inventores chegaram a vender o sistema por R$ 40 a unidade. Luana diz que cogitaram soluções mirabolantes, como transformar esgoto em água potável ou capturar a umidade do ar. "Mas a gente mora na favela e isso acaba saindo caro. Tínhamos de adaptar a solução para nossa realidade." A questão se repete no ambiente corporativo, onde hoje valoriza-se muito a inovação, mas os recursos financeiros geralmente são limitados.

O Gota D´Água levou três meses para ser concluído e foi desenvolvido no Tunnel Lab - instituição sem fins lucrativos que incentiva jovens carentes a encontrarem soluções inovadoras de negócios para os desafios de suas comunidades. A próxima meta de Luana é cursar a faculdade de engenharia de produção. Inspiração ela já mostrou que tem.

Juliana Carpanez

Editora do UOL. Compartilha a bolha que mistura texto e emoji, mas ainda prefere os padrões de Hollywood.*

tabuol@uol.com.br

* Exercício (nonsense) de criatividade, o texto mistura trechos de outras assinaturas desta mesma autora.

Esta reportagem também contou com apoio de:

Associação Nacional dos Inventores; Kleber Matheus, artista plástico; Pixel Show; 7irisfilmes, câmera; Universidade Estácio de Sá.

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