O prefeito Bruno Covas (PSDB) sempre afirmou que as premissas de sua gestão da pandemia eram não deixar pessoas sem atendimento médico e dar enterro digno a todos os mortos. As filas por vaga em UTI colocaram por terra o primeiro princípio. Para respeitar o segundo, um plano de contingência está em curso.
O departamento funerário contratou 35 funcionários para fazer sepultamentos nos 22 cemitérios municipais. Está em andamento a locação de seis miniescavadeiras com operador e combustível, para agilizar a abertura de sepulturas.
O trabalho de exumação de cadáveres continua no mesmo ritmo, dizem os funcionários. Em covas públicas, a lei permite que depois de três anos a ossada seja retirada para dar lugar a outros. Ela é identificada e vai para um ossário, ficando à disposição da família, que escolhe a destinação. Os coveiros depositam um saco azul ao lado das lápides e começam a cavar. Encontram o caixão quando a terra está acima dos joelhos. O ritual lúgubre também é uma lição de humildade. O terno caro, o sapato de marca e o caixão de madeira de lei não diferenciam ninguém. Tudo vira um emaranhado, a ser descartado na caçamba de entulho.
O finado será lembrado pelo que fez, não pelo que teve. Sem capacidade de mudar sua história, até o ato de ceder o lugar a outra pessoa é involuntário. A retirada da ossada obedece as providências do enfrentamento à crise sanitária.
O esquema emergencial dos próximos dias também contará com oito torres de iluminação para permitir enterros à noite nos cemitérios públicos da cidade. Hoje, o serviço vai até 18h, mas esse limite dá conta de 400 sepultamentos por dia. No último domingo (21), São Paulo bateu seu recorde de enterros: 373. Se a foto aérea foi o símbolo da pandemia nos cemitérios na primeira onda, o esquema emergencial é candidato a se tornar a marca desta.