Ruas de grandes metrópoles desertas. O Papa Francisco fazendo uma missa para um imenso vazio no Vaticano. Andrea Bocelli cantando sem público na Catedral de Milão. São inúmeros os acontecimentos inusitados que testemunhamos, mesmo que à distância, anunciando um período estranho e perigoso do século 21. E como a realidade é bem mais estranha do que a ficção, o entretenimento corre para se adaptar.
A normalidade já não andava normal desde o fim do Carnaval, com o novo coronavírus se espalhando pelo país, mas o cancelamento das telenovelas e dos campeonatos de futebol — que ainda sequestram a atenção de multidões — foi um ponto alto na curva da estranheza. Duas coisas, porém, não pararam: o noticiário, claro, e a vigésima edição do "Big Brother Brasil". Agora, o reality parece ter se tornado o pequeno pedaço de corda a se agarrar e fugir, mesmo que seja por alguns minutos, da realidade da Covid-19 — de hospitais lotados, mortes sem adeus e distanciamento físico de quem amamos. Nunca foi tão reconfortante assistir à autoficção de participantes confinados dentro de uma casa chorando, gritando e se embebedando pelo prêmio de R$ 1,5 milhão.
A vigésima edição do programa começou alheia ao novo coronavírus, mas saiu ganhando ao apostar as fichas em um novo formato. Pela primeira vez no reality brasileiro, influencers digitais com milhões de seguidores disputam ao lado de desconhecidos o grande prêmio. A entrada de famosos poderia facilmente transformar o programa em um jogo de cartas marcadas, mas o desenrolar da narrativa dos participantes — todos intensos a ponto de garantir um bom show — compensou.