"O terreno e a casa que ele lutou tanto para ter hoje estão em cima dele." A diarista Joselita Bonfim, 56, sobreviveu ao deslizamento de terra em Franco da Rocha (SP) que vitimou sete pessoas de sua família, inclusive seu pai, José Bonfim Filho, 82, retirado dos escombros poucas horas antes.
O estrondo quando o domingo (30) já estava amanhecendo assustou o bairro Parque Paulista, no município da Grande São Paulo. Após dois dias de temporal, o morro vizinho desabou. As casas atravessaram a rua São Carlos, levaram junto os postes de luz e engoliram as da frente, empurradas pela avalanche de terra.
Tio Zeca, como era chamado por toda a vizinhança, veio com a família de Campo Formoso, no sertão da Bahia, havia 35 anos. Depois de morar de aluguel na Casa Verde, bairro da zona norte de São Paulo, o pedreiro ouviu falar de uma área pública que estava sendo ocupada perto da linha do trem. Era o ano de 2000, e José Bonfim trouxe toda a família para Franco da Rocha. Na base do mutirão de fim de semana com os vizinhos, construíram quatro casas. Duas desabaram nesta semana.
"Agora me assusto quando escuto o trem passando. O barulho é muito parecido com o desmoronamento. Parece que tudo vai acontecer de novo", conta Larissa Bonfim, 24, que escapou correndo da casa e só percebeu que a mãe, dona Joselita, também tinha se salvado quando encontrou no meio da rua o chinelo dela, que tinha escorregado de seu pé. O trem, que atraiu essa gente para aquela área perigosa pela facilidade de transporte, lembra a cada dez minutos da tragédia que aquela família vive.