Sentadas em duas fileiras de cadeiras, diante do retroprojetor conduzido por uma psicóloga, as sete velhinhas tinham de acertar, de memória, quais letras e números formavam um par, depois de observar uma tabela projetada no painel. Parece que gabaritavam. Em seguida, a psicóloga propôs o mesmo exercício com formas geométricas e, depois, palavras:
1-BOLO
2-AMOR
3-GARFO
4-BABOSA
5-MALUCA
6-PEQUENO
Jogos para driblar a senilidade, além de fisioterapia, pintura e artesanato, ocupam os dias dos 75 idosos que vivem no Lar Sant'Ana, residencial de alto padrão para a terceira idade no Alto de Pinheiros, bairro de classe média-alta na zona oeste da capital paulista.
Às 10h de uma quarta-feira, os residentes circulavam pelos três sobrados de arquitetura colonial. A maioria se espalhava pelo grande salão, cheio de poltronas e sofás, banhado pela luz que escapava de um jardim de inverno. Alguns deles tinham hora marcada para se exercitarem nas máquinas pneumáticas importadas da Finlândia, e boa parte se recolhia, após o café da manhã, a seus respectivos quartos.
O empresário aposentado Euclides Bacci Álvares, 84, que trabalhava na construção civil, era o único idoso na sala de artes. Ao lado do terapeuta, brincava com um jogo cognitivo de combinações silábicas. Desde 2018 ele mora no asilo com a esposa, com quem é casado há 54 anos. Álvares fala com gestos largos: "Aqui estamos nessa idade que não tem mais nada pela frente na vida. É comer, beber, dormir e se divertir".