"Vamos de Bolsonaro de novo?", pergunta o borracheiro Jaime Vieira, 28, a um cliente, enquanto limpa as mãos na camiseta manchada de água sanitária bem no peito.
"É o quê?", retruca o homem, franzindo a testa, sem entender a frase. Um ônibus acaba de passar na estrada, a poucos metros dos dois, e o barulho do motor bagunça ainda mais o diálogo ruidoso.
A oficina onde Jaime trabalha é um dos primeiros comércios à vista de quem chega a Pontão, no norte do Rio Grande do Sul, vindo da vizinha Passo Fundo. Fica à beira da rodovia RS-324, abraçada pelo mundaréu verde da soja e de alguns pés de eucalipto. Bem ao lado do galpão, num outdoor, o presidente da República esboça seu meio sorriso. O cartaz anuncia "Fechado com Bolsonaro" e o lema "Deus, Pátria, Família".
Com o silêncio que recebeu de volta, o borracheiro insiste. Sobe o tom de voz e diminui o ritmo da pronúncia. "Vamos de Bolsonaro de novo, né?". Certo do que ouvia, o outro coloca as mãos para trás do corpo e não titubeia: "Claro que sim. PT já era".
O resultado das eleições de 2018 ainda é assunto no pequeno município de 3.857 habitantes. O voto de seus 3.082 eleitores rachou a cidade ao meio. Jair Bolsonaro (àquela época no PSL) ganhou por apenas um voto de diferença sobre Fernando Haddad (PT) no segundo turno. Foram 1.297 eleitores contra 1.296 — uma virada sobre o resultado do primeiro turno, quando o candidato do PT estava à frente com uma diferença de quase 30 votos.
A vitória bolsonarista surpreendeu o município considerado uma ilha petista no interior gaúcho.