Aline Sousa da Silva, 31, teve o primeiro contato com o dia a dia dos catadores de lixo aos 14 anos, quando se mudou para uma ocupação irregular em Taguatinga, cidade-satélite de Brasília. A família era muito grande, e o pai tinha umas coisas velhas que trocou por uma caminhonete. Do carro carregado de lixo viria o sustento.
Coordenadora do MNCR (Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis) e também presidente da Centcoop (Central de Cooperativas de Materiais Recicláveis do Distrito Federal), ela conta que o pai não abriu mão de matricular todos os filhos na escola. No contraturno, ela trabalhava com a avó, também catadora, na rua.
Aline é a terceira geração de catadores na família, Estudou até o 1º ano do ensino médio e fez exame para concluir os estudos em 2019. Foi vendo a avó recolher material na lixeira, separando tudo antes de pôr no carrinho, que Aline entendeu como o dinheiro chegava em casa.
A Centcoop é um complexo de reciclagem na Cidade Estrutural, a 15 quilômetros de Brasília, onde são feitas a triagem e a comercialização de material recolhido em 11 cooperativas. O maior lixão da América Latina também ficava ali, exatamente na Estrutural, e foi desativado em 2018. A criação do complexo foi fundamental para acolher e dar meios de subsistência mais decentes aos que dependiam do lixão.
Apesar da estruturação, os trabalhadores estão longe de ter sua dignidade assegurada. Aline conta que o fato de as pessoas não separarem o lixo doméstico faz com que "o catador se sinta pior do que aquele lixo que ele está separando". "A gente encontra de tudo: bicho morto, fezes e tanta coisa que não deveria passar por aqui."
Ela não quer o mesmo futuro para seus sete filhos. E nem que outras crianças tenham infâncias marcadas por essa experiência. "Meus filhos não ficam aqui no complexo. Falo que tem que estudar."