"Não precisa botar doutor não, tá?" João Alho, médico formado na UEPA-Santarém (Universidade do Estado do Pará), reumatologista e clínico geral pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), faz parte da legião de médicos que vêm tomando as redes sociais.
Com a pandemia de Covid-19, cientistas e profissionais da saúde estão toda hora no noticiário. Não deixa de ser uma revanche. Nos consultórios, especialistas já falavam do efeito "Doutor Google" nas consultas -- aquele em que o paciente já chega "autodiagnosticado", de tanto que leu sobre seus males e dores pela internet. A população procura informações em todos os cantos, sejam elas alarmistas, corretas ou falsamente esperançosas. Natural, então, que o momento seja de dar a cara pra bater no ambiente online.
Nessa avalanche de exposição, ficou claro, entretanto, que médicos e cientistas não são os donos da verdade. Elenice Bertanha Consonni, professora de psicologia para alunos de Medicina e Enfermagem na FMB-Unesp (Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista), acredita que a pandemia "reacendeu os questionamentos do paciente sobre o 'saber médico'. O poder atribuído à figura desse profissional, antes quase sobre-humano, tem sido colocado em descrédito".
Ainda assim, uma pesquisa do Datafolha feita a pedido do CFM (Conselho Federal de Medicina) mostra que os médicos são os profissionais em que os brasileiros mais confiam, em 2020, com 35% de aprovação no levantamento realizado entre 15 e 30 de maio.
Toda essa admiração pode virar armadilha. Primeiro para os pacientes, que, confiando de olhos fechados num médico, podem ser enganados por uma bio de Instagram bem elaborada. E depois para os próprios médicos, que acabam virando alvo de críticas. Como a profissão mais respeitada pelos brasileiros consegue caminhar nessa corda bamba?