"Não, mãe, não conta." A filha mais velha do casal interveio, mas a mãe já estava falando. "Eu vou contar. Essa casa, essa família, tudo é sustentado pelo garimpo. Meu marido é chefe de garimpo ilegal."
Ao redor de uma longa mesa de madeira sentaram-se os cinco membros da família e mais alguns amigos garimpeiros. Anoitecera e fizeram um churrasco. Eu, que estava há quatro anos sem comer carne vermelha, aceitei o boi assado por Grande. "A carne do Pará é a melhor do Brasil", ele me disse.
No garimpo ilegal, todos têm apelido. O paranaense Grande é chefe do garimpo e da família que me recebeu muito bem numa noite quente do "faroeste", a região ao redor da rodovia BR-163, que rasga o Brasil de Santarém (PA) a Tenente Portela (RS).
Alguns dias depois da aula teórica sobre garimpo, mineração, Amazônia e Pará, Grande encostou na porta do hotel em que eu estava hospedado. Sua Mitsubishi L200 é completamente desconfigurada. Não tem freio, janela ou lanternas, o farol só pisca, o vidro da frente está todo trincado. Placa, nem pensar. Parecia ter saído direto do filme "Mad Max". O apelido do carro é Cheirosa.
Pedi, e Grande topou que eu passasse quatro dias entocado com ele em seu garimpo manual no meio da floresta amazônica, em uma unidade de conservação ambiental — portanto, terra da União. Grande tem autorização para garimpar: é garimpeiro registrado perante a lei. O que torna seu trabalho clandestino é garimpar onde não deve.
Fotografei o que vi com total liberdade e abertura.