Marina* começou revendendo cosméticos em Juazeiro do Norte (CE), sua terra natal, onde era ajudante de cozinha. Há sete anos mudou-se para São Paulo, mais exatamente para a favela de Paraisópolis, na zona sul. Agora é registrada como empregada doméstica, e transformou um cômodo de sua casa em loja. "Coleciono miniaturas de frascos. Minhas clientes sempre falam: 'tu só vive cheirosa'. Gosto de usar para passar para elas os produtos que são bons."
Nos fins de semana e às quartas-feiras, Marina abre as portas para a clientela. A caminho do trabalho regular, distribui cartão nos ônibus e se comunica com clientes pelo WhatsApp. Quando chega ao serviço, desliga o celular, mas costuma vender "umas maquiagens pra patroa".
Na igreja, deixa uma pilha de catálogos perto das Bíblias e folhetos religiosos. Ela encara esse comércio como um complemento. Antes da pandemia, chegou a lucrar R$ 2 mil em um mês. Com o auxílio emergencial parando, essa renda dela foi a quase zero.
O sistema de vendas diretas existe há mais de 100 anos, e tem legislação própria há cinco décadas no Brasil. A primeira imagem que vem à cabeça são as reuniões de vizinhas para mostrar e vender lingeries ou cremes, em uma típica sala de classe média. Neste século, porém, o mercado cresceu e virou bico ou profissão para um contingente de 4 milhões de pessoas, em um país e uma época em que emprego formal e direito trabalhista viraram perfumaria.