Recebi nesta semana mensagens de desânimo e irritação com as revelações feitas pelo UOL sobre penduricalhos de uma elite do funcionalismo público. Alguns dizem "não aguentar mais", que "não tem jeito". Outros, que tudo o que está aí é podre. Não concordo (e explico no fim do texto), mas dá para entender a frustração. A série de reportagens Brasil dos Privilégios mostrou nesta semana o "auxílio-iPhone" dos procuradores do município de São Paulo. São R$ 22 mil a cada três anos para que comprem celulares e outros eletrônicos —que viram bem privados e não são incorporados ao patrimônio público. A repórter Amanda Rossi narra neste vídeo que o dinheiro bancou até teclado e cadeira gamer (aqueles feitos sob medida para quem joga games no computador). Há alguns anos, os mesmos procuradores haviam reclamado que o iPhone SE dado pelo órgão era "esmola". E teve mais para contribuir com a irritação do leitor: Vantagens a desembargadores aposentados do TJ-SP sobem 1.488% em 5 anos. A média de "vantagens eventuais" passou de R$ 7.089 a R$ 112.544. O tribunal cita pagamentos de retroativos. Já mostramos aqui que, em geral, esses retroativos são novas interpretações da lei feitas pelos próprios juízes de que deveriam ter recebido mais. Enquanto isso, os servidores do TJ-SP estão em greve por não terem tido reposição inflacionária enquanto os magistrados aumentaram seus vencimentos. R$ 13 mi: gasto com hora extra cresce 70% em tribunal eleitoral do Pará. O UOL mostra um descontrole que fez com que funcionários recebessem pagamentos líquidos maiores que os de ministros do STF. Novo penduricalho pode fazer juiz receber até 18 folgas a mais no mês. Saiu no Diário Oficial da União na terça-feira um novo benefício que dará até oito folgas adicionais a juízes federais. Somando com a licença compensatória (dez folgas adicionais) e os fins de semana, chega-se à possibilidade de 26 folgas em um mês. O que acaba acontecendo, na verdade, é a "venda" desses dias, com pagamento acima do teto. Mesmo com tantas mostras de que a concessão de privilégios continua, há também alguns sinais na direção oposta —de que a cobrança da sociedade tem criado barreiras às benesses: O presidente Lula vetou na semana passada trechos de uma lei aprovada pelo Congresso que poderia esconder os dados sobre supersalários de juízes; Lembra do bônus da AGU que o UOL mostrou? Um procurador da República do Distrito Federal pediu a suspensão deles; Depois da reportagem do UOL sobre o auxílio iPhone nesta semana, a deputada Tabata Amaral entrou com representação no MP contra a prática.
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