Sexo da cabeça aos pés: a festa dedicada à podolatria no centro de SP
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Esqueça o bom-tom de não colocar os pés sobre a mesa. Nesta festa na Lurex, na Rua Aurora, no centro de São Paulo, a grosseria é atitude até desejada. Aquele que está com os pés sobre as mesas atrai a cobiça dos demais. São eles o principal foco do encontro, que reúne um público exclusivamente gay nas tardes de domingo, todo mês.
O gosto pelos pés é dos mais amplos. As fantasias, também. Alguns preferem os pés limpos e bem cuidados; outros não abrem mão de um cheiro de chulé. Em um ambiente assim, sempre há uma boca para chupar um pé cansado.
Não é difícil encontrar homens que desfilam pela "São Paulo Foot Fetish Party" com os mais diferentes calçados, de chinelo sem meias a botas, passando por tênis, chuteiras e sapatos sociais. Em alguns casos, a meia faz parte do fetiche — um deles usa um meião longo, daqueles típicos de jogador de futebol.
A abordagem varia. Para alguns, descalçar o pé do parceiro é parte do ritual anterior ao início das chupadas. Inclusive com uma inspirada funda no calçado. Tira-se o calçado e a meia para se chegar ao pé. Terminada a sessão, a meia e o calçado são recolocados. Antes de seguir, vale a pena explicar os termos da prática. Aquele que oferece os pés para serem chupados é tratado como "ativo". O que chupa os pés é o "passivo". Há também os flexíveis, que se interessam tanto por chupar como por terem seus pés chupados.
Lurex tem um salão preto, com portas e cortinas de mesma cor. Um bar logo na entrada vende drinques e bebidas. Mesas e cadeiras de bar, sofás e camas completam a decoração. Para esta festa, é colocado também um pequeno tapete no chão. O som e a iluminação são típicos de danceterias. Próximo aos banheiros, no canto inverso, há um dark room, separado do salão por duas cortinas. Não que exista algo a ser feito no espaço que seja proibido no salão principal, pelo menos nesta festa. Mesmo assim, a privacidade leva dois homens que se beijavam no salão a seguir para lá logo no começo da festa para continuar a pegação com mais privacidade.
Organizador da festa, Jonathan Silva, 29, fica no salão de cueca samba-canção branca, que contrasta com sua pele preta, boné e chinelos. "Geralmente uso uma sunga vermelha", conta. Seu objetivo é garantir que a festa já comece aquecida. São pouco mais de 18h e a previsão de término é às 23h. Primeiro ele dança um pouco, depois senta ao lado de amigos ao redor de uma mesa, tira os chinelos e coloca o pé esquerdo no colo de um deles. O outro começa a acariciar a perna e o pé. Quando começa a chupar e lamber, leva a outra mão para o pau de Jonathan e lhe toca por cima da cueca mesmo.
Um terceiro aproveita o pé direito sobre a mesa e começa a lamber, beijar e chupar. Lambe entre os dedos, chupa, beija e esfrega a sola do pé pelo rosto. A cena serve de estímulo para que a pegação tenha início. "O pessoal começa assim de vez em quando, precisa de um estímulo para se animar mais", comenta Jonathan. Ele afirma que percebeu desde pequeno que era homossexual e apaixonado por pés. "Eu gosto muito, mas tem gente aqui que é obcecada", diz.
Todos os toques
A festa, conta, surgiu da observação de que há vários grupos gays dedicados a esta fantasia na internet, mas não havia uma festa dedicada exclusivamente à prática. A festa é divulgada nesses grupos. Apesar da podolatria também ser comum entre os heterossexuais, ele preferiu se dedicar a um público restrito para não atrapalhar a fluência do sexo na festa. "Muitos dos que estão aqui poderiam ficar constrangidos se tivesse uma mulher no meio", justifica.
Um comissário de bordo que prefere não ter o nome revelado conheceu a festa pelos grupos de redes sociais e costuma frequentá-la sempre que está em São Paulo. Ele conta que muitas vezes destacava seu gosto pela podolatria em aplicativos de relacionamento e encontrava parceiros com a mesma fantasia. "Mas [lá] é uma relação privada, diferente de uma festa dedicada exclusivamente a isto", diz.
Geralmente, a podolatria está presente em festas de BDSM, junto com jogos de dominação. "O frequentador corre o risco de ir lá e não encontrar ninguém que tenha o mesmo gosto que ele. Já fui em muitos que tinham muitos outros fetiches, com cordas, chicotes e velas, mas não tinha podólatras", afirma outro frequentador.
A festa começa a esquentar. O comissário protagoniza outra cena típica: deita no chão com a barriga para cima em um pequeno tapete colocado no salão. Outro homem, sem tirar o tênis, caminha entre o tórax e o abdômen, equilibrando-se em cima do corpo dele.
Um jovem franzino de cabelos longos não se intimida em ser o segundo na maioria das abordagens. Percorre o salão e encosta nas mesas quando já existe alguém chupando um dos pés. Quando se aproxima, começa a tocar no outro pé, diante da aceitação dos demais envolvidos, começa a servir o "ativo". Tira-lhe o calçado e a meia, se for o caso, e começa a chupar, lamber e beijar o pé que lhe cabe. De olho nos gestos do outro "passivo", segue no mesmo ritmo, como se a ação de ambos tivesse de ser simultânea.
De pés servidos para dois, a festa vira uma suruba de pés, com vários deles sendo chupados ao mesmo tempo, de modo que é impossível saber de longe quem está chupando o pé de quem. São até oito homens espalhados em um sofá, com pés na boca e boca nos pés. Parece não haver pés nem bocas livres no meio do movimento.
Nos momentos mais quentes os pés passam a dividir seu protagonismo com outras partes, notadamente os paus. Assim, uns começam a punhetar os outros com os pés e a chupar um pau e um pé e até dois pés e um pau ao mesmo tempo.
Saciados de sexo e de pés, no fim da festa, os últimos sobreviventes da noite buscam uma forma de satisfazer outra necessidade: a fome. A escolha não poderia ser mais paulistana. Seguem para uma pizzaria próxima, na Rua Bento Freitas, para jantar. Desta vez, sem pés nas mesas.
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