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Aba Anônima

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Em minha fase 'peregrina do prazer', transava na rua, na chuva, na fazenda

Adams Carvalho/UOL
Imagem: Adams Carvalho/UOL

Tuca Rocha

Colaboração para o TAB, em São Paulo

06/06/2023 22h00

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Ele entrou todo uniformizado. Boina, bota, pistola na cintura. Batia o cassetete contra sua palma: "Mão na parede que eu vou te revistar". Apalpou minha canela, alisou as coxas e se deteve para um exame minucioso na região da virilha.

Você já pode imaginar que a inspeção exigiu tirar a saia e a blusa. Quando toda minha pele estava arrepiada, ele de repente me jogou na cama. Aí tirou a roupa. A farda cinza ficou pelo chão e ele veio pra cima. O cassetete percorreu todo meu corpo até se esfregar na minha buceta, que naquela hora estava ensopada. E pensar que eu nunca tinha fantasiado uma transa daquela, e tudo tinha começado com um inocente diálogo teclado no computador.

Tuca: E o que você faz da vida?

Sandro: Sou funcionário público.

Tuca: Ah, então vai uma vez por mês na repartição, pendura o casaco na cadeira e recebe o salário... hahaha

Sandro: Não. Eu trabalho nas ruas, inclusive de noite e de fim de semana. Sou PM.

Na hora, congelei e me excitei ao mesmo tempo. Podia dar um tremendo B.O., claro. Mas uma chance dessas dificilmente rolaria na vida real. Além disso, eu teria uma boa história para contar.

Foi do caralho, literalmente. Até por exigência da profissão, Sandro estava em forma e tinha muito mais fôlego que esta sedutora sedentária. Eu adorava quando ele tomava as rédeas, segurava meu cabelo com uma mão e batia com a outra na minha bunda. O cavalão acabava comigo, e eu saía do motel parecendo que tinha levado uma batida policial.

Com os repetidos plantões e os bicos que ele fazia como segurança, a gente foi se vendo cada vez menos. E as folgas dele eram bem nos dias e horários em que eu estava de serviço. A coisa foi esfriando e eu comecei a não responder mais suas ligações e mensagens.

Já estava em outro rolinho quando ele apareceu em frente de casa com a viatura, de giroflex ligado. A gente só tinha se encontrado em bar e motel, e ele descobriu meu endereço lá nas internas da delegacia. Não gostei da atitude dele, achei que queria me intimidar. Fui até simpática diante de seus colegas de ronda, mas depois gravei uma mensagem em sua secretária eletrônica terminando tudo. Pior: ainda tive que inventar uma história de tentativa de assalto para os vizinhos que perguntaram o que tinha acontecido para a Polícia Militar bater em casa.

A realidade é foda

Não era nada fácil manter em dia a safadeza na era analógica — ou seja, até meados dos anos 1990. Na faculdade ou no trabalho, a galera percebia logo as investidas e ficava urubuzando e atravessando "o clima de paquera". O único jeito era quando engatava um romancinho depois de alguma noitada.

Fora a merda do machismo, que na época era mais forte ainda. Se a fama de "galinha" rondava a garota que queria ter uma vida sexual livre, a solução era "ciscar" longe dos círculos de amizade, o que hoje se chama de "bolha".

Tudo mudou quando surgiram a internet e as salas de bate-papo. Depois de digitar umas frases assanhadas no chat de sexo, já íamos conversar "no privado" e trocávamos e-mail, número do telefone e ICQ, o tataravô do WhatsApp que só funcionava no computador.

Confesso que exagerei e fiz muita presepada. Uma vez viajei até o interior de Minas para encontrar um carinha estilo agroboy. Ele me recebeu na rodoviária e me levou de picape para uma fazenda. Atravessando tanto canavial, já teve muito beijo melado e um pega-pega delicioso. Chegando na sede, veio a surpresa: ele me apresentou à sua esposa.

Linda de rosto e corpo, ela era ex-modelo. E voyeur: queria me ver transando com o maridão. Estranhei a situação, quase desisti. Mas era um casal tão simpático e tesudo que combinei que ela assistiria tudo do corredor, pela fresta da porta.

Claro que ela não obedeceu a instrução e, quando a coisa esquentou na cama, ela entrou no quarto já sem roupa. Sentou em uma poltrona e ficou se masturbando. Fiquei excitada como nunca me sentindo observada e inspirando aquela siririca gostosa. Uma hora, até nossos gemidos fizeram um dueto.

Depois daquela sacanagem matrimonial, fizemos uma pausa para o café da tarde, em uma mesa farta com sucos, queijos, bolos e biscoitos. E a gula continuou quando voltamos os três para a cama. No início, nós duas ficamos roçando nele, uma na frente e a outra atrás. De uma hora pra outra, o jogo virou, e os dois me cobriram de carícias. Gozei um tempão com eles me chupando e me comendo.

A tarde já terminava quando me levaram de volta para a rodoviária como se eu fosse uma visita há muito tempo esperada — até acenaram da plataforma quando o ônibus partiu. Já na estrada fiquei pensando: se fosse um casal serial killer, me matava no meio daquele mato e ninguém saberia meu triste destino.

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Imagem: Adams Carvalho/UOL

Na época não tinha câmera de segurança pra todo lado e se viajava sem nem apresentar identidade. Fora isso, o smartphone não tinha sido criado, muito menos seus aplicativos de sexo com conexão nas redes sociais e geolocalização, para saber o mínimo possível com quem você estava se metendo.

Depois fui me acostumando com esses trios e assumindo de vez meu lado bi. Teve ménage em Santa Catarina, Rio de Janeiro e até no Espírito Santo. Se fosse litoral, minha libido disparava com a chance de transar em alguma praia deserta ou no mar mesmo.

Foram vários casos legais. Em outros, só decepção, ainda mais depois de horas e horas de estrada. O problema também era que, com tanta viagem, já estava devendo no cartão de crédito e no cheque especial.

Pizza, pó e putaria

A fase "peregrina do prazer" foi seguida por uma fixação (mais em conta) por casos na periferia — de preferência, bem longe de onde morava. Tem gente que monta currículo sexual por nacionalidade ou cor. Na época, minha especialidade eram os bairros populares.

Teclei com o Anderson, dono de um corpinho de instrutor de musculação, e já no fim de semana rolaram umas cervejas e um motelzinho na avenida Aricanduva. Era mais baixo que eu, mas todo troncudo. E, de cara, quis me impressionar. Fez várias posições atléticas. Para cada uma, reservava dezenas de bombadas como se tivesse fazendo sua série obrigatória — não sei se ele não tirava o olho do espelho para ver se o movimento estava correto ou se era puro narcisismo. Além disso, me carregava de um lado pro outro no quarto, da banheira pro sofá e depois para a cama, aproveitando para me comer de pé no caminho.

Depois do pernoite caliente (o ar-condicionado pifou, a janela do quarto era mínima, e aquele sexo circense nos empapou de suor), estava tão caridosa na manhã seguinte que até me ofereci a levá-lo para casa.

O problema é que ele só andava de condução e não tinha o mínimo senso de orientação. Resultado: tivemos que perseguir o ônibus que ele pegava diariamente, parando em todos os pontos no meio do trânsito infernal de segunda-feira. Quando começou a estrada de terra, brequei o carro, dei um beijo no rosto dele e disse "tchau". Ele saiu pra nunca mais.

Teve também a aventura com o José Carlos, um dono de pizzaria pra lá de Interlagos, que nas horas de pouco movimento ia numa lan house vizinha conversar comigo. Pintudo e linguarudo esse Zé. Narrava a transa toda. Começava estilo manobrista ("Volta, aí, fica aí, agora do outro lado"), cuspia vulgaridades com naturalidade ("Toma, sua cadela; tá gostando, sua putinha?") e terminava parecendo um coach ("Isso, vai com tudo, não para"). Eu gozava sempre — principalmente quando ele ficava quieto e me lambia (o pilantra do Zé chupava como uma mulher).

Depois de um mês juntos, ele passou a não me responder mais. Decidi ir até a tal Cidade Dutra. Era uma noite de sexta, e a pizzaria estava fechada. Estranhei e fui perguntar na lan house. Veio a notícia: tinham trancado o Zé Carlos. O telepizza dele era só fachada para vender cocaína e maconha. E nessa hora meu nome e número de telefone já estavam com a polícia, quem sabe com o Sandro, descobrindo onde eu tinha ido parar com meu tesão frenético.

Mas a roubada que me fez desistir da putaria digital foi quando descobri que uma foto minha caiu em um blog de pornografia. A imagem, que eu anexava nos emails como credencial de meus atributos físicos, mostrava em primeiro plano minha bunda, bem lustrosa com o flash espocando nela. O que eu não me dei conta de cara é que sobrou luz para iluminar no fundo um pedaço do meu rosto, facilmente reconhecível. Foi o Anderson que tirou a foto. E pode também ter sido aquele sacana mal-agradecido que mandou meu corpo pixelado para aquele site.

Fiquei com uma puta neura da minha família e dos colegas de firma ficarem sabendo de minha vida dupla (e tripla). Ainda bem que naquela época não tinha começado a febre das redes sociais: eu teria virado meme em um instante.

Hoje em dia, minha sacanagem está domesticada: só com o mozão, aproveitando que os filhos estão na escola e caprichando no papai com mamãe, cachorrinho e, no máximo, um frango assado. As putarias dos primórdios da internet parecem lembranças de outra encarnação ou era geológica. E não adianta tentar procurar minha bunda no tal blog. Se digitar o endereço, aparece "not found".