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Na festa gay 'Dando', pegação de casal hétero faz todo mundo gozar

Adams Carvalho/UOL
Imagem: Adams Carvalho/UOL

Mateus Araújo

Do TAB, em São Paulo

25/07/2023 22h00

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Era um casal discreto, desses que sobem até escada de mãos dadas e trocam apelidos clichês de namorados de primeira viagem. De longe, pareciam viver as mais românticas aventuras de pombinhos apaixonados. Recém-entrados na vida adulta, porém, explodiam de hormônios e audácia.

A menina branca e franzina anda como quem paira sobre o chão, na ponta do pé. Já o rapaz, um surfista de pele bronzeada, estufa o peito como que para marcar território, com a petulância própria da juventude.

Naquele sábado à noite, os dois saíram para uma aventura sexual coletiva. A ideia era dar para todo mundo ver no meio da "Dando", festa de sexo voltada ao público gay — e quem mais quiser juntar.

Menos é mais

"Vai precisar de chapelaria?", perguntava um indivíduo simpático na bilheteria. Criada em 2010, a Dando é uma das festas de sexo mais conhecidas da noite paulistana. Acontece mensalmente em endereços vários — mas mais frequentemente numa casa de shows da Bela Vista, região central da cidade. Uma longa fila se organizava na portaria.

O imenso guarda-volumes é o primeiro indício de que ali a regra é "menos é mais". Um rapaz alto e magro, todo tatuado, despiu-se imediatamente ao lado do balcão, ficando apenas de cueca e tênis. Logo atrás e ao lado dele, outros faziam o mesmo.

Um, em especial, chamava atenção. Equilibrando-se em um salto alto de 15 centímetros, que eleva seu 1,86m para quase 2, o careca barbudo ajeitava a minúscula calcinha fio-dental antes de entrar. Tinha coxas grossas e peludas e deixava a bunda volumosa absolutamente à mostra. Aquele tamanhão atraía todos os olhares.

Mais adiante, três rapazes usavam máscaras de cachorro, símbolos de submissão no sadomasoquismo, e um cinto de couro com argolas de metal. O tecido preto brilhava. A pouca roupa é o "dress code" da noite.

A pulsação

Uma escadinha leva o público a um tal "universo noturno de liberdade sexual" da Dando. Feixes de luzes brancas e vermelhas, típicas de baladas, cruzam a escuridão do ambiente que vibra em um ritmo frenético de música eletrônica. A pulsação é contagiante e varia da sensualidade à ligeireza.

Quando os olhos se acostumam ao breu, é possível ver no palco, ao lado do DJ, performers se apresentando, reluzindo com brilhos e cor em roupas extravagantes. A multidão, em êxtase, mistura corpo, suor e saliva, aos beijos.

Três homens, encostados numa parede ao fundo, observavam a pista com olhos de lince. Um dos códigos da paquera na balada diz que quem te encara por mais de quatro segundos quer coisa. O mais robusto deles, ao achar seu primeiro alvo, desabotoou a camisa sem pestanejar, acariciando o peito vigoroso com os dedos.

"Tem uma galera tipo The Week", avaliava outro rapaz, enquanto olhava aquele trio, num misto de crítica e admiração. A The Week em questão foi uma boate de São Paulo que ficou conhecida por seu público característico de homens gays fortes, altos e que adoravam ficar desnudos, exibindo a forma talhada em academias. "Templo" dos gays "padrão", como costumam ser chamados, a casa de eventos fechou em 2021, 17 anos após sua inauguração.

A presença desses "novos" frequentadores da Dando, por um lado, desvia a ideia inicial da festa, que é justamente a de celebrar corpos fora da norma hegemônica. "Mas tudo bem, tem espaço para todo mundo, né?", completa o moço, rindo. Por outro, fez aumentar ainda mais o público, que nas edições mais lotadas chega a receber mais de 2.000 pessoas.

É comum que os frequentadores da Dando se conheçam. "Tem um público fiel. As pessoas que curtem sempre vêm. É mensal, então se torna um evento fixo para a gente", explicava o rapaz.

Ali tudo é permitido. Não há impedimento para quem quiser transar na pista. A pegação pode ser a dois, a três ou quantos couberem. Há camisinhas e lubrificante espalhados por vários ambientes da casa. A única regra, entretanto, é não assediar ninguém. Os seguranças e a produção circulam pelo evento disponíveis a ajudar quem precisa, se for o caso. "Não é não", diz o cartaz de divulgação do evento. Os organizadores também alertam: "Qualquer ato de transfobia, misoginia, racismo ou qualquer tipo de preconceito não será tolerado". Quem descumpre pode ser retirado imediatamente da festa.

"Eu adoro isso aqui", dizia o rapaz, antes de meter a língua na boca de um homem que passava próximo. "Acabou de me leitar", explicava, ao se recompor do beijo. Poucos minutos antes, eles haviam feito sexo oral no banheiro.

Performances

À uma e meia da manhã, uma bandeira gigantesca, amarela, despencou do teto, transformando-se num mural com a frase "não passarão homofóbicos, sexistas, fascistas e racistas". É a primeira performance da noite. Dali em diante, até as 8h30, pelo menos sete apresentações acontecerão — entre elas, a de um coletivo teatral, cujos artistas fazem piruetas pendurados em ferragens no teto do salão.

A festa esquenta ao longo da madrugada. Quanto mais as horas passam, mais excitado fica o público.

O casal reaparece no meio da multidão, por volta das três da manhã. Agora mais desinibidos do que quando chegaram, cada um segurando um copo de bebida. Novamente de mãos dadas, eles sobem uma nova escadaria, dessa vez levando-os aos dois mezaninos da casa de shows, onde se encontra o "dark room".

No meio do caminho, deparam-se com um rapaz se masturbando à vista de todos, exibindo o pênis, como um convite fortuito. Eles observam a cena, sorriem e seguem adiante.

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Imagem: Adams Carvalho/UOL

A plateia

Àquela altura, o dark room fervia. Depois da escada, a penumbra dificultava a visão perfeita, mas o que se escutava era suficiente para entender a situação: são gemidos, beijos, cintos desabotoando e batidas de pele.

O casalzinho foi procurar um lugar bem no meio do bacanal. Eram os únicos héteros no meio dos gays. No impulso da vizinhança, o rapaz começou a beijar a namorada. Deslizava a boca até seu pescoço e, enquanto a chupava, olhava ao redor. Ainda mais eufóricos, roçavam-se efusivamente.

O menino então levou uma mão até os peitos da menina, baixou um lado da blusa dela e passou a roçar um dedo no seu mamilo. A outra mão apertava a bunda. A moça se curvava pelo parapeito, esfregando sua pelve no namorado. Um gemido mais alto chamou atenção de quatro rapazes que se aproximaram para assistir à cena. Era o que eles queriam.

O namoradinho, centro das atenções, tirou a camiseta e abaixou a calça. Exibia sem pudor o membro enrijecido. Mostrava orgulhoso o corpo liso, torneado. Sorria para os espectadores, mas ninguém ousou tocá-lo. Assim voltou a lamber o mamilo da namorada e enfiou-lhe a mão entre as pernas. Minutos depois, colocou-a de costas, levantando um pouco a perna, e a penetrou por trás. A moça torcia o pescoço, com prazer. Gozaram os seis.

Passava das 4 horas da manhã quando o jovem casal hétero saía junto do banheiro da Dando. Estavam recompostos, com um leve sorriso no rosto. Àquela altura, a festa fervia.

Agarradinhos e bêbados, foram até a chapelaria pegar de volta a mochila que haviam guardado na entrada. Era o fim da festa para os dois, ápice para os que continuavam lá dentro. O casalzinho tinha experimentado mais uma de suas aventuras e explosão de hormônio e audácia.

SERVIÇO
Festa Dando (@festadando): Periodicidade mensal. Local: Pode variar, mas geralmente ocorre na rua João Passalaqua, 80, Bela Vista, São Paulo. Ingressos de R$ 40 a R$ 110 (quanto mais perto da data da festa, mais caro).