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'Um monte de macho se pegando': sexo rola solto na Tontura, em Teresina

Adams Carvalho/UOL
Imagem: Adams Carvalho/UOL

Vitória Pilar

Colaboração para o TAB, de Teresina

12/09/2023 22h00

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São quase 2h da manhã quando o motorista de uma picape prata entra na rua 13 de Maio, centro de Teresina, e dá a volta no quarteirão. Faz a manobra quatro vezes, até decidir saltar na estreita calçada do Colégio Diocesano São Francisco de Sales — tradicionalíssima escola católica da capital piauiense — e praticamente nos fundos do BPRE (Batalhão de Polícia Rodoviária Estadual). Ali, atrás de frondosas árvores de oitis, um grupo de seis homens se aglomera com os pênis para fora, se masturbando e se beijando na boca. Alguns falam sacanagens baixinho.

O condutor da picape se aproxima tranquilamente, fumando um cigarro. Então, se ajoelha no chão e pronuncia poucas palavras. Imediatamente, os seis homens se enfileiram para receber sexo oral do desconhecido. Deliciosos minutos depois, ele volta para o carro e vai embora.

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Imagem: Adams Carvalho/UOL

Essa é uma cena de rotina no trecho de rua mal iluminado que ganhou o sugestivo nome "Tontura". Todas as noites, o entra e sai de veículos com os faróis baixos dá o tom no quarteirão formado pelas ruas Barroso, Félix Pacheco e São Pedro. Homens a pé, de moto e até de bicicleta também chegam para participar da pegação.

Estima-se que a Tontura exista há mais de três décadas como ponto de encontro de homens gays em Teresina. No final dos anos 1980, o lugar já era um "ponto quente" onde homens se encontravam para um "after" sexual em grupo.

"As bichas andavam tanto pra encontrar um lugar seguro e se pegar que ficavam tontas de tanto dar voltas", explica o apelido um ex-frequentador do local, Mário*, hoje casado, e que foi um dos pioneiros da sacanagem na rua.

O Grindr — conhecida rede social para homens homossexuais — ainda não existia, mas o boca a boca bastava para garantir um animado quórum. Ao longo dos anos, mesmo com o aumento de dependentes químicos e pessoas em situação de rua, o ponto se manteve: "Os 'cracudos' mexiam com as mulheres, que eram um alvo fácil. Agora, um monte de macho, com o tesão à flor da pele, quem é doido de peitar?", diverte-se Diego*, outro veterano da Tontura.

Ao longo da calçada, diferentes grupos de homens se distribuem em "panelinhas" onde rola de tudo, sexo ou masturbação anal, boquete, beijo triplo e até show de striptease. Enquanto os carros passam trazendo novos participantes, ficam de olho uns nos outros para saber em que grupo a brincadeira está melhor. Os mais animados não se limitam ao oral: abaixam a cueca, passam lubrificante e encaram uma rapidinha ali mesmo.

"Um bom grupo é aquele que acontece tudo isso, ao mesmo tempo", ensina Diego. "A adrenalina é muito maior quando tem um monte de macho se pegando."

Há também quem vá à Tontura sem encarar o "banheirão" — só para saber se há alguém interessado em ir a outro canto. O destino final destes são geralmente os pequenos hotéis no entorno das ruas, onde a hora custa de R$ 10 a R$ 20. Para os motorizados há sempre a opção do banco traseiro dos carros.

Outros, ainda, não partem para a interação e se masturbam até gozar vendo a movimentação dos desconhecidos. Alguns dentro dos próprios carros, com as portas abertas, para garantir uma visão privilegiada. Alguns, quando perto de gozar, perguntam se há interessados em receber uma gozada na cara ou engolir tudo. Não costumam faltar pretendentes.

Paulo*, um publicitário de 31 anos, frequenta a Tontura há dez anos. Na sua primeira ida, presenciou de cara uma batida policial. A pé, conseguiu correr na direção contrária da viatura para não ser pego. Pensou em nunca mais voltar, mas, diante de tantas delícias, retornou uma semana depois.

Ele conta que, uma ocasião, um grupo de três homens se refestelava quando ele chegou. Dois estavam ajoelhados, chupando ao mesmo tempo um outro que estava de pé. Vendo a cena, o seu pênis pareceu explodir dentro da calça de tanto tesão. Enquanto um dos homens recebia um jorro de sêmen no rosto, Paulo se ajoelhou para participar da brincadeira também. Enquanto fazia um boquete com movimentos acelerados, se masturbava.

A situação durou mais ou menos vinte minutos, entre boquetes e tentativas de sexo anal. Um dos desconhecidos chegou a ficar encostado na parede, com a bunda empinada, implorando para que ele enfiasse tudo. Paulo até tentou, mas a falta de lubrificação impediu a penetração. Quando já estavam todos exaustos da adrenalina, Paulo, louco para meter em alguém, escolheu o rapaz mais alto e mais bonito, para irem a pé até um hotel.

O publicitário conta que ficou tão fissurado com o lugar que chegava a ir de quatro a cinco vezes por semana. Em uma outra dessas ocasiões, entrou em um automóvel que estacionou e só então reconheceu o motorista, um velho conhecido seu. O rapaz, que era casado com uma amiga do publicitário, tomou um susto e implorou para que Paulo não o denunciasse à esposa. Ele topou, mas com a condição que eles se comessem "aquela noite".

Antes de irem ao motel, fez questão de colocar o casado para mamá-lo, ali mesmo, no meio da rua. "Se não engolir tudo, vou contar para tua mulher", brincou. Desse primeiro encontro, rolaram muitos outros. "Ver aquele homem tão certinho implorando para eu não contar o segredinho dele me dava ainda mais tesão", conta Paulo, às gargalhadas.

Hoje mais contido, o publicitário diz que vai à Tontura somente aos finais de semana. E diz que o tesão arrepia os pelos do corpo quando ele imagina encontrar um outro conhecido mais uma vez. Escondido, é mais gostoso.

*Nomes fictícios para proteger identidades