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amor à camisa

Como o uniforme da seleção brasileira de futebol se tornou um símbolo político

Crédito da imagem: UOL TAB

O escritor gaúcho Aldyr Schlee (1934-2018) tinha 18 anos, em 1953, quando venceu um concurso do jornal Correio da Manhã para a escolha do novo uniforme da seleção. A ideia era superar o trauma do Maracanazo

A ORIGEM DO MITO

Vestida de amarelo, e não mais de branco, a seleção foi campeã da Copa do Mundo de 1958. A partir daí, a camisa da seleção passou a ser símbolo do Brasil vencedor. O auge dessa associação aconteceu durante a ditadura militar, pós-Copa de 1970

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O general Emílio Garrastazu Médici, que governou o país entre 1969 e 1974, era um grande fã de futebol. Torcedor do Grêmio e do Flamengo, ia ao estádio e levava um radinho de pilha. Na Copa de 1970, Pelé ergueu a taça ao lado do presidente

Arte/UOL

A cor amarela foi a marca da campanha das Diretas Já, no início dos anos 1980 -- sem o brasão da CBF. Entre 2015 e 2016, a camisa foi usada por manifestantes que pediam o impeachment de Dilma Rousseff. Em anos mais recentes, ela passou a simbolizar a polarização política 

Crédito da imagem: UOL TAB

Oportunistas se apoderam da camisa como se ela fosse uma representação deles, mas ela não é ligada a partido ou movimento algum

Walter Casagrande Júnior, comentarista e ex-jogador de futebol 

A camisa, no entanto, pesa na construção da identidade dos movimentos de rua. Ela transcendeu o futebol por uma razão simples: o esporte é fundamental no nosso cotidiano, e a camisa é o único símbolo pátrio que temos em casa

Crédito da imagem: Gabo Morales/UOL

O uniforme é um símbolo que representa o país como um todo, não a confederação que está no escudo

Daniel Buarque, jornalista, escritor e pesquisador da King's College de Londres

Usar a camisa para se posicionar politicamente parece hipócrita, uma vez que a CBF esteve envolvida em tantos escândalos, mas a contradição não faz sentido na prática

Crédito da imagem: UOL TAB

Nas manifestações na Avenida Paulista, a patuleia branca de camisa da CBF era uma contradição estupenda. Era um brado contra a corrupção, mas só por quem não participava da festa, porque a corrupção dos de sempre é aceita" 

Juca Kfouri, jornalista
e colunista do UOL

Pesquisadores relacionam o uso da camisa da seleção e a cor amarela ao sentimento de patriotismo e de nacionalismo, dois conceitos que têm pontos de conexão, mas são associados a espectros políticos diferentes 

Crédito da imagem: UOL TAB

O nacionalismo está identificado com uma concepção política, de defender a soberania nacional, com um viés mais à esquerda aqui, enquanto o patriotismo, a valorização do lugar onde se nasceu, é mais historicamente associado à direita 

Chico Alencar, professor e ex-deputado federal pelo PSOL-RJ

Durante a Copa de 2018, uma designer criou uma camisa "alternativa" para as pessoas de esquerda, com uma foice e um martelo e na cor vermelha. A artista foi notificada pela CBF e deixou de comercializar a "camisa comunista"

Divulgação

A última aparição cívica da amarelinha aconteceu em maio de 2020, nos protestos a favor do presidente Jair Bolsonaro e contra medidas de contenção da Covid-19

Estadão Conteúdo

Movimentos antidemocráticos e o populismo nacionalista crescem pelo mundo, vestido de extremismos. E a camisa amarela, que no passado simbolizava a torcida unificada do país, segue dividindo

Adriano Vizoni/Folhapress

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Edição

Olívia Fraga

Reportagem

Jardel Sebba e Letícia Naísa

Publicado em 24 de outubro de 2020.

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